A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados chega à reta final com um cenário tumultuado pela disputa entre candidatos dos dois maiores partidos da base da presidente Dilma Rousseff, a briga pelo apoio de PP, PR e PRB e um movimento crescente no PSDB para que o partido desista da aliança com o PSB para aderir ao bloco liderado pelo PMDB.

O governo deixou de lado a campanha discreta que fazia por Arlindo Chinaglia (PT-SP) para, nesta última semana, entrar pesado em uma reunião que reuniu cinco ministros, dirigentes de oito partidos e ameaças veladas aos aliados de que a candidatura do petista é a melhor para manter a governabilidade e o bom relacionamento com o Executivo.

O movimento ocorre porque o governo não vê no líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), um aliado dos mais fiéis depois que o pemedebista liderou rebeliões contra Dilma em votações de medidas provisórias e na formação de um "blocão", que hoje dá sustentação à sua candidatura à presidência, formada por PTB, PSC, SD, DEM, PRB e PHS, além de bancadas suprapartidárias que viveram enfrentamentos com o governo: a ruralista e a evangélica.

A mobilização do Planalto, contudo, pode ter efeito contrário no baixo clero, descontente com a falta de diálogo do governo nos quatro anos de governo Dilma - traduzidos nas piores taxas de fidelidade em plenário desde que o PT chegou ao poder. "O Cunha é mais independente. Vai ser melhor até para o PT porque a Dilma vai ser obrigada a conversar mais", diz um parlamentar de um partido aliado a Chinaglia e que costuma votar com o governo.

Cunha também foi favorecido por lançar sua candidatura três semanas antes dos adversários, enquanto os petistas adiaram ao máximo a escolha de Chinaglia para não brigar com o PMDB enquanto o governo dependia do partido no Congresso nem atraírem para Cunha o apoio de PSDB e PSB, que saíram das urnas em conflito com o PT. Quando anunciaram o nome de Chinaglia, parte da base já tinha declarado apoio ao pemedebista.

Com ajuda do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) articulou um bloco que incluiu ainda PPS e PV para sustentar uma candidatura alinhada à oposição. Mas, com a dificuldade do deputado de angariar votos e a vontade dos tucanos por mais espaço na Mesa Diretora e por derrotar o PT no primeiro turno, é cada vez maior a pressão interna no PSDB para que Delgado desista.

Ontem PSDB, PPS e Delgado organizaram um breve ato para "acabar com qualquer boato de abandono" da candidatura, mas o discurso dos três líderes não freou as movimentações. Tucanos estimam que de 15 a 20 dos 54 deputados eleitos votarão em Cunha no primeiro turno, número que o PMDB alardeia ser superior a 30. Aécio participará da reunião da bancada hoje para tentar frear a migração. Sem Delgado, a disputa será resolvida no primeiro turno.

O grupo de Chinaglia tentou mostrar nos últimos dias que o petista teria equilibrado o jogo contra Cunha, apontado como favorito. Os últimos atos antes da eleição no domingo são a disputa pelos apoios de PR, PRB e PP, negociados até horas antes da formação dos blocos.

Os três partidos foram contemplados com ministérios, o que reforça o discurso pró-Chinaglia, mas já tinham compromissos com o PMDB. Os votos do PP, admitem petistas, já estão praticamente perdidos, mas o Planalto ainda tenta reverter os outros dois.

Os aliados de Cunha espalham que ele teria 330 votos no primeiro turno contra 140 do petista, enquanto os coordenadores de Chinaglia divulgam outro número, de 220 deputados favoráveis ao bloco do PT e 150 ao do PMDB, o que levaria a eleição para o segundo turno. Os números, inflados para cada lado, mostram a dificuldade de fazer o levantamento diante do voto secreto e de escolhas mais pessoais do que partidárias. Existe até deputado cujo partido apoia Chinaglia, assinou carta a favor de Cunha, mas cogita votar em Delgado. O resultado disso só será conhecido na noite de domingo.

