Na mobilização mais forte do governo a favor da candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a Presidência da Câmara dos Deputados, cinco ministros e presidentes ou líderes partidários de oito partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff reuniram-se ontem em Brasília para articular um bloco de apoio ao petista contra o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ).

 

Além de PT, PSD, PCdoB e Pros, que já anunciaram apoio formal a Chinaglia, compareceram os presidentes de PDT e PR e representantes da cúpula do PP e PRB. Do governo estavam os ministros Pepe Vargas (PT), da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT), das Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), das Cidades, Antônio Carlos Rodrigues (PR), dos Transportes, e Gilberto Occhi (PP), da Integração Nacional.

O PDT formalizará a aliança com o petista em reunião a amanhã, enquanto PR e PP estão rachados, com grupos que defendem adesão ao PT e outros ao PMDB. O PRB já anunciou apoio a Cunha em dezembro, mas passou a defender o candidato do PT depois de indicar o ministro dos Esportes. Os oito partidos somam 231 deputados, embora seja certo que nenhuma bancada votará unida na eleição de domingo, em que o voto é secreto.

Na avaliação feita aos presentes na reunião, Chinaglia estimou 220 votos no primeiro turno, aquém dos 257 necessários para vencer a eleição. Em público, o petista não fala em números. Em privado, segundo relatos, estimou perder cinco votos no próprio partido, mas conquistar sete no PMDB. No PSD, Kassab teria garantido 28 votos da bancada de 36. PP e PR, admitiram os participantes, estavam divididos e a maioria iria com Cunha

"Não é o governo que está aqui. Somos lideranças políticas que têm suas preferências, assim como o vice-presidente e os ministros do PMDB têm preferência pelo candidato do PMDB", afirmou Pepe Vargas durante o encontro. "Se o governo quisesse interferir estaria montando o segundo e terceiro escalões agora, que são os instrumentos que teria para mudar a disputa, mas já anunciou publicamente que não fará isso."

A ação do bloco gerou reações no PMDB e PSDB. Eduardo Cunha cobrou que o governo respeite todos os candidatos da base governista, da qual o PMDB é o segundo maior partido, e que não ofereça cargos em troca de apoio a Chinaglia. "Se forem só manifestações de preferência, é democrático, mas se estiverem fazendo a pressão em troca de cargos que deputados têm relatado, é uma interferência indevida e o efeito será contrário, o Legislativo demonstrará usa independência."

Entre os tucanos, têm crescido a pressão para que o partido convença Júlio Delgado (PSB-MG) a abandonar a candidatura em troca do apoio ao PMDB já no primeiro turno. Cunha ofereceu, em reunião com a bancada do PSDB de São Paulo, a indicação da vice-presidência da Câmara e do presidente de uma comissão importante.

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, que afiançou a aliança com Delgado em retribuição ao apoio do PSB no segundo turno da eleição presidencial, prometeu falar com os deputados para convencê-los a manter o bloco. Mas até o fim da tarde de ontem parlamentares pró-Cunha tentavam falar com o senador mineiro sem sucesso.
 
 
Renan avalia risco em plenário
 

O lançamento do senador Luiz Henrique (PMDB-SC) à disputa pela presidência do Senado na terça-feira desestabilizou a nunca oficializada candidatura do atual presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), à reeleição. Renan e aliados consideram grande o risco de derrota em caso de disputa no plenário, e avaliam opções, como lançar outro nome, para o grupo manter o poder do Congresso. Os cotados são Eunício Oliveira (CE), líder da bancada, e Romero Jucá (RR), segundo vice-presidente do Senado.

Essa estratégia é mantida nos bastidores. Publicamente, os aliados de Renan declaram que ele tem maioria na bancada e se apresentará ao plenário como o candidato oficialmente lançado pelo PMDB. Luiz Henrique, por sua vez, mantém disposição de disputar como candidato avulso.

