O movimento mais evidente da diplomacia que se inaugura no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff é o esforço de reaproximação com os Estados Unidos. Depois de receber os cumprimentos no Palácio do Planalto pela posse ontem, Dilma foi ao Itamaraty. Chegou às 19h e foi para uma sala conversar com o vice-presidente norte-americano, Joe Biden, que a aguardava — ele chegou 40 minutos antes para participar do coquetel aos chefes de Estado e demais representantes de outros países que vieram para a posse. 

A presença de Biden em Brasília ontem é um sinal do esforço colocado pelo lado norte-americano nessa tentativa de aproximação. Na posse do primeiro mandato, quem representou o presidente Barack Obama foi a então secretária de Estado, Hillary Clinton. Biden não apenas tem um cargo de maior prestígio. Ele é muito próximo de Obama. Além de participar de decisões, recebe dele missões especiais. Neste momento, participa da costura da reaproximação das relações com o Brasil após o esfriamento iniciado quase dois anos atrás.

Em 2013, quando vieram à tona informações de que o celular de Dilma havia sido espionado pela maior economia do planeta, ela cancelou viagem a Washington. Agora, a expectativa é de que a visita de Estado seja finalmente viabilizada. O assunto certamente foi tratado por Dilma e Biden na conversa de ontem. Na saída do encontro, que durou cerca de uma hora, o vice-presidente foi questionado sobre se a presidente viajaria aos EUA. Biden respondeu: “I hope so” (Acredito que sim, em tradução livre). E continuou dizendo que “é um novo ano e um novo começo”.

Comércio exterior
A disposição do governo brasileiro nesta retomada de contatos também é bastante clara, e não apenas por Dilma ter encontrado tempo em um dia tão cheio de compromissos como ontem para conversar com o representante norte-americano. Ela escolheu como ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, que era o embaixador do Brasil em Washington. E para lá mandará Luiz Alberto Figueiredo, que deixa o comando do Itamaraty. Vieira e Figueiredo participaram do encontro com Biden, assim como Marco Aurélio Garcia, assessor especial para assuntos internacionais, e o embaixador Carlos Antônio Paranhos. 

Essa decisão conjunta parece especialmente desenhada para garantir o sucesso do processo de aproximação. Não é à toa. Com o desempenho da balança comercial nos piores patamares históricos, os Estados Unidos podem funcionar como uma tábua de salvação para o comércio exterior brasileiro.

O Brasil vende mais produtos manufaturados para os norte-americanos do que para a maioria dos outros parceiros. A China compra muito do Brasil, mas basicamente soja e minério de ferro. Até mesmo os industriais, que eram reticentes em relação à costura de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos por temerem o aumento da concorrência com os produtos deles aqui passaram a defender esse tipo de negociação. Afinal, se há riscos, há também chances de aumento das vendas para lá.

Vieram para a posse de Dilma 14 chefes de Estado e de governo, incluindo a presidente do Chile, Michelle Bachelet; e os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro; da Bolívia, Evo Morales; e do Uruguai, José Mujica.

Ontem, depois do encontro com Biden, Dima reuniu-se com a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova. Hoje, deverá se encontrar no Palácio do Planalto com Maduro; com o presidente de Guiné-Bissau, José Mário Vaz; com o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven; e com o vice-presidente da China, Li Yuanchao.