Antes dos anúncios de aumento de impostos feitos na semana passada, a estimativa do boletim Focus, do Banco Central, para o superávit primário em 2015 já havia subido ligeiramente, de 1% para 1,05% do Produto Interno Bruto (PIB). Depois das medidas, a previsão avançou novamente, para 1,1% do PIB. Em relatório, Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, aponta que, mais do que atingir a meta de 1,2% do PIB – projeção do banco para o superávit primário em 2015 – as medidas anunciadas vão na direção de um crescimento mais alinhado das despesas ao produto, e buscam o resgate da confiança na economia. Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, as previsões mais positivas para 2016 são factíveis e o crescimento a ser observado no período pode ser até maior do que 1,5%, dado a base de comparação fraca do ano anterior, mas as projeções são baseadas em expectativas.

 

Além dos preços de ativos, a confiança na nova equipe econômica está começando, ainda que de maneira mais lenta, a mostrar impactos sobre as expectativas do mercado para os indicadores da economia. Antes dos anúncios de aumento de impostos feitos na semana passada, a estimativa do boletim Focus, do Banco Central, para o superávit primário em 2015 já havia subido ligeiramente, de 1% para 1,05% do Produto Interno Bruto (PIB). Depois das medidas, a previsão avançou novamente, para 1,1% do PIB.

 

Para 2016, a projeção para superávit primário está em 2% do PIB, assim como para 2017- em linha, portanto, com a meta a ser perseguida pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nos próximos dois anos. Em meados de dezembro, a estimativa para 2016 estava em 1,8% do PIB.

 

Diante das ameaças de racionamento de energia e de possíveis impactos negativos dos problemas da Petrobras sobre a atividade, o cenário para o crescimento piorou para 2015 e 2016 – os analistas agora trabalham com expansão de 0,13% e 1,54% para o PIB deste e do próximo ano, respectivamente – mas a perspectiva para o longo prazo ainda é positiva. Segundo a mediana do Focus, o PIB vai crescer 2% em 2017, e 2,5% em 2018.

 

Já as expectativas para a inflação não contam com convergência ao centro da meta, de 4,5%, depois de 2015, mas contemplam desaceleração dos preços. Entre a semana passada e atual, o mercado elevou a 7% sua estimativa para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano, mas reduziu a previsão para 2016, de 5,7% para 5,6%. Em 2017, os analistas esperam aumento de 5,5% do indicador, taxa que deve diminuir para 5% em 2018.

 

Segundo Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), as previsões de alta de 7% para o IPCA neste ano não contaminaram as expectativas futuras, algo que já pode ser considerado positivo. “Se a política econômica continuasse heterodoxa, as expectativas e os juros futuros já estariam disparando”, diz. Na visão de Silvia, existe a percepção de que o conjunto de medidas já tomadas não vai resolver todos os problemas, mas que, com a normalização da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e ajuda da política fiscal, a inflação vai ceder e os juros podem cair em 2016.

 

Em relatório, Leandro Câmara Negrão, do Bradesco, aponta que, mais do que atingir a meta de 1,2% do PIB – projeção do banco para o superávit primário em 2015 – as medidas anunciadas vão na direção de um crescimento mais alinhado das despesas ao produto, e buscam o resgate da confiança na economia. “Apesar do custo sobre a atividade e a inflação que esse ajuste deverá contratar para este ano, avaliamos que os efeitos serão positivos no médio prazo”, afirma Negrão, acrescentando que o início do trabalho da nova equipe econômica superou o que era esperado pelo Bradesco e pela “grande maioria” dos analistas.

 

“1,1% de primário em 2015 já está ótimo, à luz do que vimos no ano passado. Tem um ‘efeito Levy’ aí porque não é um número ruim”, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. A percepção de que ainda há muitas despesas de 2014 a serem reconhecidas sugeriria uma perspectiva de superávit menor para este ano, diz Zeina, assim como o histórico recente de descumprimento de metas fiscais.

 

A economista pondera, no entanto, que a incoerência entre as promessas de campanha e o discurso atual da equipe econômica acaba reduzindo o impacto das medidas fiscais sobre as expectativas dos agentes econômicos. Além disso, até agora, a presidente Dilma Rousseff ainda não manifestou apoio explícito ao ajuste, o que também dificulta a retomada da confiança.