O catarinense anunciou a decisão após meses de intensas e reservadas negociações entre senadores de vários partidos. Apoiado por um grupo "independente" do PMDB, que inclui Waldemir Moka (MS) e Ricardo Ferraço (ES), principalmente. O objetivo é por fim à hegemonia do grupo comandado por Renan e José Sarney (AP). O presidente da Casa, que estava adiando o lançamento de sua candidatura para se preservar de desgastes, teve de "sair da toca", segundo os próprios colegas.

Foi um dia agitado em Brasília. Luiz Henrique foi à residência oficial da Presidência do Senado comunicar que sua candidatura é "irreversível" e tem apoio "expressivo" da maioria dos parlamentares da Casa, em todos os partidos. E, aproveitando que Renan não anunciara ser candidato à reeleição, pediu que o alagoano buscasse consenso da bancada em torno do seu nome. Recebeu colegas de outros partidos, como Ana Amélia (RS) e Benedito de Lira (AL), do PP, e Cristovam Buarque (PDT-DF). Já conta com a maioria do PT e dos partidos de oposição.

Renan passou o dia em casa cercado de aliados, dando telefonemas. Divulgou nota relatando o encontro e afirmando que a indicação "é feita pela maior bancada de modo a não violar a proporcionalidade e o regimento". A nota diz que ele expressou ao colega que o nome a ser apoiado deverá ser escolhido pela maioria dos 19 senadores do PMDB.

A estratégia de Renan é disputar na bancada, por acreditar ter maioria. Mas, fora do PMDB a situação é outra. Luiz Henrique tem boa relação com a presidente Dilma Rousseff e o respeito da oposição. Segundo os cálculos mais pessimistas do seu grupo, ele tem apoio de 45 dos 81 senadores.

 

Luiz Henrique quer abrir diálogo com Dilma

 

