Os três principais partidos políticos envolvidos no sistema de financiamento de campanha eleitoral com recursos do esquema de corrupção desviados da Petrobras permanecem com espaço generoso na Esplanada na segunda gestão da presidente Dilma Rousseff (PT). No discurso de posse, a petista assegurou que uma das marcas do novo governo será o combate sistemático à corrupção. No comando de 19 ministérios, o PT, o PMDB e o PP, legendas citadas pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa como beneficiárias do propinoduto, durante a campanha de 2010, vão gerir um orçamento anual de R$ 265 bilhões, de acordo com dados do governo analisados pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
O valor desconsidera os recursos do Ministério da Previdência, utilizados para pagar aposentadorias. Isso significa 54% de todo o Orçamento da Esplanada. Integrantes de partidos de oposição, a exemplo do PSDB e do PSB, também foram citados. O PP continua com apenas um ministério, mas teve o orçamento reduzido de R$ 18,5 bilhões para R$ 7,5 bilhões. "Foi um recado sutil", avalia o cientista político David Fleischer, para quem Dilma tem sua parcela de culpa no problema da Petrobras, mas não teria como deixar de nomear colaboradores ligados ao PT, seu partido, e ao PMDB, principal aliado num presidencialismo de coalizão. Outro professor da Universidade de Brasília, João Paulo Peixoto, entende que a presidente é "refém" de um sistema que a obriga a admitir certos ministros.

Na manhã de ontem, durante cerimônia de transmissão de posse, o novo ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, considerado um quadro técnico, mas ligado ao PP, tentou se distanciar dos problemas enfrentados pela sigla. "Temos de separar o que é a questão da Petrobras com os partidos e as indicações da presidente", ressaltou ele. "Ela faz uma escolha pessoal e de confiança. O nome que ela indicou para o Ministério da Integração é de confiança dela. Não apenas uma indicação do partido. É claro que o partido levou o meu nome, porém, essas denúncias e essas delações estão sob segredo de Justiça."

Desdobramentos

Occhi afirmou que a sigla não está preocupada com os desdobramentos da Lava-Jato. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve começar a autorizar a abertura de inquérito contra políticos da base de sustentação do governo federal. "Não há, sob hipótese alguma hoje, a definição de envolvidos ou não e como é esse envolvimento", disse. "Não tenho essa preocupação, o PP não tem essa preocupação. O presidente do partido já foi a público anunciar e afirmar que, se ele estivesse com algum questionamento em relação à Petrobras, ele renunciaria ao mandato."

O cientista político João Paulo Peixoto acredita que o motivo de Dilma nomear ministros ligados a legendas imbricadas na Lava-Jato é a composição do sistema de forças no país. "Seja quem for o presidente da República, ele é obrigado a recorrer a esses partidos para ter uma base no Congresso", explica. Só há duas alternativas para ele, ambas difíceis de acontecer. Uma mudança com reforma política e eleitoral e redução do número de partidos é a primeira. A outra é a presidente correr o risco de enfrentar o Legislativo.

Ele menciona o caso do ministro do Esporte, George Hilton, criticado por atletas por sua falta de experiência na área e que rola uma dívida com o Fisco, só descoberta quando o Correio observou que a empresa não fora informada à Justiça Eleitoral. Para Peixoto, "foi uma surpresa" a nomeação dele. "Ele não vem da área, não é de um partido grande. A presidente é refém do sistema", avaliou o cientista político.

Credibilidade

David Fleischer concorda em parte. "Se ela tira o PMDB do governo, ela vai pra rua", admite. Porém, entende que a alternativa não é mudar o ministério, mas a Petrobras, seguindo a recomendação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de trocar a diretoria e dar credibilidade à maior empresa brasileira. "Dilma é uma pessoa teimosa que acha que sabe tudo e não aceita conselho de ninguém, nem do (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva)", dispara o professor.

