Título: Mulheres ainda ganham menos
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 05/07/2011, Cidades, p. 29

Maria Aparecida Pereira da Silva, 47 anos, enfrenta todos os dias a luta para sobreviver em um mundo onde as probabilidades estão contra ela. Além de mulher, ela é negra. Os dois fatores têm peso negativo na hora do ingresso no mercado de trabalho, como mostra o Anuário das mulheres brasileiras, divulgado ontem e elaborado pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) da Presidência da República e pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O levantamento revelou que o rendimento das mulheres é inferior ao dos homens. Se a trabalhadora for negra, a situação é pior: além de ganharem menos, elas estão relegadas a postos que pagam salários baixos e exigem pouca instrução. É o caso de Maria Aparecida, que é empregada doméstica e recebe o salário mínimo (R$ 545).

De acordo com o Anuário das mulheres, que compilou dados de outras cinco regiões metropolitanas, além de Brasília, o salário médio pago às mulheres em 2010, R$ 1.167, equivaleu a 50,8% do salário masculino. O rendimento de uma mulher negra, R$ 1.731, representou 88,2% do valor pago a um homem negro e 54,9% do ga-nho mensal de um homem não negro. Se levada em conta a cor da pele da trabalhadora, a disparidade de renda não fica restrita a homens e mulheres: o salário das negras no ano passado foi o equivalente a 65,1% do das não negras.

Outra desvantagem é que a mulher negra ocupa o dobro de postos no serviço doméstico frente à não negra, 18,6% contra 9,9% Para a assessora especial da SP M, Tatau Godinho, o Anuário das mulheres mostra desigualdades persistentes no mercado.

"A mulher continua em profissões desvalorizadas do ponto de vista salarial e social. Isso se destaca ainda mais em relação às mulheres negras", analisa.

Apesar do ganho mensal parco, Maria Aparecida da Silva diz ter sorte por estar empregada. "Fui à escola até a 4ª série. Por isso e por ser mulher, o único trabalho que encontro é de doméstica e olhe lá. Muitas vizinhas tentam trabalhar em casa de família, mas não conseguem. Levo vantagem porque tenho experiência e referências", conta ela, que, com o marido sustenta , o filho Gabriel, de 7 anos.

Injustiça A situação de renda menor das mulheres frente à dos homens é mais injusta face ao fato de que elas estão à frente na escolaridade.

O índice de mulheres com ensino médio completo no mercado de trabalho local, 35,8%, é superior ao de homens, 33,6%. O mesmo se dá com a taxa de mulheres com ensino superior completo, de 29,4% contra 25,4% para os homens.

Para a consultora de recursos humanos Carmem Cavalcante, apesar da situação de desvantagem da mulher no mercado, têm ocorrido avanços. "A cultura do meio corporativo é machista e reflete a sociedade. Mas houve ganhos nas últimas cinco décadas, incluindo a maior participação da mulher no mercado. Hoje, já temos exemplos isolados de mulheres que vêm quebrando preconceitos", destaca.

Fontes Para a elaboração do Anuário das mulheres brasileiras, foram usadas principais bases de dados como Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios; Pesquisa de Emprego e Desemprego; Relação Anual de Informações Sociais; estatísticas compiladas pelo Tribunal Superior Eleitoral; e Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). As informações foram analisadas a partir de recortes geográficos do Brasil ¿ grandes regiões e áreas metropolitanas de Belo Horizonte, DF, Fortaleza, Recife, Salvador e São Paulo.