 

Já Fernando Rocha, sócio e economista da JGP Gestão de Recursos, avalia que uma declaração favorável da presidente não resultaria em grandes melhoras das projeções do mercado, que podem mudar à medida que resultados concretos do ajuste forem aparecendo. Por enquanto, Rocha trabalha com avanço de 1% para o PIB no próximo ano, mas afirma que o cenário para 2016 pode mudar para melhor caso o novo governo “continue fazendo as coisas certas.”

 

“Teremos um ano negativo e, se você vencer isso, vai passar para um período melhor um ano à frente. A questão é se o governo vai ter sangue frio para perseverar no ajuste, dado que o desemprego aumenta e a renda cai”, diz o economista, que também destaca fatores fora do alcance da nova equipe econômica que podem afetar as perspectivas. Um racionamento de energia elétrica, por exemplo, poderia fazer o PIB recuar 1,5% em 2015.

 

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, as previsões mais positivas para 2016 são factíveis e o crescimento a ser observado no período pode ser até maior do que 1,5%, dado a base de comparação fraca do ano anterior, mas as projeções são baseadas em expectativas. Segundo Leal, com a confiança maior no novo time econômico, os agentes podem começar a se preparar para uma retomada da economia com mais investimentos, o que reforça o cenário mais otimista para o ano que vem.

 

O economista do ABC também acredita que a maior austeridade fiscal e parafiscal – principalmente por meio da redução das concessões de crédito dos bancos públicos – junto à postura mais severa do Banco Central, devem levar a inflação a convergir a um nível mais próximo do centro da meta em 2016. Por ora, Leal trabalha com aumento de 5,2% para o IPCA no próximo ano.

 

Zeina, da XP, não espera inflação de 4,5% em 2016, mas também vê moderação dos preços. Em seus cálculos, serão necessários de dois a três trimestres para que o efeito do corte de gastos e das concessões de crédito atinja a inflação de preços livres. Com redução dos custos da mão de obra em dólar, a indústria pode iniciar uma recuperação, com melhora da confiança dos empresários e repercussões sobre os demais setores da economia, disse. “A atividade ganhando impulso torna menos desafiador o objetivo de estabilização da dívida bruta sobre o PIB”, acrescentou.

 

Crise energética afeta a indústria e reduz PIB potencial, avalia Ibre/FGV

 

A crise energética, que pode levar a um racionamento e a uma recessão econômica neste ano, diminuiu não somente o crescimento cíclico da economia brasileira, mas também o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país, que hoje estaria ao redor de 1,5%. A avaliação é do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

Na edição de janeiro do Boletim Macro, o grupo de conjuntura do Ibre destaca que a média anual de expansão da atividade econômica no Brasil deve cair de 4,6% entre 2007 e 2010 para 1,6% no quadriênio encerrado em 2014, considerando a estimativa do instituto de alta de apenas 0,1% no ano passado.

 

 

"Como o horizonte de quatro anos para a análise de taxas de crescimento é longo demais para que se possa atribuir essas médias ao ciclo de negócios da economia, é possível que tenha havido uma redução na taxa de crescimento do produto potencial", afirmam, no documento, Silvia Matos, coordenadora técnica do boletim, e Vinícius Botelho, pesquisador de economia aplicada do Ibre.

Se for levada em conta a projeção da entidade de avanço de 0,3% do PIB para 2015 - que ainda não inclui a possibilidade de racionamento, mas pode ser revista para baixo em vista desse risco -, há uma desaceleração adicional nos últimos dois anos. Depois de ter crescido 1,8% ao ano, em média, em 2012 e 2013, a alta será 1,6 ponto percentual menor no biênio seguinte. "Enquanto não resolvermos esse problema, a energia limita nosso potencial de crescimento, pelo canal da falta desse bem e de preços muito altos", diz Silvia.

Em um exercício para identificar se as causas da perda de fôlego mais recente da economia estão ligadas à redução do produto potencial, Silvia e Botelho identificaram que os nove setores industriais mais intensivos em energia explicam aproximadamente 30% da desaceleração da atividade econômica entre abril e novembro de 2014. Nesse período, o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) - que baliza os preços de energia no mercado de curto prazo, onde estão os grandes consumidores industriais - foi o triplo do registrado nos mesmos meses de 2013 no submercado do Sudeste.

