Horas depois de relacionar a presidente da República Dilma Roussef (PT) como testemunha de defesa, o advogado do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró desistiu de indicar a mandatária para testemunhar a favor do ex-executivo sobre a operação de compra de dois navios-sonda sem licitação pela estatal, ocorrida entre 2006 e 2007. Cerveró e o suposto lobista do PMDB na área Internacional Fernando "Baiano" são réus por suposta corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a transação, pela qual teriam recebido propina de U$ 30 milhões.

"Conversei hoje [ontem] com Cerveró e ele me alertou que a aquisição foi um ato privativo da diretoria e não passou pelo conselho de administração. Então ela [Dilma] deixou de ser uma testemunha vital. Tanto que a substituí pelo Ishiro Inagaki", disse o advogado Edson Ribeiro ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Inagaki, que vive no Japão, era diretor de uma empresa japonesa envolvida na compra das sondas.

Ribeiro disse ter havido um "equívoco" por parte da defesa, "porque nós discutimos o tempo todo com o cliente e as coisas mudam", justificou. " Eu a havia colocado [Dilma] e o [José Sérgio] Gabrielli porque um foi presidente da diretoria executiva e outro do conselho de administração [da Petrobras]. Só que depois de conversar com Cerveró ele me disse que no caso dos navios-sonda a decisão foi exclusiva da diretoria", disse.

O ex-presidente da Petrobras à época dos fatos José Sergio Gabrielli continua no rol de testemunhas indicadas pela defesa, segundo Ribeiro. Também foram relacionados o ex-presidente da Petrobras José Carlos de Lucca; o ex-presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Álvaro Teixeira; o ex-gerente da Petrobras em Angola, Hercules Tadeu Ferreira da Silva; o conselheiro da Queiroz Galvão e ex-funcionário da Petrobras e da British Gas, Luis Carlos de Lemos Costamilan; o presidente da Organização Internacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloy Fernández y Fernández; e o atual consultor e ex-funcionário da British Gas, Ricardo Mucci

Na manifestação à Justiça em que Dilma foi citada, o advogado de Cerveró argumenta que o juiz titular das ações penais da Lava-Jato, Sergio Moro, não tem competência territorial para julgar o caso, que deve ser redistribuído à Justiça estadual do Rio de Janeiro.

Ribeiro também alega cerceamento da defesa, porque ainda não teve acesso à íntegra da delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Ontem, o juiz negou aos advogados dos executivos da OAS que o ministro da Justiça do Canadá, Peter Gordon Mackay, fosse ouvido pela Justiça Federal.

A defesa questiona interceptação feita pela Polícia Federal em aparelho Blackberry, smartphone desenvolvido no Canadá.

 

Juiz ouve depoimentos de 15 pessoas

Na próxima semana a Justiça Federal em Curitiba começa a ouvir testemunhas de seis ações penais relacionadas à Operação Lava-Jato. Os depoimentos de 15 pessoas devem ser dados ao longo de duas semanas ao juiz Sergio Moro.

A semana vai começar com audiências relativas ao processo contra as empreiteiras Camargo Corrêa e UTC. O delegado da Polícia Federal Marcio Anselmo e os executivos da empreiteira Setal, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e Julio Camargo devem depor no começo da tarde.

À PF, Mendonça Neto e Julio Camargo deram detalhes no ano passado sobre o cartel das empreiteiras, que seria organizado em um "clube" para decidir resultados de licitações da Petrobras. Disseram também que o pagamento de propina a políticos incluía doações legais de campanha. Eles prestarão quatro depoimentos nas próximas semanas.

Também serão ouvidos integrantes do grupo do doleiro Alberto Youssef: os "laranjas" João Procópio que, segundo a investigação, gerenciava suas contas na Suíça, e Leonardo Meirelles, diretor do laboratório Labogen; o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa, que revelou o funcionamento de suposto esquema de fraude em notas fiscais com pagamento de propinas na Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras; e sua contadora Meire Poza.

Ex-funcionários da Petrobras também devem depor: Venina Velosa da Fonseca ex-gerente executiva da área de Abastecimento, que diz ter alertado a presidente da estatal, Graça Foster, sobre irregularidades; Pedro Arruda, gerente de Segurança Empresarial; Gerson Luiz Gonçalves, chefe da auditoria interna; Marcelino Gomes ex-presidente da refinaria Abreu e Lima; e Paulo Roberto Costa ex-diretor de Abastecimento, que cumpre prisão domiciliar.

O juiz Sergio Moro também vai ouvir funcionários de empreiteiras: Victório Duque Semionato e Alexandre Camara Nascimento, da Mendes Júnior; e Mauro Grecco, da Camargo Corrêa.

A Operação Lava-Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em março de 2014 para investigar esquema de lavagem de dinheiro estimado em R$ 10 bilhões e ligado ao mercado negro de câmbio, oriundo de tráfico de drogas, contrabando e desvio de verba pública.