Pela primeira vez desde o início da maior crise de abastecimento de água da Grande São Paulo, a Sabesp apresentou ontem um plano de rodízio para a região. Segundo o diretor metropolitano da empresa, Paulo Massato, o esquema funcionaria com cinco dias da cidade sob rodízio e dois dias sem. A declaração foi feita na presença do governador Geraldo Alckmin (PSDB), durante a inauguração de uma obra no sistema Alto Tietê. Alckmin, que sistematicamente nega a necessidade de racionamento de água, não se manifestou.

O plano permitiria poupar 15 mil litros por segundo do sistema Cantareira. Massato disse que a medida só será usada se não houver chuva suficiente e no caso de as obras programadas pela Sabesp não ficarem prontas antes do esgotamento dos reservatórios. "Se for necessário, para não chegar no zero da represa, sem água nenhuma para distribuir, podemos correr esse risco, do rodízio drástico", disse. A Sabesp não detalhou o plano.

Ontem, o sistema Cantareira operava estável, com 5,1% da capacidade total. O manancial acumula 134,2 mm de chuvas, o equivalente a 49,5% da média histórica de chuvas para o mês de janeiro (271,1 mm). Mantido o atual ritmo de chuvas e consumo, São Paulo pode ficar sem água em 130 dias.

A Sabesp divulga em seu site, desde ontem, horários de redução de pressão da rede de distribuição de água por região da capital paulista. A redução de pressão vem sendo usada como paliativo para baixar o consumo e reduzir perdas. Da água distribuída em São Paulo, 27% são perdidos. A média nacional é de 30%. Grande parte da cidade enfrenta redução de pressão das 13h até a manhã seguinte.

O secretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga, disse que está trabalhando "dia e noite" com a Sabesp para identificar novas fontes que possam ser usadas no curtíssimo prazo para "evitar o colapso" no abastecimento. "No curtíssimo prazo, a situação é bastante grave", disse Braga na abertura da primeira reunião do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema) em 2015. "Vamos fazer gestão da demanda. Precisamos de forte redução no consumo. Cada gota é importante."

Durante a reunião, Braga decepcionou ambientalistas ao não mencionar a proteção dos mananciais e a necessidade de reflorestamento como essenciais para a segurança hídrica, mas citou obras de transposição de represas e captação de água longe da região metropolitana. O governo pretende recorrer ao uso de adutoras de engate rápido, mais simples, para captação dos rios Itatinga, Alto Juquiá, Guaió e Guaratuba, reforçando o sistema do Alto Tietê. A expectativa é que esses rios contribuam com mais 9 metros cúbicos por segundo, aproximadamente.

Ambientalistas presentes ao encontro criticaram as "medidas vagas" do governo paulista e a busca por água em pontos que se encontram a até 200 km da capital.