Os pesquisadores ainda notam que as importações dos setores mais eletrointensivos aumentaram 9,4% no período observado, enquanto, nos demais segmentos da indústria, houve recuo de 7,7%. Segundo Silvia e Botelho, setores em que há um nível de produção menor, mas com o nível de demanda suprido por compras externas, são "fortes candidatos" a estarem com seu PIB potencial em queda. Possivelmente, dizem, para estes ramos, as condições de produção pioraram de tal forma que deixou de ser vantajoso produzir internamente um determinado bem, e é melhor importá-lo.

De acordo com a coordenadora do boletim, é natural que a economia perca vigor em períodos de aumento da inflação, subida de juros e aperto fiscal, mas a questão energética é algo mais permanente, e que pode continuar causando estragos na atividade. Em uma estimativa aproximada, ela calcula que o PIB pode encolher 1% se houver racionamento de energia em 2015. Já o PIB potencial brasileiro estaria hoje em cerca de 1,5%.

"Não acreditamos que vamos crescer 1,5% para sempre, mas diante das condições atuais, esse número é mais factível", comenta Silvia, para quem uma expansão algo acima de 2% seria uma taxa "minimamente razoável" para o Brasil. Em sua avaliação, as sinalizações da nova equipe econômica vão na direção de um crescimento potencial maior, passados os anos de 2015 e 2016, que será um biênio de ajuste duro.

O primeiro conjunto de medidas anunciado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi destinado a evitar a perda do grau de investimento, diz a economista, mas também existe uma preocupação da nova equipe em aumentar a poupança e a produtividade da economia. As duas questões, se atacadas, teriam impacto positivo sobre a capacidade de expansão do PIB. Nesse sentido, Silvia espera que haja medidas para simplificar a carga tributária e mais reformas na área da Previdência.

 

Confiança do consumidor recua para menor nível desde setembro de 2005

A piora da crise hídrica e a continuidade do cenário desfavorável ao consumidor levaram ao recuo de 6,7% no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em janeiro deste ano em relação a dezembro de 2014. Quatro dos cinco tópicos usados para o cálculo do ICC apresentaram em janeiro o menor nível das respectivas séries históricas. A exceção foi a expectativa de compra de bens duráveis, com alta de 3% em janeiro ante dezembro. Mas nem essa elevação pode ser comemorada, afirma Tabi Thuler Santos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Apesar de ter caído muito durante a crise global de 2009, somente agora o ICC mostra os níveis mais baixos da série, o que está sendo investigado pelos pesquisadores da FGV.

 

A piora da crise hídrica e a continuidade do cenário desfavorável ao consumidor, com juros altos, endividamento elevado das famílias e mercado de trabalho mais enfraquecido, levaram ao recuo de 6,7% no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em janeiro deste ano em relação a dezembro de 2014. O índice atingiu 89,8 pontos, o menor nível da série, iniciada em setembro de 2005.

 

A avaliação é de Tabi Thuler Santos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV). Segundo ela, dentre os cinco tópicos usados para cálculo do indicador, nenhum se refere diretamente à expectativa de racionamento de água e possibilidade de apagões. No entanto, diz, o tema, cada vez mais presente no noticiário, pode ter contribuído para elevar a cautela do consumidor.

 

“O consumidor já estava preocupado com o mercado de trabalho antes de janeiro”, afirma Tabi. “Com possibilidades de crise hídrica, de apagão, o consumidor sabe que isso pode afetar o comércio, um dos maiores empregadores.”

 

Quatro dos cinco tópicos usados para o cálculo do ICC apresentaram em janeiro o menor nível das respectivas séries históricas. É o caso de situação atual da economia local; situação atual financeira das famílias; situação futura da economia local; e situação financeira futura das famílias.

 

A exceção foi a expectativa de compra de bens duráveis, com alta de 3% em janeiro ante dezembro. Mas nem essa elevação pode ser comemorada, afirma a pesquisadora do Ibre. “Esse indicador tinha caído 5,7% em dezembro do ano passado [ante novembro]. Então, essa elevação nem compensa o recuo imediatamente anterior.”