Para Fleischer, é preciso que a faxina feita pela presidente em 2011, quando limou do ministério seis colaboradores suspeitos de irregularidades, deveria ter continuar, e, agora, atingir a petroleira. Com essas medidas, ele acredita que a empresa ganharia credibilidade de investidores estrangeiros e isso poderia fazer a economia voltar a crescer. A Petrobras é extremamente relevante nas finanças do país. Seu orçamento de investimentos é tão ou mais significativo que o da União.

Memória

Propina de até 3%

No depoimento prestado à 13ª Vara Federal, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que o Partido dos Trabalhadores ficava com 2% a 3% dos valores dos contratos superfaturados na empresa. De acordo com ele, o PT era o partido que tinha mais diretorias na estatal e, por isso, o que recebia mais recursos por meio de corrupção em contratos com as maiores empreiteiras do país.

Ainda segundo Paulo Roberto, era João Vaccari, o tesoureiro informal do PT, quem arrecadava o dinheiro. O ex-diretor firmou acordo de delação premiada para confessar crimes e auxiliar na investigação em troca de redução da pena.

O PP, à frente da Diretoria de Abastecimento, ficava com 1%. No esquema delatado, a atividade era conduzida pelo ex-líder do partido na Câmara José Janene (PR), morto em 2010, e, depois, pelo doleiro Alberto Youssef. No PMDB, que comandava a Diretoria Internacional, segundo as denúncias, os pagamentos eram operados pelo lobista Fernando Soares, o "Fernando Baiano". Na subsidiária da estatal Transpetro, comandada pelo ex-senador Sérgio Machado (PMDB-CE), também havia corrupção. Paulo Roberto disse ter recebido R$ 500 mil das mãos de Machado entre 2009 e 2010. (JV)

A fatia de cada um

PT

12 pastas - R$ 246 bilhões**

Casa Civil: Aloízio Mercadante

Comunicações: Ricardo Berzoini

Defesa: Jaques Wagner

Desenvolvimento Agrário: Patrus Ananias

Desenvolvimento Social: Teresa Campello

Direitos Humanos: Ideli Salvatti

Justiça: José Eduardo Cardozo

Mulheres: Eleonora Menicucci

Previdência: Carlos Gabas

Relações Institucionais: Pepe Vargas

Saúde: Arthur Chioro

Secretaria-Geral: Miguel Rosseto

PMDB

6 pastas - R$ 11 bilhões

Agricultura: Kátia Abreu 

Aviação Civil: Moreira Franco

Minas e Energia: Eduardo Braga

Pesca: Hélder Barbalho

Portos: Edinho Araújo 

Turismo: Vinícius Lages 

PP

1 pasta - R$ 7,7 bilhões

Integração Nacional: Gilberto Occhi

Demais partidos

20 pastas - R$ 230 bilhões

*Valores pagos e restos a pagar pagos

em 2013 para cada ministério.

** Não inclui orçamento do Ministério da Previdência, boa parte usada para bancar aposentadorias.

Fonte: Inesc, com base em dados do Siafi

Transposição em um ano

As obras de transposição do Rio São Francisco devem ser concluídas até o início de 2016, garantiu ontem o novo ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi. "Estamos com 70% das obras executadas", contabilizou. "Nossa previsão é para o início do ano que vem, em 2016, entregarmos essas obras. A expectativa é essa, de entregar uma obra importantíssima para a Região Nordeste." Ele ressaltou que a obra abastecerá "não só por onde o canal passará". Segundo Gilberto Occhi, obras de construção de adutoras levarão água para outras cidades perenizando o abastecimento na região. O novo ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, afirmou ontem que a transposição do Rio São Francisco deve ser concluída em um ano. Ele informou que dará prosseguimento aos trabalhos de transposição de águas do Rio São Francisco, que estão com 70% da sua execução física concluídos. Uma das prioridades será a revitalização da bacia do rio e de seus afluentes.