Com uma série de indicadores econômicos que apontam para um ano ainda mais difícil em 2015 e uma inflação bem acima da meta já dada como certa, economistas começam a pensar em estratégias para estancar um estrago que pode tomar proporções de uma dura recessão. Uma delas poderá vir da autoridade monetária: já há quem espere não só um movimento menos conservador do Banco Central em seus próximo passos, como até mesmo a possibilidade de queda dos juros antes que o ano acabe.

Para Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, diante de dados de atividade mais fracos, indicadores de confiança que não reagem, racionamento de água e riscos em energia, a autoridade monetária olha com mais cuidado a atividade econômica, apesar de a inflação corrente ainda se manter em um nível muito alto. À espera da ata da última reunião, a ser divulgada hoje, Solange revisou suas projeções para a Selic no fim de 2015, de 13% para 12,5% ao ano. Ou seja, apenas mais um alta de 0,25 ponto na próxima reunião, com chances concretas de queda da Selic até o fim do ano.

"Independentemente de racionamento, se a situação econômica não melhorar nos próximos três, quatro meses, a chance é grande de o BC se inclinar a baixar o juro já no fim deste ano", diz Solange, que espera uma queda de 0,5% para o PIB em 2015, algo que, segundo ela, deve logo aparecer no Focus.

Este também é o cenário de Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora, para quem o BC vai elevar os juros em 0,25 ponto em março apenas por uma questão de "etiqueta", já que a autoridade monetária geralmente comunica de forma explícita quando um ciclo se encerra. "Tudo leva a crer que o ciclo de alta vai terminar em março em razão da atividade em queda livre", diz Gala. Justamente por isso, Gala espera que, no último trimestre, os juros sejam cortados também em 0,25 ponto, encerrando 2015 em 12,25% ao ano.

Ele prevê que o ciclo de relaxamento monetário continue em 2016. Em seu cenário base, ainda preliminar, a Selic chegará ao fim do próximo ano em 10,5% ao ano. Reforçam essa visão, de acordo com Gala, o choque deflacionário da economia mundial, com redução dos preços das commodities e do petróleo, a postergação da alta de juros nos EUA e a trajetória ruim da economia doméstica.

Para Maurício Molan, economista-chefe do Santander Brasil, o risco da atividade econômica entrar em uma contração mais forte é muito grande. Assim, diz ele, no que se refere à política monetária, não haveria necessidade de apertos adicionais. "Acho que existe já contratada uma estagnação ou variação negativa do PIB nos próximos trimestres, o que tende a ser suficiente para colocar a inflação numa trajetória de queda em algum momento", diz Molan.

Para o economista, o que deve levar a autoridade monetária a um derradeiro gesto de alta de juro neste ano - mais 0,25 ponto na próxima reunião - é a intenção de manter a vigilância para controlar as expectativas de 2016. "Na medida em que se observar sinais mais contundentes de risco de recessão e possibilidade de contração de crédito, as expectativas para 2016 devem ficar mais ancoradas."

Os economistas Ilan Goldfajn e Caio Megale, do Itaú Unibanco, argumentam que, ao adotar um comunicado lacônico na última reunião, o Copom até deixou as portas abertas para mais uma alta de 0,5 ponto da taxa Selic no próximo encontro. No entanto, Goldfajn e Megale ressaltam, em relatório, que o "significativo" ajuste fiscal em curso e indícios de que a inflação de serviços está começando a desacelerar devem levar o BC a reduzir esse ritmo de alta de juros para 0,25 ponto em março, parando por aí.

Também em relatório, a LCA Consultores afirma que, com a ameaça de que a inflação rompa o teto da meta pela primeira vez em dez anos, era de se esperar que o Banco Central promovesse um aperto monetário maior que o previsto. Na ponta mais conservadora, a consultoria trabalha com mais uma alta de 0,5 ponto no juro básico, levando a taxa Selic a 12,75% ao ano, nível que deve ser mantido em 2015 e em boa parte de 2016.

Ainda assim, os economistas da LCA avaliam que a autoridade monetária deve "jogar a toalha" em relação à inflação em 2015, embora não deva anunciar explicitamente que renunciou ao cumprimento da meta no período. Para eles, entre os fatores que indicam que essa será a decisão tomada pelo BC estão o desempenho "anêmico" da economia; a percepção de que a política fiscal está entrando em terreno contracionista; o significativo aperto monetário já promovido e, por fim, a descompressão das expectativas inflacionárias para 2016, já começando a ceder.

"O próprio governo já está assumindo que a inflação deste ano será alta. Quando ele fala que vai trazer a inflação para a meta em 2016, já está pressuposto que ela não ficará na meta em 2015", diz Bruno de Conti, professor do departamento de economia da Unicamp. Já Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC de São Paulo, diz que a estratégia de política monetária mais prudente em momentos de incerteza como o atual é "esperar para ver". Para ele, aumentos de juros são inócuos para controlar pressões inflacionárias originadas em choques de oferta.

"O juro não vai mudar o preço da energia. É um remédio equivocado que só vai trazer mais distorções", diz Lacerda, para quem a forma correta de combater a alta de preços seria ampliar a capacidade de oferta, com estímulos ao investimento produtivo. Conti, da Unicamp, também acredita que há um contrassenso em controlar a inflação restringindo a demanda em um contexto de forte desaceleração da economia, no qual as pressões de salários não serão mais tão significativas. A revisão nas regras do seguro-desemprego também pode ter influência sobre a renda dos ocupados. "Os trabalhadores que ficarão sem seguro podem aceitar salários mais baixos", diz.

