Título: Ralos no orçamento do GDF
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Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2011, Opinião, p. 12

Os ralos por onde escorrem recursos do Governo do Distrito Federal parecem multiplicar-se dia a dia. Em menos de duas semanas, dois deles vieram à tona. No primeiro, o GDF figura como devedor inadimplente. Em 2006, o governo, à época sob o comando de Maria de Lourdes Abadia, recebeu quase R$ 170 mil do Ministério da Cultura para investir no projeto Capital Jovem. A pasta, que tinha como titular a hoje distrital Celina Leão, desperdiçou a verba e, claro, deixou de fazer o que até síndico de prédio sabe que tem de fazer ¿ prestar contas.

Cinco anos depois, o GDF está incluído na lista nacional de inadimplentes. A pendência impede a capital de captar financiamentos nacionais e estrangeiros. Sinal vermelho aceso, a Secretaria de Governo anunciou que devolverá o dinheiro aos cofres da União. Pelos cálculos do MinC atualizados em janeiro de 2011, o valor inicial deve ser acrescido de 35%. Os R$ 168.253,20 passarão a R$ 227.563,80. A diferença, que o GDF contesta, corresponde a juros e correção monetária.

Trata-se de duplo prejuízo. Um deles: o contribuinte pagou um projeto que não se concretizou. O dinheiro, ao que tudo indica, escorreu pelo ralo. O outro: os jovens para quem o benefício se destinava perderam a oportunidade de colher os frutos e seguir em busca de novas semeaduras. Em suma: rapazes e moças das classes menos privilegiadas constituem o segmento mais vulnerável da sociedade. São os que mais se evadem da escola e, fora do sistema, tornam-se presa fácil do tráfico. A malversação do dinheiro, pois, não atinge apenas o alvo do projeto. O desvio rouba o futuro.

No segundo escorredouro do dinheiro público, o GDF figura como credor. Trata-se de pessoas físicas e jurídicas que se valem de brechas na legislação para adiar o pagamento de tributos. Lista a que o Correio teve acesso reúne os maiores devedores. São 400, incluídos inadimplentes e empresas. Cada um deixou de recolher, pelo menos, R$ 500 mil ao erário. A dívida ultrapassa os R$ 8 bilhões.

A soma é tão alta que se torna difícil lhe calcular a dimensão. Com ela, poder-se-iam construir 3 mil escolas, 26 hospitais e oito estádios olímpicos com o padrão exigido pela Fifa para a Copa do Mundo de 2014. Ou, em outro exercício, os recursos seriam suficientes para cobrir os gastos com educação, saúde e segurança do DF durante um ano. É importante que o GDF lance mão de todos os meios para recuperar o dinheiro. Impõe-se agir com rapidez. Em cinco anos, a dívida prescreve.