Após intensa negociação com outros partidos, conduzida no último mês por um grupo de senadores independentes do PMDB, o ex-governador Luiz Henrique (PMDB-SC) anunciou ontem que vai disputar a presidência do Senado. A decisão ameaça os planos de reeleição do atual presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL). A eleição será no domingo, 1º de fevereiro, após a sessão de abertura do Congresso. Para se preservar de desgastes, Renan pretendia lançar a candidatura na véspera. "É uma decisão irreversível. É o nome que surgiu nessa peneirada", afirmou Luiz Henrique, no Senado, ao lado dos senadores Ricardo Ferraço (ES) e Waldemir Moka (MS), outros pemedebistas "independentes". O catarinense disse que vai procurar Renan hoje e "pedir o voto dele". A expectativa não é vencer na bancada. Dos 19 senadores, o grupo acredita ter oito. Mas, no plenário, as chances de vitória são consideradas grandes. A intenção do grupo é lançar a candidatura de Luiz Henrique na sexta. Embora as conversas ocorram há cerca de um mês, a confirmação se deu no dia em que o PSB discutiria lançar Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). O catarinense não é candidato de oposição ao governo, mas terá os votos do DEM e do PSDB, segundo os líderes José Agripino (RN) e Aloysio Nunes (SP). "Luiz Henrique tem condição de ganhar e formar uma chapa que dê credibilidade ao Senado", afirmou Agripino. O futuro líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), está de acordo. "Não é uma candidatura para protestar. É uma candidatura para disputar e ganhar", disse o pemedebista. Senadores do PP, do PDT e de outros partidos - até do PT - participaram das articulações por uma candidatura do PMDB alternativa a Renan. Luiz Henrique espera o apoio do PSB e ontem conversou com a senadora Lídice da Mata (BA), que deixará a liderança do partido. A senadora admitira que a bancada do PSB estava dividida com relação à possibilidade de ter candidato próprio. Renan permaneceu em Brasília nos últimos dias, em reuniões com aliados mais próximos, como o senador José Sarney (AP), em fim de mandato, e Romero Jucá (RR). O líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), passou a maior parte do recesso parlamentar no exterior. O grupo independente aguardou seu retorno para anunciar a decisão de lançar candidato. Para Luiz Henrique, a prioridade do Congresso tem que ser a realização da reforma política, começando pelo financiamento público, e a discussão do novo pacto federativo. "Nós vamos colocar o Senado como protagonista." O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), diz que a bancada do seu partido vai apoiar o nome que for "oficialmente" lançado pelo PMDB para disputar a presidência da Casa, em respeito à regra da proporcionalidade partidária. De acordo com a tese, se Renan tiver a maioria dos votos da bancada pemedebista, o PT votaria nele, ainda que Luiz Henrique disputasse no plenário. Mas o senador catarinense teria, hoje, a preferência de oito dos 12 senadores do PT, além de contar com a simpatia da presidente Dilma Rousseff. Votando nele, o PT estaria mantendo a regra de votar em um candidato do maior partido. O líder convocou a reunião para sábado, véspera da eleição. Mas está sendo pressionado a antecipar para quinta-feira.

 

PSDB reage à articulação pró-Cunha

 

Depois de mais de um mês afastado da campanha de Júlio Delgado (PSB-MG) para a presidência da Câmara dos Deputados, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG) reagiu à articulação de PMDB e Solidariedade para que os tucanos apoiassem a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) logo no primeiro turno e fez ligações para aliados ontem. "Vemos com naturalidade as pressões, típicas desse período do processo eleitoral, mas tomamos a decisão lá atrás de retribuir o apoio do PSB ao Aécio no segundo turno da eleição presidencial e já no primeiro turno para o governo de três Estados importantes: São Paulo, Paraná e Minas Gerais", afirma o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA). "Não há chance de mudar de postura agora", reforça. O movimento ocorre logo depois de intensificarem as pressões internas no PSDB, estimuladas por aliados de Cunha, para que os tucanos desembarcassem da candidatura de Delgado para derrotar o PT já no primeiro turno. Em reunião com a bancada paulista do PSDB na segunda-feira, Cunha teria refeito a oferta para que os tucanos indicassem o 1º vice-presidente da Câmara, o que lhes permitiria comandar a pauta durante as ausências do pemedebista. Cunha nega a negociação em troca do cargo. "Não posso ofertar o que não cabe a mim decidir. Só fui questionado sobre como funciona a eleição na Câmara dos Deputados e expliquei que, se o PSDB não estiver em um dos maiores blocos, vai ficar de fora dos principais cargos", diz. "Não fiz nenhuma oferta, até porque o PSDB tem candidato. Mas tenho direito de conversar e pedir votos para todos os deputados que aceitarem me ouvir", afirma. Depois da reunião, aumentaram os movimentos públicos a favor do pemedebista. "Formal ou informalmente, o Eduardo tem o apoio de 15 a 18 dos 54 parlamentares do partido", diz o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que contabiliza apoios do Paraná, Santa Catarina e São Paulo. "Não vamos pressionar por rompimento, mas a partir do momento em que um fala, outros também se sentem livres para defender suas posições em público." Na cúpula do PSDB, o rompimento é descartado pelos mesmos motivos que fizeram a sigla decidir em dezembro lançar candidato de um bloco formado com PSB, PPS e PV: manter o PSB na oposição, contra as correntes que defendem a reabertura do diálogo com o PT, e marcar posição para a sociedade. Um tucano da cúpula afirmou que ninguém entenderia, depois de uma eleição tão dura, o apoio ao principal aliado do governo no Congresso. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), também criticou a hipótese de abandono do PSB. "Seria um erro político. Qual o perigo de levar a disputa para o segundo turno? O único perigo agora é falhar com um aliado", afirmou, depois de conversar com Aécio ontem. "Que confiança você passa para alianças posteriores se anuncia algo e depois recua?", questiona. Na cúpula da campanha de Arlindo Chinaglia (PT-SP), que trabalha pela manutenção de Júlio Delgado com vistas a levar a disputa para o segundo turno, o movimento do adversário também foi comemorado com a avaliação de que uma pressão sobre os tucanos poderia irritar o partido a ponto de organizar uma reação - como a iniciada por Aécio ontem.