Para André Braz, economista da FGV, uma última alta da Selic de 0,25 ponto seria razoável, já que outras medidas devem ter impacto sobre a demanda. Mas parar de subir os juros antes disso, diz ele, não seria o mais acertado, diante da expectativa de mais aumentos das tarifas públicas. "É melhor administrar o remédio agora e colher os frutos o mais rápido possível".

 

Inflação do primeiro trimestre pode ser “ponto fora da curva”, diz Tombini

A inflação do primeiro trimestre de 2015 pode ser “um ponto fora da curva”, segundo o presidente do Banco CENTRALALEXANDRE TOMBINI.

 

De acordo com o economista, já em janeiro o aumento do custo de vida pode bater na faixa de 1%, ante os 0,78% registrado em dezembro de 2014.

 

TOMBINI fez a previsão na primeira reunião ministerial do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, realizada terçafeira.

 

O presidente do BC, no entanto, disse confiar que as medidas tomadas pelo governo federal recoloquem a inflação em direção ao centro da meta.

 

O presidente do BC fez uma análise sobre a crise na Europa e nos EUA. Segundo o que dois ministros presentes à reunião contaram ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, o presidente do BC mencionou o “ponto fora da curva” ao falar sobre as perspectivas do ajuste.

 

A possibilidade de a inflação bater em 1% em janeiro já faz parte das estimativas do mercado, que projeta 1,2% em janeiro e 1% em fevereiro.TOMBINI, no entanto, está otimista. Ultrapassado o primeiro trimestre, acredita que a trajetória deve se inverter em direção ao centro da meta.

 

O Valor apurou que outra manifestação importante foi do ministro da Previdência, Carlos Gabas, que forneceu argumentos para que os colegas defendam a medida provisória que altera as regras de concessão de benefícios trabalhistas e previdenciários.

 

A MP é alvo de críticas de centrais sindicais e até mesmo de integrantes da base aliada.

 

A portas fechadas, a presidente reiterou a orientação que fez no discurso de abertura da reunião, transmitido pela emissora oficial, para os ministros darem atenção especial às relações com o Congresso, onde será negociada a MP. Dilma pediu que os ministros não criem expectativas que não possam ser cumpridas, pois isso causa desgaste para o governo federal.

 

Na mesma reunião, a portas fechadas, a presidente Dilma disse aos ministros ser preciso “compreender o momento e que ele é um momento transitório”. Nelson Barbosa falou também sobre as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

 

Uma junta integrada pela Casa Civil, Fazenda e Planejamento fará a arbitragem das liberações de recursos do Orçamento da União. A presidente pediu para os ministros não iniciarem novas obras que não estejam no planejamento do governo.

 

Confiança da indústria sobe este mês, mas construção espera 2015 difícil

 

O aumento de 1,9% do Índice de Confiança da Indústria (ICI) entre dezembro e janeiro, na série com ajuste sazonal, é um indício de que a indústria conseguiu realizar ajustes de produção no último trimestre do ano passado e iniciar 2015 em um tom um pouco menos pessimista. "É um patamar baixo, mas um pouco acima do fundo do poço", avalia Aloisio Campelo, superintendente-adjunto para ciclos econômicos da Fundação Getulio Vargas (FGV).

 "Desde setembro, quando a confiança ficou no nível mais baixo no período recente, o que piorou no cenário em termos macroeconômicos, como sinalização de ajuste fiscal e pressão de custos, parece ter sido compensado por fim das incertezas ligadas às eleições, câmbio mais desvalorizado e certo ajuste de estoques", afirma Campelo. Para ele, porém, "o preço da melhora da confiança foi desaceleração da produção" entre outubro e dezembro do ano passado.

 Segundo a Sondagem da Indústria, a principal melhora se deu nos componentes sobre a avaliação da situação atual da indústria, com alta de 2,1% em janeiro, recuperando em parte a queda de 2,2% vista em dezembro, sempre em relação ao mês anterior. A avaliação da indústria sobre o nível de demanda interna subiu 12% no período, comenta Campelo, enquanto a percepção sobre a demanda externa também teve evolução favorável, com alta de 11,4% em janeiro. Em ambos os casos, comenta o superintendente, a avaliação pode estar relacionada à desvalorização da taxa de câmbio nos últimos meses, com estabilização de patamar em torno de R$ 2,60.

 A indústria da construção espera um ano difícil em 2015, expectativa refletida na sondagem setorial divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice de intenção de investimento caiu 0,7 pontos em janeiro, em relação a dezembro, e 15,1 pontos na comparação com janeiro do ano passado, atingindo 40,8 pontos. O indicador varia de zero a cem e cresce conforme a intenção dos empresários em investir nos próximos seis meses.

 O índice de evolução da atividade caiu para 39,4 pontos ante 43 pontos no mês anterior. Para os próximos seis meses, a expectativa é que a atividade continue em queda (indicador em 48,6 pontos). O indicador de evolução da atividade em relação ao usual para o mês alcançou 38,2 pontos, o nível mais baixo desde dezembro de 2009, quando começou a série histórica.