Título: Entrevista Leocenis García
Autor: Craveiro, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2011, Mundo, p. 14

"A oposição está coesa" Ele esteve dois anos preso na penitenciária de Tocuyito, onde foi submetido a tortura com choques elétricos, após denunciar casos de corrupção na estatal petrolífera PDVSA. Solto em 2010, está proibido de deixar a Venezuela.

O jornalista Leocenis García, editor do semanário político Sexto Poder, é um dos mais aguerridos opositores do país. Em entrevista ao Correio, por e-mail, ele fala sobre o retorno de Chávez, denuncia a intervenção de Cuba nos assuntos da Venezuela e admite que o presidente deve perder as eleições de 2012.

Como o senhor vê o regresso de Chávez à Venezuela? Na Venezuela, o senhor presidente não tem movido um dedo sem que Havana o recomendasse. Por exemplo, foi Fidel Castro quem, durante o golpe de 2002, recomendou a Chávez recuar na demissão do gerente da estatal petroleira PDVSA. O plano de retorno a Caracas foi orquestrado em Havana. O que posso lhe dizer é que um informante muito próximo de Chávez nos contou que o presidente tinha uma septicemia. Tudo o que posso afirmar é que a doença de Chávez tornou-se pública por ordem de Havana, em uma conjuntura de escândalos de torturas na polícia científica, de uma crise carcerária que deixou 30 mortos e dezenas de desaparecidos, e de um escândalo de corrupção do ministro do Interior e da Justiça, Tarek Alisami ¿ acusado de manejar, por meio de seu irmão, milionárias contas na Suíça.

A decisão do presidente é uma jogada de marketing ou uma tentativa de acalmar os chavistas? O chavismo não ganha uma eleição sem Chávez. Caso ele se aposentasse e deixasse um substituto para disputar as eleições de 2012, ficaria claro que buscaria uma saída honrosa do poder. E o câncer tem servido para esse fim. Tudo está friamente calculado. Lembre-se de que isso começou com o fato de Chávez ter anunciado sua cirurgia sem mencionado o câncer. Não saberemos como isso terminará, porque no Paraguai, por exemplo, membros da oposição aumentaram a pressão, assim que souberam do câncer do presidente Fernando Lugo. Debilitado pela doença, ele já havia perdido a maioria no Parlamento. Chávez também perdeu a maioria qualificada na Assembleia Nacional e sua situação nas pesquisas é muito difícil.

Com o câncer do presidente, a oposição deveria articular a sucessão? Chávez sabe que não tem a oposição de 2002, aventureira e desesperada. A oposição está articulada, coesa em uma aliança departidos de centro-esquerda e de direita chamada de Mesa da Unidade. Creio que qualquer pessoa no governo acreditava que a oposição apelaria ao caos ante o anúncio do câncer. Isso não ocorreu. A oposição sabe que pode vencer as eleições de 2012. Pela primeira vez, ela não dança a música que Chávez coloca, mas escolhe sua própria canção. (RC)