Os ministros das Relações Exteriores de países-membros da União Europeia (UE) concordaram ontem em estender sanções específicas contra indivíduos e empresas na Rússia e no leste da Ucrânia por mais seis meses, mas mostraram pouca disposição por sanções econômicas novas e mais amplas contra Moscou.
Agora, a UE terá uma semana para propor novos alvos a serem afetados pelo congelamento de ativos e embargo de viagens. A aprovação final da nova lista poderá ocorrer na próxima reunião dos ministros em 9 de fevereiro. As restrições atualmente afetam 132 pessoas e 28 entidades.
As sanções estavam previstas para serem encerradas em março e agora serão prolongadas ao menos até setembro.
Os ministros também emitiram uma declaração criticando Moscou por dar apoio "contínuo e crescente" aos rebeldes ucranianos, afirmando que a Rússia compartilha da "responsabilidade" pelo recente aumento da violência.
Os ministros se reuniram ontem em resposta à intensificação dos combates no leste da Ucrânia, incluindo um ataque de mísseis na cidade de Mariupol na semana passada que matou 30 civis.
Os ministros da União Europeia estavam evidentemente preocupados com o risco de que a Grécia e seu ministro das Relações Exteriores, Nikos Kotzias, pudessem representar uma ameaça à unidade já frágil da Europa quando se trata de questões políticas com a Rússia. Vários países da UE, como a Hungria e o Chipre, têm sido cautelosos publicamente sobre sanções, mas se alinharam com a maioria.
Mas o ministro das Relações Exteriores lituano, Linas Linkevicius, sugeriu que seria difícil para a Grécia romper abruptamente a unidade da UE. "Eu não espero que o primeiro passo do novo governo seja quebrar a unidade da Europa", afirmou Linkevicius antes da reunião.
"Eu não sei o que nós vamos dizer em futuras negociações", disse Kotzias. "Eu não estou excluindo nada." Ele disse que a Grécia estava preparada para usar seu poder de veto para impedir novas sanções caso achasse que elas não fossem do seu interesse.
"Quando sanções são impostas, você deve estar ciente das consequências", acrescentou Kotzias. "As sanções criaram problemas financeiros na Grécia."
O governo ucraniano culpou separatistas apoiados pelos russos pelo ataque em Mariupol, enquanto Moscou acusou a Ucrânia de ser responsável pela escalada geral da violência na região. Um alto funcionário da Organização das Nações Unidas disse nesta semana que o ataque a Mariupol é um crime de guerra, já que atingiu civis intencionalmente.
O chanceler da Ucrânia, Pavlo Klimkin, que participou da sessão da UE ontem e se reuniu com o secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental), Jens Stoltenberg, advertiu que o ataque a Mariupol pode levar o conflito a uma nova fase perigosa. "Outro ato terrorista hediondo pode gerar uma nova espiral de violência em uma direção totalmente diferente", afirmou Klimkin.
Num esforço para acalmar as tensões, a Ucrânia e militantes pró-Rússia podem realizar uma nova rodada de negociações de paz hoje. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Belarus disse que havia recebido uma solicitação para a reunião que ocorrerá em Minsk, a capital bielorrussa. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia informou que consultas estavam em andamento e que não podia confirmar sua participação, enquanto que representantes dos rebeldes disseram que estavam prontos para participar.
Outras tentativas de organizar essa reunião acabaram frustradas no último minuto. O recrudescimento da violência atual viola um cessar-fogo firmando em Minsk em setembro e Klimkin culpou os adversários da Ucrânia de sabotar o acordo.
Em Bruxelas, vários ministros se mostraram preocupados em manter a imagem de união do bloco. "Vou trabalhar como sempre para manter a nossa unidade e exercer o máximo de pressão para impedir que a batalha prossiga e para que alcancemos um cessar-fogo", disse Federica Mogherini, a diretora de política externa da UE.
David Lidington, ministro do Reino Unido para a Europa, disse que a UE deve se preparar para tomar medidas mais severas.
"Eu acredito que é dever da UE se preparar para outras opções no futuro, incluindo - o que agora acho que é necessário - a possibilidade de novas medidas contra a Rússia para serem consideradas pelos nossos líderes, dependendo do que acontecer" na região do conflito, disse ele.
Linkevicius recordou a presença recente de líderes internacionais em Paris depois do atentado ao semanário satírico "Charlie Hebdo", usando o slogan de solidariedade que se popularizou depois dos ataques.
"Todos nós dissemos, 'Je suis Charlie'", disse Linkevicius. "Eu pergunto a alguns colegas que ainda estão [considerando] o que fazer: 'Quantas pessoas mais devem ser mortas antes que possamos dizer 'Je suis ukrainien?'"