Título: PMDB jura não querer o cargo
Autor: Rothenburg, Denise ; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2011, Política, p. 2

Líder do partido na Câmara nega que tenha interesse no ministério do PR. Oposição mantém discurso de investigações

O PMDB aproveita a crise entre o governo e o PR para tentar tirar algum proveito. Ontem, durante a reunião da bancada, o líder Henrique Eduardo Alves (RN) fez dois anúncios: "Alfredo Nascimento está deixando o posto, mas, antes que venham fazer alguma intriga, quero dizer que o PMDB não vai pleitear o cargo. Absolutamente. O PMDB não quis, não quer. Nosso partido respeita o PR e o apoiará na indicação do novo nome", comentou, com a aprovação de todos.

A reunião da bancada do PMDB terminou no momento em que Alves foi chamado ao telefone. Era o vice-presidente, Michel Temer, avisando que Alfredo, escanteado das reuniões de sua pasta, tinha entregado a carta de demissão.

"O Alfredo não mereceu o desenlace desse jeito. Teve resultados expressivos no governo. Foi demitido sem ter nada comprovado contra ele", disse o deputado Luciano Castro (PR-RR).

"O Paulo Sérgio Passos é do PR, mas não tem militância", acrescentou. "Não aceito o Passos, não aceito o nome de ninguém antes de discutir com a bancada", afirmou Lincoln Portela (PR-MG), líder da sigla na Câmara.

O presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), lamentou o desfecho do episódio, mas disse que Alfredo tomou a decisão no momento certo, antes que a crise parasse o governo.

"O escândalo ameaçava paralisar as obras na Valec, no Dnit e no ministério, algo que seria muito ruim para o país", completou.

Novo mensalão Para o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), a saída do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, não elimina a necessidade de investigação sobre o suposto esquema de cobrança de propina na pasta. "Há fortes indícios de que existe um mensalão no Ministério dos Transportes e a saída do ministro não pode ser um ponto final na história. O Ministério Público precisa investigar, mensurar a extensão dos danos à sociedade e pedir o ressarcimento aos cofres públicos dos recursos que possivelmente foram desviados", disse.

De acordo com Nogueira, a queda do segundo ministro em um intervalo de um mês é ruim para o país. "Nestes seis meses, o governo gastou muita energia tentando estancar crises e paralisou suas ações. Os investimentos estão travados. O custo para o país é altíssimo."

O líder tucano protocolou ontem na Procuradoria-Geral da República aditamento à representação de investigação contra Nascimento pedindo que o procurador inclua o filho do ex-ministro, Gustavo Morais Pereira ¿ que teve seu patrimônio aumentado em 86.500% em dois anos.

O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM) reforça o coro. Para ele, as demissões não significam que o esquema de corrupção tenha sido desmontado. Ele recorda, inclusive, que o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), denunciou recentemente a existência de uma quadrilha no Ministério dos Transportes.

Depois de aprovar o convite a Pagot para falar na Comissões de Fiscalização e Transportes, Avelino quer agora chamar o governador cearense para "esclarecer melhor o que motivou a declaração".

Ontem, a Controladoria-Geral da União designou uma equipe para fazer auditoria nas licitações, nos contratos e nas execuções de obras a cargo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da empresa estatal Engenharia, Construções e Ferrovias S.A (Valec), envolvidas nas denúncias de irregularidades. Uma portaria com informações sobre as auditorias será publicada hoje no Diário Oficial da União.