Além da perspectiva de normalização da política monetária dos Estados Unidos, a queda dos preços das commodities deve ser mais um fator de pressão de baixa para as moedas dos mercados emergentes em 2015.

Como pano de fundo há um fraco crescimento da economia global no horizonte, puxado pelo freio da economia chinesa e o desequilíbrio entre oferta e demanda de petróleo. São ingredientes que tendem a manter os preços das commodities em baixa, afetando principalmente os países exportadores de matérias-primas.

As moedas atreladas a commodities já mostram sinais claros desse movimento. As cotações do petróleo e do minério de ferro estão nos patamares mais baixos desde 2009, refletindo o excesso de oferta e desaceleração das economias.

O preço do barril do óleo tipo Brent acumula queda de 44% neste ano, enquanto o valor médio do minério de ferro negociado no mercado à vista na China está em US$ 69,3 por tonelada, pouco mais da metade da média de US$ 136 por tonelada observada no mesmo período de 2013.

Com isso, as moedas de países cujas exportações de petróleo têm grande peso na economia, como o rublo, da Rússia e a coroa noruguesa, lideram as perdas entre as divisas emergentes no ano.

Na América Latina, os países mais impactados com esse cenário são o México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. No entanto, a intensidade de correção das divisas desses mercados no ano que vem vai depender dos fundamentos de cada economia. Nessa conta entra a capacidade desses governos em promover medidas para promover o crescimento e mitigar impactos sobre o balanço de pagamentos.

Muitos desses países se beneficiaram do boom de commodities verificado na última década. Isso proporcionou a valorização de muitas dessas moedas e que agora passam por uma correção.

"O choque de preços das commodities deve ser mais prolongado e permanente e os países exportadores desses ativos vão ser o que mais vão sofrer ", afirma Flavia Cattan-Naslausky, estrategista de câmbio para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS).

O estrategista de câmbio para mercados emergentes da Brown Brothers Harriman em Londres, Ilan Solot, não espera uma recuperação dos preços do petróleo. A queda acentuada da commodity tem contribuído para aumentar a aversão a ativos de risco. "A tendência é que os preços do petróleo fiquem deprimidos por bastante tempo."

No caso do petróleo, o problema tem sido um desiquilíbrio entre oferta e demanda. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tem recusado reduzir a produção com o intuito de desestimular a exploração de recursos do xisto nos Estados Unidos.

Nesse cenário, o estrategista da Brown Brothers vê as moedas de países exportadores de petróleo, como o rublo da Rússia, a coroa norueguesa, o peso colombiano e o ringgit da Malásia com desempenho pior em 2015.

Moedas atreladas a commodities metálicas como o rand sul-africano e o dólar australiano também podem sofrer pressão adicional de desvalorização em caso de uma desaceleração mais forte da China.

Para o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, o crescimento da China, baseado em expansão do crédito e no investimento no setor imobiliário, sustentou os preços das commodities metálicas. O fim desse ciclo trouxe uma correção dos preços desses ativos que não deve melhorar. "A China não deve crescer nem 7% no próximo ano e há uma bolha de crédito podre que ainda tem que ser corrigida."

O sócio da Tendências Consultoria e especialista em câmbio, Nathan Blanche, não vê muito espaço para uma piora do preço do minério de ferro e do petróleo.

Ele destaca que muitos países, como o Brasil, que se beneficiaram do ciclo de alta das commodities, agora estão vendo o déficit em conta corrente aumentar desde 2009, como é o caso da África do Sul, dependente de minerais, e do Chile, exportador de cobre. "O que aconteceu foi que o déficit em conta corrente desses países cresceu muito e isso aumenta a vulnerabilidade dessas moedas", diz.

No caso do Brasil, a queda do preço do petróleo tem um grande impacto sobre investimentos, uma vez que pode tornar inviável a exploração na camada de pré-sal. Além disso, a desaceleração do preço das commodities pode acentuar o déficit em conta corrente que está em 3,73% do PIB em 12 meses até outubro.

Contudo, apesar de as exportações de commodities metálicas e de petróleo terem peso maior nas vendas externas de outros países da América Latina, como México e Chile, essas economias têm espaço para fazer políticas anticíclicas, fiscal ou monetária, o que pode limitar a desvalorização de suas moedas.

No caso do México, o impacto da queda do petróleo é mais limitado uma vez que a produção de óleo do país conta com hedge. Além disso, a economia deve se beneficiar da recuperação dos Estados Unidos. "O país tem posição confortável nas contas externas e as reformas promovidas no setor de energia devem começar a atrair investimentos", diz Gustavo Rangel economista-chefe para a América Latina do ING.

Os bancos centrais do México e do Chile cortaram o juro neste ano - ambos para 3% ao ano - para estimular o crescimento econômico.

No Chile, apesar das exportações de cobre terem peso grande na economia, o país pode se beneficiar do efeito da queda do petróleo na inflação e tem condições de adotar políticas anticíclicas.

Já o real, apesar da pauta mais diversificada de exportação, com grande participação de commodities agrícolas, tem sofrido pressão por conta da piora dos fundamentos domésticos. "O Brasil está em uma situação difícil, pois tem que promover um aperto fiscal e monetário, ao mesmo em tempo que a economia não cresce", diz Solot.

A avaliação geral é que o país não tem mais espaço para adotar políticas anticíclicas para impulsionar o crescimento. Adicionalmente, a queda do preço das commodities pode acentuar o déficit em conta corrente. "A depreciação do câmbio terá que ocorrer para ajustar esse déficit", afirma Rangel, do ING, que prevê um câmbio a R$ 2,80 para o fim de 2015.

Para ele, o real e o peso peruano devem ser as moedas atreladas a commodities da região com pior performance em 2015, sem considerar o bolívar venezuelano.

Não é à toa que esses dois países têm mantido as intervenções no mercado de câmbio para conter a depreciação acelerada das divisas. "São moedas que, se os bancos centrais tivessem deixado flutuar, já teriam se ajustado", diz Rangel.