O sistema de bandeiras tarifárias deverá ser uma pressão adicional importante na inflação de janeiro de 2015. Economistas consultados pelo Valor calculam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do primeiro mês do ano pode superar 1% com o encarecimento da energia elétrica em função do novo regime, o que levaria o indicador acumulado em 12 meses a estourar novamente o teto da meta, de 6,5%, logo após ter voltado a ficar abaixo desse limite em dezembro de 2014.

As bandeiras vão indicar aos consumidores se usinas térmicas mais caras estão sendo acionadas, modelo que permitirá antecipar repasses de custos às tarifas dos gastos adicionais com a geração de energia. A bandeira verde indica que não haverá reajuste. A bandeira amarela sinaliza condições menos favoráveis e um adicional de R$ 1,50 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos. Já a bandeira vermelha, que indica condições "bastante desfavoráveis", implicará acréscimo de R$ 3 a cada 100 kWh.

 

 

No cenário da LCA Consultores, o ano começará com bandeira verde nos subsistemas Norte e Sul, mas no principal do país, o Sudeste/Centro-Oeste, a bandeira estará vermelha, assim como no Nordeste, o que significa um reajuste de cerca de 10% nas contas de luz. Por conta do novo regime, o economista Fabio Romão estima que o item energia elétrica residencial vai aumentar 7,8% no IPCA de janeiro, o que adicionará 0,22 ponto percentual ao indicador oficial de inflação.

Já nos cálculos de Priscilla Burity, do banco Brasil Plural, que trabalha com bandeira vermelha em todos os subsistemas no período, o IPCA acumulado em 12 meses começará 2015 em 6,9%, assumindo que o indicador mensal terá alta de 1%, com impacto de 0,25 ponto percentual vindo das tarifas de energia elétrica. "Basicamente, o regime de bandeiras muda a sazonalidade dos preços de energia", comenta a economista, já que os reajustes que normalmente seriam incorporados nas revisões tarifárias das distribuidoras serão antecipados para janeiro.

Sem a entrada em vigor do sistema de bandeiras, Romão calcula que o IPCA de janeiro ficaria no nível esperado para dezembro, em 0,72%. Com a pressão adicional das contas de luz, no entanto, o indicador deve subir 0,94%, num período já marcado por aceleração de outros grupos, como alimentos. "Não será um janeiro extraordinário, mas mesmo assim a inflação será pesada."

Na média de 2015, a LCA estima que o item energia elétrica vai subir 20,9% dentro do IPCA, previsão revisada para cima recentemente, em função do reajuste de 46% da tarifa de potência da usina de Itaipu, que serve de base para o pagamento mensal das distribuidoras pela energia contratada. Do percentual projetado para alta ao consumidor, Romão avalia que cerca de dez pontos estão relacionados ao início do regime de bandeiras, partindo do pressuposto de que, na média do ano, a bandeira deve ficar amarela em todos os quatro subsistemas.

Segundo Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, o novo sistema de cobrança não alterou sua projeção para alta média de energia esperada para o próximo ano, que permanece em 18,6%, mas deve concentrar uma parte considerável do ajuste em janeiro. Assim como o Brasil Plural, levando em conta que o ano começará com bandeira vermelha em todos os subsistemas, Adriana avalia que os preços de energia vão aumentar 8,8% no primeiro mês de 2015, o que levará o IPCA a avançar 1,3%. Se confirmada, essa seria a maior alta do indicador para o mês desde 2003, quando a inflação no primeiro mês do ano foi de 2,2%.

Elson Teles, do Itaú Unibanco, tem projeção parecida para os preços de energia em janeiro, de aumento de 8,5%. Teles observa que, além da aceleração esperada para as contas de luz, outros fatores devem levar o IPCA a subir perto de 1% no período, como reajustes de tarifas de transporte urbano e a recomposição total do IPI para automóveis 1.0, que deve subir de 3% para 7% já na virada do ano. "Em janeiro, provavelmente teremos um salto na inflação", diz o economista.

 

Seis capitais concentram 24% do PIB do país, revela IBGE

 

Seis municípios brasileiros continuaram concentrando, em 2012, quase um quarto de toda a riqueza produzida no país. Os dados constam do Produto Interno Bruto dos Municípios 2012, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro se mantém praticamente inalterado desde 2008. Em 2011, esses municípios detinham 24, 6% do PIB. Em 2014, recuaram para 24%.

São Paulo lidera, com 11,4% de participação em 2012, contra 11,6% em 2011. A seguir, vem o Rio de Janeiro, com 5%, contra 5,1%. Brasília ficou com 3,9%, abaixo dos 4% de um ano antes; Curitiba respondeu por 1,3%, contra 1,4% em 2011; Belo Horizonte manteve 1,3% e Manaus baixou 0,1 ponto, para 1,1%. No total, as seis cidades abrigam 13,6% da população brasileira.

