Descontentes com a falta de diálogo com o governo Dilma Rousseff, deputados e senadores do PT pediram ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que assuma a articulação política do segundo mandato da presidente.

Em reunião de quase cinco horas na quarta-feira, em Brasília, Lula ouviu queixas de parlamentares petistas sobre a atuação do ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante (PT), que "monopoliza" a presidente e torna o Planalto "autista", segundo relato de um dos presentes no encontro. "As bancadas na Câmara e no Senado estão desarticuladas, sem orientação e falta um gabinete de crise para responder aos problemas envolvendo a Petrobras ", comentou esse parlamentar.

Deputados e senadores criticaram a demora da presidente Dilma para definir o núcleo político do governo e pediram encontros com mais frequência com o ex-presidente Lula. "O governo precisa definir logo a coordenação política", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

"Em qualquer reunião do PT o assunto é o mesmo: é preciso melhorar a relação do governo com o Congresso", disse o senador Jorge Viana (AC). "É preciso ter mais gente ajudando na articulação política", disse.

Os parlamentares veem com bons olhos uma possível indicação do ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e do governador da Bahia, Jaques Wagner, para o núcleo duro político do governo. Wagner, no entanto, tem se queixado a petistas da demora da presidente para definir qual será seu papel na gestão.

Diante das reclamações, Dilma e Lula chamaram Wagner para participar de um almoço na quarta-feira, para tratar da articulação política e governabilidade no segundo mandato. Participaram também Mercadante e o presidente do PT, Rui Falcão. Berzoini foi chamado, mas teve de cuidar pessoalmente das últimas articulações para garantir o desfecho da votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias no Congresso e não pode ir.

Depois da reeleição apertada de Dilma, Lula passou a ter uma atuação mais intensa na articulação política do governo federal. O encontro do ex-presidente com a presidente foi o terceiro em Brasília, depois da eleição, para definir a montagem da nova equipe ministerial e governabilidade. Um dia antes, na terça-feira, o ex-presidente reuniu-se com 34 embaixadores de países africanos, para discutir as relações entre Brasil e África.

Em São Paulo, o petista tem se reunido com frequência com petistas e lideranças de partidos aliados e no mês passado chegou a convocar uma reunião da bancada petista do Senado para afinar o discurso contra a oposição.

"A relação que Dilma tem com Lula é única. Eles se reúnem a cada 20 dias e o papel dele é muito importante. Estamos enfrentando um embate com uma temperatura muito alta e Lula é um craque na política", disse Viana.

Na conversa, Lula falou a parlamentares sobre a possibilidade de cristalização da candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara se o PT demorar para definir quem apoiará na disputa. Segundo relatos, Lula teria falado dos riscos de o governo se desgastar como foi em 2005, quando a bancada petista estava dividida e perdeu a disputa para Severino Cavalcanti (PP-PE).

Alguns parlamentares defenderam um eventual acordo com Cunha e a aplicação do rodízio entre PT e PMDB na presidência da Casa. O PT ficaria agora com a primeira vice-presidência e daqui a dois anos lançaria candidato.

No encontro com parlamentares, houve muitos elogios à equipe econômica, mas críticas à possível indicação da senadora Katia Abreu (PMDB-TO) ao Ministério da Agricultura. Parlamentares apontaram que a senadora não é consenso nem dentro da bancada ruralista.

 

 

Presidente é pressionada a empossar equipe

Andrea Jubé e Leandra Peres 

A presidente Dilma Rousseff tem sido pressionada a antecipar a posse dos novos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Mas Dilma e o próprio Levy resistem, porque o clima entre o novo ministro e seu antecessor, Guido Mantega, é tenso, e falta transparência na transição. 

O assunto foi discutido entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em almoço no Palácio da Alvorada na quarta-feira. 

Mentor da proposta de posse antecipada, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, colocou o assunto sobre a mesa no almoço que reuniu Dilma, Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, que terá um assento na Esplanada dos Ministérios, ainda indefinido. Por ora, é cotado para o Ministério das Comunicações. 

Para sustentar a tese da posse antecipada, Mercadante argumenta que Levy e Barbosa devem receber desde já as respectivas canetas para começarem a trabalhar com plenos poderes, inclusive sobre as futuras medidas de ajuste fiscal. A ideia é que assumissem os cargos na próxima semana, já que a revisão da meta fiscal deste ano já foi aprovada pelo Congresso Nacional. 

Barbosa, Levy e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini - que segue no cargo no segundo governo Dilma - tiveram seus nomes formalizados no comando da nova equipe econômica no dia 27 de novembro. A partir de então, Levy e Barbosa passaram a despachar em salas reservadas a eles no terceiro andar do Palácio do Planalto, próximas ao gabinete de Dilma, em regime de transição. 

O relacionamento entre as equipes de transição de Barbosa e da atual titular do Planejamento, Miriam Belchior, flui sem sobressaltos. 

Mas a transição entre Mantega e Levy não tem sido tranquila. Desde que Levy passou a conduzir reuniões na sala de reuniões da secretaria-executiva no Ministério da Fazenda - extrapolando os limites da sala de transição no Planalto - técnicos descrevem um ambiente de desconforto que parece ser mútuo. 

Em episódio recente, Levy chamou assessores para reuniões. 

Na sequência, os mesmos assessores foram chamados ao gabinete do atual ministro. 

Além disso, o ambiente não é de transparência plena. Levy reclama que não tem sido informado de todas as decisões que são tomadas pela Fazenda. Já houve momentos em que discordou, abertamente, de algumas delas. 

