Prefeitos da região metropolitana de São Paulo cobraram ontem do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), um plano para enfrentar a crise hídrica e pediram ao governo estadual mais transparência e responsabilidade.

 

Querem que Alckmin apresente medidas para garantir o abastecimento e enfrentar os problemas nas áreas de saúde e segurança decorrentes da adoção de um rodízio de água para breve.

Liderados pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), 21 prefeitos e representantes de 33 prefeituras reuniram-se ontem por quase três horas com o secretário de Recursos Hídricos, Benedito Braga, para pedir ações imediatas.

"A reivindicação é para efetivamente enfrentar com responsabilidade o momento que estamos vivendo", disse Haddad.

Prefeitos querem fiscalizar de perto as ações de Alckmin e apresentaram três propostas. A primeira é a criação imediata de um plano de contingência, que diminua a consumo, garanta o abastecimento de hospitais, escolas, penitenciárias e outros equipamentos e que traga medidas para lidar com os problemas nas áreas de segurança e saúde pública. Os prefeitos temem que aumente o número de doenças provocadas pela água impura e os casos de violência.

A segunda proposta é a criação de um comitê de enfrentamento da crise, com a participação dos presidentes dos conselhos metropolitanos, do prefeito da capital e do governo de São Paulo, para monitorar diariamente o nível de chuvas e o consumo, além de acompanhar as ações da gestão estadual.

A terceira é a implementação de um plano de comunicação para explicar à população a dimensão da crise e comunicar as medidas adotadas, como o racionamento. "O cenário de dois, três meses atrás divulgado pelas autoridades era de que não faltaria água", disse Haddad. "Esse cenário não se confirmou e muita gente está desavisada sobe a severidade da crise."

Os prefeitos reclamaram da falta de acesso à informação e disseram ter a imprensa, e não o governo estadual, como fonte de informações sobre o racionamento.

Foi o primeiro encontro dos prefeitos com o governo estadual para debater a crise. Segundo Haddad, houve outros pedidos de reunião, todos negados ou cancelados pelo Estado.

Os prefeitos debateram também a criação de leis municipais para punir pessoas que desperdiçam água lavando carro e calçada, por exemplo. Alckmin pediu aos prefeitos um projeto de lei nesse sentido. Mas a medida tem alcance limitado, disse Haddad.

Segundo o prefeito da capital, o secretário estadual se comprometeu a dar uma resposta às demandas em dez dias. Na reunião, Braga disse que o governo trabalha com o pior cenário e não descartou o corte de água por cinco dias na semana, como cogitado na véspera.

"A situação é difícil, sem dúvida nenhuma, mas não há necessidade para ficar em desespero porque as informações serão dadas se esse sistema tiver que ser implantado", afirmou Braga. Segundo o secretário, o corte não será feito "do dia para a noite", porque é preciso que a Sabesp faça obras para garantir o abastecimento de equipamentos públicos como hospitais.

Ao ser questionado sobre o motivo de o governador - reeleito no ano passado- ter anunciado essas medidas só agora, apesar de o Estado enfrentar desde 2014 a falta de chuvas, o secretário afirmou que "ninguém previa" esse cenário. "É situação que está colocada. Você vai tomando medidas 'adaptativamente' ", disse. "Nenhum hidrólogo, nenhum meteorologista previa uma situação de chuvas 20% da média. É uma situação muito complicada", afirmou Braga.

O secretário disse ainda que não consegue ter uma previsão se a crise hídrica vai piorar. "A previsão meteorológica está muito difícil", disse. "Não temos o conhecimento perfeito da chuva que vai acontecer".
 
Após encontro de Dilma com governadores, União promete socorro a Estados 

 

 

A presidente Dilma Rousseff reuniu-se ontem com os governadores de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), e do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB, para discutir a crise hídrica. O governo federal reconhece que a crise de abastecimento de água, que afeta São Paulo desde o ano passado, alcança todo o Sudeste, e escalou ministros para anunciar que prestará socorro aos Estados.

O Valor apurou que o Palácio do Planalto preocupa-se também com os reflexos políticos da crise hídrica nos Estados administrados pelo PT e PMDB.

Ontem, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que o governo dará o "apoio necessário" para garantir a execução de obras de segurança hídrica de emergência em Minas Gerais. Na última sexta-feira, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, declarou que o governo não medirá esforços para assegurar a oferta de água para a população.

Pimentel admitiu que a crise hídrica "é grave", e que a situação no norte do Estado "beira o colapso". Ele adiantou que cobrará sobretaxa dos consumidores que excederem a média anual de utilização da água. Disse que o consumo precisa ser reduzido em 30% nos próximos três meses, sob pena de se implantar rodízio, e na etapa seguinte, racionamento.

Ele não respondeu se houve "negligência" da gestão anterior, do então governador e senador eleito, Antonio Anastasia (PSDB), mas afirmou que o cenário era conhecido há um ano. Disse que a companhia de saneamento estadual (Copasa) recebeu alertas da Agência Nacional de Águas (ANA) e "deixou de tomar as medidas necessárias".

Barbosa anunciou que o governo federal vai liberar recursos para uma obra de emergência que ampliará a captação de água no Rio Manso, que abastece a região metropolitana de Belo Horizonte, e beneficia pelo menos cinco milhões de pessoas.

Pezão disse que o consumidor fluminense não precisa se preocupar a curto prazo com possibilidade de sobretaxas ou racionamento, mas ressaltou que "se não chover o esperado até abril, ou maio", agrava-se a situação do Rio.

Como medida de socorro ao governo de São Paulo, o governo federal incluiu a obra de interligação do reservatório Jaguari (RJ)-Atibainha (SP) no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que garante o não contingenciamento dos recursos.

O governo escalou uma comissão de sete ministérios, liderada pela Casa Civil, para monitorar, semanalmente, a evolução das chuvas e da crise hídrica.