A participação das capitais no PIB foi a menor desde o início da série histórica, em 1999. As 27 capitais - Brasília inclusive - responderam, em 2012, por 33,4% do PIB nacional, contra 33,7% em 2011. Em 1999 havia sido 38,7%.

Metade do PIB do país em 2012 foi produzido em 57 municípios - incluindo os seis maiores -, que, juntos, respondem por 31,4% da população nacional. O Brasil tem 5.565 municípios.

Entre as cidades brasileiras que não são capitais, 11 destacaram-se por gerar individualmente mais de 0,5% do PIB em 2012, somando 8,7% do total das riquezas produzidas no país naquele ano: Campos dos Goytacazes (RJ), Guarulhos (SP), Campinas (SP), todos com 1% de participação no PIB; Osasco e Santos, ambos em São Paulo, com participação de 0,9% cada; São Bernardo e Barueri, em São Paulo, com 0,8% cada; Betim (MG), São José dos Campos (SP) e Duque de Caxias (RJ), com 0,6% de participação cada; e Jundiaí (SP), com 0,5%.

Na outra ponta, outros 1.334 municípios do país respondiam por apenas 1% do PIB e 3,3% da população. Nesse grupo estão 75,9% dos municípios do Piauí, 61,4% dos municípios da Paraíba, 53,2% dos municípios do Tocantins e 50,9% dos municípios do Rio Grande do Norte Na maior parte dos Estados, os cinco municípios com os maiores PIBs respondem por mais de 30% do PIB estadual.

O município de Padre Carvalho (MG) foi o que mais ganhou posições no ranking, saltando da 4.959ª para a 2.985ª posição de 2011 para 2012. Depois apareceram Abadia de Goiás (de 3.859º para 1.979º) e as mineiras Guaraciama (de 4.914º para o 3.389º) lugar; Josenópolis (5.117º para 3.653º) e Olhos d'Água (4.035º para o 2.616º).

Segundo o IBGE, as cidades mineiras se beneficiaram do crescimento da produção de carvão vegetal e de madeira em 2012. Abadia de Goiás contou com abertura de um frigorífico e de um atacadista de móveis e eletrodomésticos.

Municípios pouco populosos, mas com concentração de grandes empresas, ficaram com o maior PIB per capita, caso de Presidente Kennedy (ES), com R$ 512 mil e de Louveira (SP), com R$ 285,6 mil.

 

FGV prevê estouro do teto da meta em 2015

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá 0,7% em dezembro e encerrará o ano em 6,3%, abaixo do teto da meta estabelecida pelo governo, de 6,5%. A projeção é da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 2015, o IPCA deverá fechar o ano em 6,7%. "Ano que vem, vamos passar grande parte dele acima do teto da meta. As chances são grandes de não haver retorno [para a meta]. Preços administrados vão subir, alimentação não desacelera, e o câmbio fará mais pressão", afirmou o economista Salomão Quadros, da FGV. De acordo com as projeções da FGV, os preços administrados saltarão de 5,4% neste ano para 7,8% em 2015. Esse tipo de inflação, pelos cálculos de Quadros, será puxada pela energia elétrica, que terá variação entre 18% e 25% no próximo ano. Outra fonte de inflação, o dólar deve fechar 2015 cotado a R$ 2,80. Já a economia brasileira deve crescerá 0,6% em 2015, depois de avançar 0,1% em 2014, de acordo com as projeções do Ibre/FGV. Na avaliação da economista Silvia Matos, a economia brasileira passará o primeiro semestre do ano que vem em terreno negativo, com variações próximas a zero. Na segunda metade de 2015, a atividade econômica deve melhorar. "O crescimento será baixo, com a necessidade de se fazer ajustes na economia, queda do investimento e da demanda", afirmou a economista, em seminário da FGV. Para a FGV, sob a ótica da produção, a agropecuária deverá ter o melhor desempenho. De acordo com os números da fundação, na passagem de 2014 para 2015, a agropecuária terá o maior crescimento entre as atividades, com alta de 2,2% em 2015, após avanço estimado de 1%. A indústria, que deve ter queda de 1,6% em sua produção em 2014, deverá recuar 0,5% no ano que vem. Já os serviços devem subir 0,8%, após alta de 0,7% em 2014. Na ótica da demanda, a FGV estima que o consumo das famílias deverá crescer 0,5% em 2015, abaixo da variação estimada de 0,7% em 2014. O consumo do governo, projeta a FGV, crescerá 1,8% em 2015, ante alta de 2% em 2014. Já a taxa de investimentos deve ser de 16,6% em 2015, o menor patamar desde 2007.