De acordo com integrantes do governo ouvidos pelo Valor, o futuro ministro, por exemplo, não achava ser necessário emitir R$ 30 bilhões em títulos para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) neste ano, assim como não teve conhecimento detalhado da operação entre a Eletrobras e a Petrobras para salvar o caixa da petroleira. 

Fontes do Planalto ouvidas pelo Valor atribuem às turbulências na transição e à insegurança nas informações repassadas pela equipe do atual ministro aos assessores de seu sucessor a resistência do próprio Levy em sentar-se na cadeira antes dos demais colegas de Esplanada. 

Além do mais, ainda há um pacote de medidas indigestas a serem tomadas nos próximos 15 dias. Para estes casos, a caneta ainda estará em poder de Mantega. 

O projeto da posse antecipada não é novo. Surgiu com a necessidade de anunciar o quanto antes, logo depois da reeleição, a nova equipe econômica que seria responsável pelo ajuste fiscal e pelo saneamento das contas públicas. 

Desde então, o prazo para isso seria a aprovação da revisão da meta fiscal deste ano. Como o projeto se arrastou, o assunto entrou em banho-maria. Mas com a aprovação final da matéria nesta semana, voltou a ganhar força. Ontem à noite, Dilma chamou o ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para esclarecer o andamento do projeto da revisão da meta fiscal e seus correlatos a toda equipe econômica, nova e velha. A expectativa de todos é que na próxima semana o Congresso aprove a Lei Orçamentária para 2015.

 

 

Para Pezão, Levy representa o Rio no ministério

 

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), disse que a nomeação de um ministro do Estado para a pasta dos Esportes "é uma aspiração de parte da bancada, mas não do governador". Segundo Pezão afirmou ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, "nós já temos um ministro no próximo governo, que se chama Joaquim Levy. Que mais podemos querer?", disse, se referindo ao futuro ministro da Fazenda, que foi secretário da Fazenda durante o governo de Sérgio Cabral, o antecessor de Pezão e principal impulsionador de sua candidatura.
A prioridade de Pezão e do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), não é o ministério, mas a costura para a sucessão na capital do Estado em 2016. "Meu candidato é o candidato do prefeito, o deputado Pedro Paulo". Secretário da Casa Civil de Paes, Pedro Paulo Carvalho foi o terceiro mais votado do partido na eleição para a Câmara em outubro. O segundo mais votado foi Leonardo Picciani, filho do deputado estadual Jorge Picciani, um dos cardeais da sigla no Estado. O mais votado foi o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha.

Há uma disputa dentro do partido. Picciani foi lançado pré-candidato pelo pai, que aspira voltar à presidência da Assembleia Legislativa. Na campanha eleitoral, os Picciani lideraram a ala local do partido que apoiou sem sucesso a candidatura presidencial do tucano Aécio Neves. Em Brasília, Picciani é um dos parlamentares mais próximos de Cunha. A sugestão de um ministério para o grupo de Pezão é interpretada por parte do PMDB como uma manobra para adiar a definição da eleição em 2016.
A eleição para a prefeitura da capital do Rio, por si só, já é crucial no cenário político pelo peso do eleitorado carioca, que representa 39,8% do total do Estado. Ganhou ainda mais relevância pelos R$ 30 bilhões em obras que passou a concentrar em função da Olimpíada de 2016. E tornou-se decisiva para definir a sucessão estadual já que Pezão não pode se reeleger em 2018 e nem Paes pode concorrer a um novo mandato como prefeito.

O governador tenta montar um secretariado que mantenha a frente que apoiou sua reeleição em outubro e faça adormecer a disputa dentro do PMDB. Para isso negocia a entrada no secretariado do candidato derrotado ao Senado na chapa, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM): "Ele poderá vir para o secretariado. Só não será um supersecretário, como andam dizendo. Neste governo, super só eu." Atualmente vereador no Rio, Maia afirmou que não está participando diretamente das negociações.
Pezão considera que a fragmentação da base de apoio a Cabral no Rio foi fundamental para tornar difícil a sua reeleição. Somente com o início do horário eleitoral o governador conseguiu ultrapassar nas pesquisas o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que terminou em terceiro lugar, atrás de Marcelo Crivella (PRB). O petista Lindbergh Farias ficou em quarto.

"Crivella e Garotinho só entraram na disputa porque o PT decidiu ter candidato. Eu fiquei com dificuldade de ter o voto evangélico e os das classes C, D e E, mas a pulverização do cenário foi boa para a presidente Dilma Rousseff. Todos os candidatos terminaram trabalhando para ela", disse Pezão.
O eleito fomentou durante a campanha a aliança "Aezão", por meio da qual aliados seus fizeram campanha para o tucano defendendo o seu nome para a reeleição. Mas na reta final o governador trabalhou para Dilma. Hoje, a presidente visita Piraí, cidade que Pezão governou antes de ser vice de Cabral. Conhecerá o projeto de interligação de fibra ótica que projetou o então prefeito na década passada e será apresentada aos pais do governador, que ganharam fama na propaganda eleitoral de rádio e TV, ajudando a compor um perfil de homem simples, explorado pelos marqueteiros do PMDB.
Pezão começa em janeiro o quarto mandato consecutivo do PMDB no Estado, apreensivo com as consequências econômicas do escândalo da Petrobras. A possível suspensão de investimentos da estatal poderá ter efeitos catastróficos na economia fluminense. "Cerca de 60% ou 70% da carteira de investimentos da Petrobras está no Rio. Mas o fato é que, até agora, mesmo com tudo o que tem acontecido, o ritmo de licitações da Petrobras não parou", disse.