A Rússia vai elevar os gastos públicos com assistência social e agricultura e isentar de reduções as despesas com equipamento bélico. A decisão é parte de um programa de incentivo de 2,3 trilhões de rublos (US$ 35 bilhões), que prevê cortes de 10% em 2015 para a maioria dos demais gastos.

As despesas vão cair em pelo menos 5% anuais, em termos reais, por três anos. As autoridades pretendem obter equilíbrio orçamentário até 2017 "com base no nível mais provável de preços dos principais produtos de exportação", segundo o plano, datado do dia 27 e publicado ontem no site do governo russo.

"Não haverá uma recuperação rápida dos preços do petróleo como houve em 2008-2009", disse o ministro das Finanças Anton Siluanov, à câmara alta do Parlamento ontem em Moscou. "Esta será uma situação de longo prazo."

A Rússia, a maior exportadora mundial de produtos energéticos, está à beira de uma recessão, após a queda dos preços do petróleo para seu menor patamar desde 2009 e das sanções impostas pelos Estados Unidos e seus aliados às ações do presidente Vladimir Putin na Ucrânia. A Rússia passa por uma situação econômica "extremamente difícil" e enfrenta uma crise mais grave que a de 2008-2009, disse o primeiro-vice-premiê Igor Shuvalov na semana passada.

O petróleo caiu quase 50% no ano passado, uma vez que a extração americana assumiu seu ritmo mais acelerado em mais de três décadas, ao mesmo tempo em que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não acatou apelos em favor do corte da produção. Pelo fato de cerca de 50% da receita orçamentária da Rússia virem dos impostos sobre petróleo e gás, a classificação do país para empréstimos em moeda externa foi reduzida para de alto risco ("junk" em inglês) pela Standard & Poor's na segunda-feira.

A Ucrânia, os EUA e seus aliados acusam a Rússia de apoiar os rebeldes do leste da Ucrânia com armas, dinheiro e milhares de soldados, o que é negado pelo Kremlin. O governo de Moscou diz que as autoridades ucranianas movem uma guerra contra seus próprios cidadãos e discriminam os falantes da língua russa, que constituem a maioria das populações das regiões de Donetsk e Lugansk, no extremo leste.

Shuvalov disse que, como parte das medidas do governo para combater a desaceleração da economia, o Estado vai respaldar empresas de importância fundamental e pequenas empresas, além de monitorar os itens mais sensíveis dos preços ao consumidor.

O plano de estímulo também prevê pagamento integral adiantado aos produtores que trabalham sob contratos estatais da área de defesa, concessão de subsídios a essas empresas para os pagamentos de juros a bancos russos e indenização por perdas de origem cambial.

Os choques externos, principalmente os decorrentes da queda dos preços do petróleo, vão agravar a situação do balanço de pagamentos em cerca de 200 bilhões de rublos, disse Siluanov. A inflação, que disparou para 11,4% em dezembro, sua maior alta dos últimos cinco anos, deverá se acelerar para 12,5% neste ano, previu ele.

Os gastos com aposentadorias vão aumentar em não menos que 188 bilhões de rublos, uma vez que os pagamentos do governo serão corrigidos pela inflação de 2014, mais acelerada que o previsto. Medidas para contribuir para o aumento do nível de emprego receberão um reforço de 82 bilhões de rublos, e a ajuda à atividade agrícola será acrescida de 50 bilhões de rublos, de acordo com o programa. O plano anticrise ainda poderá sofrer alterações, segundo a agência de notícias Interfax, que atribuiu a informação ao premiê russo, Dmitri Medvedev.

"A estabilização gradual dos mercados mundiais de matérias-primas e medidas adotadas juntamente com o banco central permitirão a normalização da situação no mercado de câmbio e criarão as condições para uma redução significativa das taxas de juros nominais, e para a melhoria do acesso ao crédito", disse o governo.