O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu na quinta-feira (12) à presidente Dilma Rousseff que busque uma aproximação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), levantando uma "bandeira branca" e acertando "o mais rápido possível" as suas diferenças com ele.
Visto como um desafeto no Palácio do Planalto, Cunha derrotou Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa pela Câmara no dia 1º. Durante a campanha pelo cargo, ele acusou o governo de tentar interferir no Legislativo e chamou a articulação política do governo de "atrapalhada".
Segundo relatos de assessores presidenciais à Folha, Lula disse a Dilma na quinta que o governo precisa conter a inflação e garantir a aprovação das medidas de ajuste fiscal propostas pela equipe econômica e não pode viver em "guerra" com o Congresso.
O ex-presidente e sua sucessora se encontraram quinta num hotel de São Paulo e conversaram durante cerca de três horas. Foi a primeira conversa mais demorada dos dois desde o início do ano.
Lula criticou a condução da articulação política do governo, especialmente na derrota de Chinaglia para Cunha. Segundo interlocutores da presidente, Dilma concordou com as críticas, mas reafirmou suas reservas sobre o comportamento de Cunha.
"A gente faz acordo com quem a gente não gosta. Com quem a gente gosta, não precisa de acordo", disse Lula à sucessora, segundo o relato feito por um ministro à Folha.
Procurado para comentar a disposição do governo de se aproximar, Cunha disse à Folha que a Câmara deve atuar como manda a Constituição: "Independente e harmônica com os demais Poderes".
Lula também falou da importância do diálogo de Dilma com Cunha numa conversa com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), com quem esteve na véspera do encontro com a sucessora.
O aprofundamento da crise na Petrobras e a derrota na Câmara reforçaram críticas que petistas e aliados têm feito a Dilma. Para eles, a presidente isolou-se após tomar posse do segundo mandato.
Após o encontro de quinta, Dilma conversou com auxiliares em Brasília. Como reflexo da nova orientação, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, telefonou na sexta-feira (13) ao presidente da Câmara, para elogiá-lo por uma palestra que fez a investidores reunidos pelo banco BTG Pactual nesta semana.
Foi a primeira vez que Mercadante ligou para Cunha após sua vitória. Nos últimos dias, o governo sofreu vários reveses na Câmara, com a instalação de uma nova CPI da Petrobras e a aprovação de uma proposta que obriga o governo a liberar verbas para projetos incluídos por parlamentares no Orçamento.
Lula e Dilma avaliaram também a brusca queda sofrida pelos índices de aprovação ao governo, como o Datafolha mostrou sábado (7).
Segundo o instituto, Dilma obteve uma nota vermelha (4,8) pela primeira vez desde o início do seu governo e após sua campanha vitoriosa pela reeleição. A presidente perdeu prestígio mesmo entre eleitores das faixas de renda em que ela tem mais apoio.
Dilma afirmou que pretende iniciar uma série de viagens semanais pelo país depois do Carnaval, especialmente para Estados onde venceu a eleição de outubro.
DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), negou nesta sexta-feira (13) que esteja "bancando" propostas de interesse de religiosos e defendeu que é "preciso parar de discriminar a atuação de deputados evangélicos porque têm os seus projetos e são atendidos igual aos outros no regimento".
Evangélico, Cunha afirmou que o desarquivamento de projetos que são contrários a bandeiras progressistas, principalmente de movimentos gays e feministas, cumprem exigências regimentais.
"Já recriei e recriarei várias comissões especiais de diferentes projetos em tramitação conforme prevê o regimento. É muito estranho só falarem da recriação das comissões pedidas por deputados evangélicos", afirmou, no Twitter.
O peemedebista disse que há preconceito contra a bancada evangélica. "Ninguém fala deputado católico, espírita. Mas fala sempre evangélico. Isso é discriminação pura e agride a laicidade do Estado".
Depois de sustentar que não colocaria em votação nenhuma proposta para liberar o aborto, o peemedebista lançou mão de um pacote em defesa da heterossexualidade.
Ele autorizou, por exemplo, a criação de uma comissão especial para discutir um projeto intitulado "Estatuto da Família".
O texto define família apenas como união entre homem e mulher e, na prática, pode proibir a adoção de crianças por casais gays. Defendido pela bancada evangélica, que tem 80 dos 513 deputados, a proposta começou a ganhar força em 2014, mas foi barrada por manobras regimentais do PT.