 

 

 

Planalto atua para reeleger Renan

O governo iniciou operação a favor da reeleição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no domingo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa da articulação. A avaliação é que Luiz Henrique (PMDB-SC) tem carimbo de oposição e não teria coragem para enfrentar a pressão da opinião pública na defesa de interesses do governo. "Quando vier uma crise, Luiz Henrique não vai resistir às pressões. Renan já apanhou e apanha sistematicamente. Tem couro duro para enfrentar problemas", diz um interlocutor do Palácio do Planalto. Renan pediu ajuda ao governo, prevendo dificuldades no plenário.

Governistas reconhecem que o presidente do Senado cobra um preço politicamente alto pela condução dos assuntos do Planalto. "Mas se compromete e entrega. É firme na condução das votações e opera com frieza. Tem coragem de enfrentar opinião pública e bancar os temas polêmicos. Dá trabalho ao governo, pede mais do que deve, mas assume compromissos e cumpre. Vale o preço."

A tese enfrenta resistência no PT. O governo trabalha para que a bancada decida -em reunião hoje - votar unida em Renan. Mas parte dos petistas defende a renovação no comando do Senado. Alguns calculam que Luiz Henrique pode ter oito dos 13 votos da bancada. Aliados de Renan sinalizam que os partidos podem perder seus lugares na Mesa Diretora se não o apoiarem. O PT tem direito à segunda escolha e tem optado pela 1ª vice-presidência da Casa.

Para tentar convencer a bancada do PT a votar fechada com Renan, Lula lembra que a maior derrota sofrida pela presidente Dilma Rousseff na eleição de 2014, nos 27 Estados, foi em Santa Catarina, onde o tucano Aécio Neves venceu por 64,59% dos votos. O passado de Luiz Henrique demonstraria que, embora diga o contrário, ele não apoia Dilma. Aliados da presidente dizem que ela gosta do catarinense, mas o "momento é delicado e é preciso pragmatismo".

Um dos ministros mais atuantes pró-Renan é Gilberto Kassab (Cidades), apesar das críticas feitas pelo alagoano à operação do dirigente do PSD para criar outra legenda governista e enfraquecer o PMDB. O PSD tem quatro senadores. Kassab almoçou com Renan há alguns dias, que também recebeu Pepe Vargas (Relações Institucionais). O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) teria prometido a Luiz Henrique que o Planalto não se envolveria na disputa. O catarinense disse esperar que a questão fosse decidida pelo Senado.

O ingresso do governo nas articulações de bastidores aumenta a temperatura da sucessão do Senado que, após meses de imobilismo, virou notícia nesta semana. Com o anúncio do PSB de que lançaria a candidatura de Antonio Carlos Valadares (SE)-_ retirada ontem por ele- e, depois, com a decisão de Luiz Henrique de disputar com Renan.

A três dias da posse dos novos senadores e da eleição da Mesa Diretora, o cenário provável é de disputa acirrada no plenário entre Renan e Luiz Henrique. O grupo do atual presidente calcula ter, no mínimo, 53 dos 81 votos. Já os aliados de Luiz Henrique - um grupo "independente" do PMDB e senadores do PP, do PDT e da oposição- diziam que, numa conta "pessimista", ele terá 45 votos.

Aliados de Renan chegaram a cogitar o lançamento de outro senador do grupo - como o líder, Eunício Oliveira (CE), ou Romero Jucá (RR). Seria uma tentativa de unir o partido e manter o poder entre eles. A tese não evoluiu. Renan ganhou fôlego e decidiu ir até o fim. Sua estratégia é ser eleito na bancada do PMDB, que se reúne hoje, às 17h, com essa pauta. Aliados de Luiz Henrique reconhecem a vantagem de Renan nos 18 senadores. Kátia Abreu, ministra da Agricultura, só votará no plenário- e no atual presidente.

Luiz Henrique pretende ser candidato avulso, no plenário. O regimento diz que, na composição da Mesa Diretora, deve ser assegurada, "tanto quanto possível", a proporcionalidade dos partidos. Cabe à maior bancada (a do PMDB) indicar o candidato a presidente. Mas não há vetos a candidaturas avulsas. Costuma haver candidato de oposição, para marcar posição. Luiz Henrique, com promessa de apoio em todos os partidos, espera vencer. Mas as bancadas se reúnem a partir de hoje.