 

Em janeiro, 40% dos consumidores pesquisados para o cálculo do ICC pretendiam diminuir seu volume de compras de duráveis – a segunda maior parcela para essa resposta na série histórica desse tópico, só perdendo para dezembro de 2005 (42,5%).

 

Apesar de ter caído muito durante a crise global de 2009, somente agora o ICC mostra os níveis mais baixos da série, o que está sendo investigado pelos pesquisadores da FGV.

 

“Naquela época, as quedas eram muito mais intensas, mas a extensão do período de queda é menor do que o que temos hoje”, afirma Tabi, lembrando que o índice mostra comportamento negativo desde meados de 2012. “Há um desapontamento, uma frustração do consumidor com a ausência de melhora na economia, e isso se reflete no índice.”

 

Para a pesquisadora, o indicador não deve mostrar melhora no curto prazo, tendo em vista que um dos principais fatores que limitam seu crescimento – que é a retomada sustentável da economia- não é uma questão de fácil resolução. “Dificilmente ocorrerá recuperação no ritmo de confiança até o fim do primeiro semestre deste ano”, diz.

 

SP discute com governo federal plano de ação para impedir novos blecautes

 

A Secretaria de Energia do Estado de São Paulo está elaborando com técnicos do governo federal e do Ministério de Minas e Energia um plano de ação para impedir novos blecautes no Estado, como o registrado dia 19, que também atingiu outros nove Estados e o Distrito Federal e teve duração de cerca de uma hora.

De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, a piora no nível dos reservatórios no mês passado elevou o temor de novos apagões. Uma das ações estudadas é o uso de mais usinas movidas a biomassa por bagaço de cana.

Ontem, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontava que o nível dos reservatórios das hidrelétricas do sistema Sudeste/Centro-Oeste estava em 17,24%. A média de janeiro do ano passado foi de 40,28%.

A secretaria deseja cobrar do governo federal um plano de emergência, caso a situação no abastecimento de energia não melhore. Segundo a assessoria, o secretário João Carlos de Souza Meirelles está em contato com o ministério desde a semana passada.

Meirelles participou de um evento do setor ontem em São Paulo e disse que o blecaute ocorrido no dia 19 foi um alerta, já que até então o governo não admitia a hipótese de cortes no fornecimento de energia, mesmo com os reservatórios em baixas históricas.

Segundo o secretário, uma possível interligação de usinas de cana-de-açúcar, com capacidade de geração de energia a partir do bagaço, ao Sistema Interligado Nacional (SIN) pode adicionar até 2 mil megawatts-médios (MW) ao sistema. Esse volume de geração é comparável ao de uma hidrelétrica de grande porte.

 

Remuneração em leilões de transmissão deve ser definida nas próximas semanas

 

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sorteou ontem o diretor André Nóbrega para ser o relator do processo que definirá a nova taxa de remuneração para as linhas de transmissão ofertadas nos próximos leilões. A expectativa é que a nova taxa de remuneração para as licitações seja aprovada em reunião de diretoria da agência nas próximas semanas.

"Tomara que não demorem muito a votar [a nova taxa]. É bom mostrar a regra do jogo com bastante antecedência", disse o presidente da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), Mario Miranda, ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.

Após o primeiro leilão de transmissão do ano, no início deste mês, quando dois dos quatro lotes ofertados não receberam propostas, o diretor da Aneel Reive Barros indicou que a nova taxa de remuneração já deverá ser aplicada nas próximas concorrências. Segundo Miranda, a taxa de remuneração atual, de 5,5%, é baixa em comparação com o cenário macroeconômico atual e os riscos do setor.

Para a ex-diretora da Aneel e atual diretora do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getulio Vargas (Ceri-FGV), Joísa Dutra, a participação tímida de empresas no último leilão de transmissão também foi motivada pela percepção de que a Aneel iria rever a taxa remuneração nas próximas concorrências.

Segundo Miranda, outro fator que indica a necessidade de aumento da taxa de remuneração foi a revisão da política de financiamento do BNDES. A instituição reduziu o limite dos financiamentos - de 70% para 50% do valor total do investimento.