O Brasil vai tentar convencer a Itália de que Henrique Pizzolato é um "italiano de conveniência", que só invocou a condição de cidadão do país europeu depois de sua prisão para fins de extradição, em fevereiro do ano passado.

Na quarta (11), a Corte Suprema de Cassação, mais alta instância da Itália, autorizou a extradição do ex-diretor do Banco do Brasil, mas a palavra final cabe ao ministro da Justiça, Andrea Orlando. Ele deve decidir até a primeira quinzena de abril.

Integrantes da diplomacia em Roma ouvidos pela Folha apontam a cidadania italiana como o principal obstáculo para a devolução de Pizzolato e o consequente cumprimento da pena de 12 anos e 7 meses a que foi sentenciado no julgamento do mensalão.

Como a Constituição brasileira veda a extradição de cidadãos nacionais condenados no exterior, a Itália pode se recusar a entrega de Pizzolato em nome do princípio da reciprocidade --o precedente existente é o da negativa de extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola em 2001.

A estratégia agora é tentar demonstrar que ele jamais se valeu da sua condição de cidadão italiano. "O Pizzolato só se lembrou que era italiano depois de ser preso", disse um diplomata envolvido nos contatos com as autoridades italianas, sob condição de não ter o nome publicado.

"Não usufruiu da própria cidadania italiana, mas ficou vivendo com documentos falsos. Isso pode ter um peso importante", completou.

Após a decisão da Justiça, Pizzolato foi preso na quinta (12) na penitenciária de Módena (norte da Itália). É o mesmo presídio em que ele passou nove meses em 2014 após ter sido descoberto vivendo na Itália com documentos em nome de seu irmão, Celso (morto em 1978).

Folha procurou o advogado de Pizzolato, Alessandro Sivelli, que não respondeu aos pedidos de entrevista.