O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teve ao menos três encontros só neste mês com advogados que defendem empresas acusadas por investigadores da Operação Lava Jato de pagar propina para conquistar obras da Petrobras, como a UTC e a Camargo Corrêa.

Os defensores das empreiteiras buscavam algum tipo de ajuda do governo para soltar os 11 executivos que estão presos há meses.

Tiveram, no entanto, como resposta palavras vagas, do tipo "fiquem tranquilos, o Supremo vai acabar soltando eles", segundo a Folha ouviu de um dos advogados que esteve com o ministro.

Um advogado que participou de outro encontro disse que Cardozo foi mais assertivo. Ele relata que o ministro disse que governo usaria seu poder para ajudar as empresas no STF (Supremo Tribunal Federal), STJ (no Superior Tribunal de Justiça) e na Procuradoria Geral da República.

O ministro é o principal interlocutor de Rodrigo Janot, o procurador-geral, que dirige o órgão responsável por acusações na Justiça.

O Supremo e o STJ vão julgar o mérito de pedido de habeas corpus desses executivos nos próximos meses. Pedidos de liminar para que eles fossem libertados já foram negados pelos dois tribunais.

Os advogados, no entanto, passaram a enxergar uma espécie de janela de oportunidades com a decisão, tomada na última terça (10), de uma turma do Supremo de manter livre o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque.

Um dos encontros do ministro, com o advogado Sergio Renault, que defende a UTC na esfera civil, ocorreu no dia seguinte à decisão do STF, conforme a revista "Veja".

A revista relata que Cardoso prometeu a Renault que a situação dos presos pela Lava Jato "mudaria de rumo radicalmente" porque oposicionistas também seriam envolvidos na apuração. A Folha não obteve confirmação da versão divulgada pela "Veja".

A situação dos 11 presos, ainda de acordo com advogados, teria mudado com a decisão recente do STF e pela primeira vez há a perspectiva de que sejam soltos. Parte dos advogados não acredita, porém, que o ministro tenha influência no tribunal, apesar de o PT ter indicado sete ministros.

Dizem acreditar que o Supremo tomará a decisão de libertar os executivos porque a jurisprudência da corte prevê que os réus defendam-se em liberdade. Um ministro, Marco Aurélio Mello, já criticou as prisões.

 

Operação não foi tema de encontro, afirma Cardozo

DE BRASÍLIA

O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) confirmou que teve o encontro com o advogado Sergio Renault, mas nega ter tratado da Lava Jato. Disse que eles estiveram na antessala de seu gabinete e a conversa durou dois minutos.

Em nota, Cardozo também disse que é sua obrigação legal receber advogados. A assessoria do ministro confirmou que outros advogados de investigados na Operação Lava Jato estiveram com ele, mas afirmou que não dispunha dos nomes.

Renault disse que foi ao ministério para encontrar o também advogado Sigmaringa Seixas, ex-deputado pelo PT, com quem almoçaria.

Eles negam que tenham tratado da Lava Jato com o ministro da Justiça. "Não conversei nem conversaria sobre isso. De jeito nenhum", afirmou Renault àFolha.

 

Envolvidos em esquema tinham US$ 111 mi na Suíça

Dinheiro era mantido em contas do HSBC

DE SÃO PAULO

Pelo menos 11 pessoas ligadas com o escândalo de corrupção na Petrobras mantiveram contas na Suíça entre 2006 e 2007, com saldo total de US$ 110,5 milhões.

A informação foi revelada nesta sexta (13) no blog do jornalista Fernando Rodrigues.

A informação faz parte do Swissleaks, vazamento sobre contas secretas no país europeu mantidas pelo banco HSBC. Segundo o blog, do Brasil há ao todo 6.606 contas listadas, com o equivalente a R$ 20 bilhões movimentados entre 2006 e 2007.

Entre os envolvidos na Operação Lava Jato, Julio Faerman, apontado como intermediador de propina, manteve o maior montante no HSBC suíço: US$ 20,8 milhões.

O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco guardou US$ 1,9 milhão na instituição. Em depoimento, ele já havia revelado que mantinha contas no exterior e que 90% de sua propina --algo entre R$ 40 mi e R$ 50 mi--havia sido enviada para fora do Brasil.

Oito executivos do grupo Queiroz Galvão também mantiveram contas no HSBC suíço, incluindo Dario e Eduardo de Queiroz Galvão, ambos réus na Lava Jato.

Também o doleiro Raul Henrique Srour, que é suspeito de integrar o grupo do doleiro Alberto Youssef, tem o nome na lista --porém, sua conta está zerada.

Ao blog de Fernando Rodrigues, todos os citados negaram os fatos ou preferiram não se pronunciar. Do advogado de Julio Faerman, o blog não obteve resposta.