Diretor de Abastecimento da Petrobras de 2004 a 2012, Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, afirmou nesta sexta-feira (13), em depoimento prestado ao juiz federal de Curitiba (PR) Sergio Moro, que propina relativa a contratos em três diretorias da Petrobras ia para "para o PT".

Segundo Costa, as diretorias de Serviços, Exploração e Produção e Gás e Energia da companhia eram dirigidas por nomes indicados pelo PT e a sigla recebia propina calculada sobre o valor dos ocntratos.

"Na área de Exploração e Produção, que era o diretor do PT, e a área de Serviços que era do PT, os valores iam todos para o PT. Na área de Gás e Energia, idem. Então isso era feito dessa maneira", disse ele.

Costa foi ouvido como testemunha do Ministério Público em ação penal movida contra o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e o lobista Fernando Soares, entre outros.

"Essas empresas do cartel formaram, vamos dizer, esses consórcios aí, e pagavam valores para serem distribuídos aos partidos políticos, para serem distribuídos para os operadores e para serem distribuídos para os diretores da Petrobras, alguns diretores da Petrobras", afirmou o ex-diretor.

Costa revelou que o PMDB também passou a receber a propina obtida por sua diretoria, a de Abastecimento, "por volta de 2006, 2007", em conjunto com o PP.

"Eu tive um problema muito sério de saúde no final de 2006, praticamente quase parei de trabalhar e muitas pessoas ficaram de olho no meu lugar. Quando eu voltei, o PMDB também começou a me apoiar", disse.

Costa afirmou ainda que o apoio dos partidos aos diretores era "sempre" revertido na obtenção de recursos pelos partidos.

"Não se chega, ou não se chegava, a diretor da Petrobras sem apoio político e nenhum partido dá apoio político só pelos belos olhos daquela pessoa ou pela capacidade técnica. Sempre tem que ter alguma coisa em troca", afirmou.

Indagado pelo juiz Sergio Moro se os diretores da petroleira recebiam propina, Costa mencionou ele próprio e o ex-diretor de Serviços Renato Duque, indicado pelo PT. Quanto a Cerveró, disse não saber e nem ter provas de que o ex-diretor internacional tenha sido subornado.

OUTRO LADO

O PMDB negou "veementemente" as acusações. A assessoria do PT afirmou que a secretaria de finanças da sigla "reitera que todas as doações que o partido recebe são feitas na forma da lei e declaradas à Justiça". A Petrobras não se manifestou até a conclusão desta edição.

Em um dos depoimentos à força-tarefa da Operação Lava Jato divulgados pela Justiça Federal na quinta (12), Costa disse ter recebido US$ 31,5 milhões da construtora Odebrecht até setembro de 2012.

No acordo de delação firmado em setembro de 2014, Costa disse que à época tinha US$ 23 milhões depositados em contas dele e de familiares em bancos na Suíça. A Odebrecht nega ter feito os pagamentos.

 

Ex-diretor terá assistência de um psiquiatra

DE BRASÍLIADE CURITIBA

O juiz Sergio Moro autorizou o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró a receber tratamento psiquiátrico na carceragem da Polícia Federal de Curitiba, onde está preso desde 14 de janeiro.

Moro acolheu um pedido da defesa de Cerveró, depois que o Ministério Público Federal deu parecer favorável ao pleito. Os advogados apresentaram atestado médico, sustentando que seu cliente faz tratamento há três anos e toma regularmente dois medicamentos, um ansiolítico e um antidepressivo.

O magistrado autorizou que um psiquiatra visite Cerveró uma vez por semana ou a cada quinze dias. No último dia 4, Cerveró teve uma crise de ansiedade e alta de pressão arterial. Foi atendido pelo Samu.

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento à Justiça nesta sexta (13) que "quer de volta sua alma". Segundo seu advogado, João Mestieri, ele está buscando "o caminho da verdade": "Ele estava enojado, não suportava mais", declarou Mestieri.