O preço do minério de ferro caiu para US$ 63 a tonelada pela primeira vez em cinco anos e meio. A commodity foi duramente atingida por preocupações sobre a fragilidade da demanda chinesa pela matéria­prima da fabricação de aço.

 

O minério australiano referencial para entrega imediata na China caiu US$ 2,60, para US$ 63,30 a tonelada, ontem, segundo o Steel Index. A última vez que o produto foi negociado a esse preço foi em maio de 2009.


A China é o maior produtor mundial de aço e o maior consumidor mundial de minério de ferro transportado por via marítima, que é decisivo para a lucratividade dos grandes grupos de mineração, como a brasileira Vale e as australianas BHP Billiton e Rio Tinto, além de tradings japonesas como a Mitsui.


No ano passado, o preço da matéria­prima foi reduzido à metade, quando uma escalada da oferta superou, em muito, o crescimento da demanda. Analistas disseram que o acúmulo de estoques de aço na China, decorrentes da superprodução de dezembro, afetou a demanda por minério de ferro.


"Enquanto algumas usinas estão desativando a produção, os estoques antigos ainda precisam ser liberados", afirmou a analista Melinda Moore, do Standard Bank, sediada em Londres, que avalia que a demanda por aço caiu, na prática, de 15% a 20% em relação aos níveis de dezembro.


Entre os outros fatores que pesam sobre a demanda chinesa por aço estão a proximidade do feriado do ano ­novo chinês, a decisão de abandonar um desconto fundamental sobre as exportações e a desaceleração da indústria de transformação do país. Uma pesquisa realizada por entidade particular mostrou que o crescimento empacou pelo segundo mês seguido em janeiro.


Com a paralisia do mercado interno de construção civil, muitas usinas siderúrgicas chinesas se voltaram para o mercado de exportação em busca de compradores. No entanto, o governo chinês recentemente aboliu o desconto do imposto sobre as exportações de produtos siderúrgicos que levam boro, e analistas estão inseguros sobre a possibilidade de as iniciativas de oferecer aços com ligas de cromo como alternativa terem sucesso.


As importações de minério de ferro transportado por via marítima do país aumentaram quase 14% no ano passado, para o volume recorde de 932,5 milhões de toneladas. As vendas da Austrália responderam por 58,5% do total, em relação aos 50,9% de 2013, segundo dados recentes do governo.


A BHP e o Rio Tinto intensificaram a produção, num esforço para conquistar participação de mercado e obrigar as produtoras de alto custo a sair de operação. Avalia­se que as duas mineradoras tenham causado a desativação de produtoras responsáveis e ex-­responsáveis pelo fornecimento de 125 milhões de toneladas à China no ano passado.


Na sexta ­feira passada, o Goldman Sachs reduziu suas projeções para o preço do minério de ferro para US$ 66 neste ano, US$ 61 no ano que vem e para US$ 60 em 2017 e 2018, dizendo que o ajuste necessário para equilibrar o mercado está "longe do fim".