Luiz Henrique: "O que me anima nisso é construir uma pauta de emergência" Se eleito presidente do Senado no domingo, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) pretende apresentar uma "pauta de emergência" para o Congresso, com prioridade para aprovação de temas relativos às reformas política e tributária. Para aprovar as propostas, a ideia é conversar com a presidente Dilma Rousseff, governadores, ministros da área econômica, líderes partidários e presidentes das comissões técnicas da Casa, além de dirigentes e lideranças da Câmara dos Deputados. Com 44 anos de vida pública - sempre no MDB, como ele até hoje insiste em chamar seu partido - e mandatos de deputado estadual, deputado federal, prefeito de Joinville e governador de Santa Catarina no currículo, Luiz Henrique da Silveira anunciou na terça-feira a decisão de disputar a presidência do Senado. Desponta, assim, como desafiante do atual presidente, Renan Calheiros (AL), que articulava sua candidatura à reeleição nos bastidores e pretendia anunciá-la apenas na véspera da eleição. Valor: Como foi a conversa com Renan? Luiz Henrique da Silveira: Lembrei a ele que há dois anos havia o mesmo movimento, suprapartidário, para que eu fosse candidato. Na época, ele me disse que ia ser candidato a governador de Alagoas e precisava dessa viabilidade como presidente do Senado. E pediu que eu abrisse mão em favor dele. Eu atendi ao apelo dele. Valor: E ele? Luiz Henrique: Sugeriu um procedimento, que fôssemos os dois para a bancada e quem tivesse maioria seria candidato. Eu fiz um apelo para que construísse na bancada um grande consenso em torno do meu nome. Eu disse: "Recuei há dois anos a seu favor e as pessoas ficaram, na época, chateadas comigo e agora não posso recuar mais. Minha candidatura é irreversível". Valor: Então o senhor não disse que vai enfrentá-lo no plenário. O senhor pediu o apoio dele. Luiz Henrique: Pedi a ele que fosse o grande protagonista da solução na bancada, porque minha candidatura tem maioria expressiva no conjunto de senadores, mas eu só construo a maioria no MDB "se você propuser o meu nome", eu disse. Seria construir a candidatura pela bancada e ele, como presidente da Casa, atenderia à voz da grande maioria do Senado, indicando meu nome. Valor: Ele deixou claro o que pretende fazer? Luiz Henrique: Não. Disse que iria conversar.... Valor: A conversa foi ríspida em algum momento? Luiz Henrique: Ele é muito tranquilo, muito elegante. Fomos deputados na mesma época, na década de 70. Temos uma relação política muito antiga no MDB. Muitos episódios do passado vivemos juntos, como a luta pelas Diretas, pela democratização. Valor: O senhor vai, agora, pedir votos na bancada? Luiz Henrique: Vou conversar com todos os senadores do MDB. Eu quero construir um consenso. O que me anima nisso é construir uma pauta de emergência, fazer o Senado ser protagonista de uma pauta de emergência. Sendo eleito presidente, logo no início vou propor uma reunião com os governadores, conversar com a presidente Dilma Rousseff, ministros, líderes e presidentes das comissões, para elabora, juntos, uma pauta de emergência para o país. Uma pauta de emergência inclui a definição de um novo modelo de financiamento das campanhas eleitorais, já para a próxima eleição, que acabe com a contribuição de pessoas jurídicas e a doação de pessoas físicas até o limite de uns três salários mínimos. Tem que modificar o sistema de tempo de televisão, para que as coligações não somem tempo para os candidatos. Estou preparando uma proposta de emenda constitucional nesse sentido, para impedir essas siglas de aluguel. Precisamos tentar caminhar para a eleição em listas fechadas, para que a pessoa vote nos partidos, para vereador e deputados. Valor: Senadores criticam a Câmara por não votar propostas de reforma política aprovadas no Senado. Luiz Henrique: Vou procurar fazer uma pauta junto com a Câmara. Já que o presidente do Senado é o presidente do Congresso, vamos fazer uma pauta de emergência que seja do Congresso. Valor: Entre os temas aos quais o senhor mais se dedica no Senado estão a reforma do ICMS e a convalidação dos incentivos fiscais concedidos pelos Estados sem o aval do Confaz. As votações são sempre adiadas, em geral a pedido do governo. Com o senhor no comando do Congresso, isso finalmente anda? Luiz Henrique: Pretendo discutir com os governadores e a equipe econômica do governo a aceleração da reforma tributária, da convalidação dos incentivos e da criação dos fundos de desenvolvimento regional e de compensação dos Estados [pelas perdas com a unificação das alíquotas do ICMS]. O trabalho que eu estava fazendo na Comissão de Assuntos Econômicos, quero fazer como presidente, em busca de consenso. Valor: Então são as duas reformas que o senhor quer priorizar em 2015: a política e a tributária? Luiz Henrique: São mais emergentes. Reforma política é essencial para sair da pauta negativa que temos e para que nas próximas eleições não tenha dinheiro de empresa privada financiando campanha. Valor: O senhor acredita ser esse o fundo de toda corrupção? Luiz Henrique: O que está no banco dos réus é o sistema, o sistema de financiamento dos candidatos. Valor: O senhor espera ter apoio do governo para ser eleito? Luiz Henrique: É uma questão que vamos decidir aqui no Senado e, tenho a impressão, de que consensualmente. Valor: Está disposto a disputar com Renan no plenário? Luiz Henrique: Tenho esperança que ele será o grande condutor desse consenso. Valor: Sua vitória acabará com anos de comando do Senado por um mesmo grupo do PMDB. O senhor chamaria de democratização da Casa? Luiz Henrique: Meu estilo de gestão é o participativo. Os integrantes da Mesa Diretora e os líderes serão protagonistas da pauta legislativa. A credibilidade dos políticos está muito baixa. Nosso trabalho é recuperar isso, tirar o Congresso da inação. Tirar as reformas das gavetas das comissões e partir para o plenário. Vou propor que priorizemos muito os trabalhos nas comissões. Que a cada duas semanas, uma seja dedicada exclusivamente aos trabalhos de comissões, para acabar com a simultaneidade maluca que existe hoje.