O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou na noite de quinta-feira (12) a prisão de 14 civis e militares, entre eles um general da reserva, acusados de tramar um golpe de Estado.

Críticos dizem que as acusações tentam desviar o foco da recém-implantada desvalorização da moeda e do aumento no preço do transporte público num momento de impopularidade do governo e de grave crise econômica.

Segundo Maduro, o primeiro passo do suposto plano era causar mortes nos atos de quinta, que celebraram um ano das marchas antigoverno que estremeceram o país.

As mortes, segundo Maduro, gerariam um ambiente de caos propício para a etapa seguinte: um ataque ao palácio presidencial com um avião brasileiro Tucano.

Também seriam bombardeados o Ministério da Defesa e a sede do canal esquerdista Telesur.

Nas redes sociais, muitos zombaram da denúncia, dizendo que o Tucano, usado principalmente para treinamento, é incapaz de executar missão tão arrojada.

A prova da conspiração, disse Maduro, é o fato de a oposição ter divulgado comunicado pedindo apoio a um "governo de transição."

O presidente disse que o suposto ataque partiu de Washington. "[Os EUA] pagaram [os sabotadores] em dólares e lhes deram vistos com data de 3 de fevereiro. A Embaixada dos EUA lhes disse que, em caso de fracasso, poderiam entrar [em território americano]".

A Casa Branca chamou as acusações de "ridículas."

Instantes depois da fala de Maduro, o presidente do Parlamento, o governista Diosdado Cabello, elencou em seu programa de TV nomes de 11 militares envolvidos no suposto golpe.

Ele também citou a suposta atuação de quadros da oposição, como a deputada cassada María Corina Machado e o vereador Freddy Guevara. "É incrível a capacidade de mentira deste governo", disse Guevara à Folha.

O vereador afirmou não ter sido notificado e descartou recorrer a advogados já que, segundo ele, "a Justiça foi aparelhada".

OPOSITOR BRUTALIZADO

Cabello acusou ainda setores da direita de planejar assassinar o opositor Leopoldo López (preso sob acusação de incitar protestos violentos em 2014) para jogar a culpa no governo.

Nesta sexta-feira, a mulher de López, Lilian Tintori, denunciou que agentes encapuzados entraram na cela e destruíram os pertences do marido, antes de jogá-lo numa solitária ainda menor.

Tintori afirma que a vida de López está em risco. A ONG Human Rights Watch criticou o "silêncio" da Unasul sobre o caso.

Setores da oposição consideraram absurda a acusação de conspiração contra López e disseram que o governo busca factoides para diluir o impacto da desvalorização do bolívar, a moeda nacional.

Na quinta, entrou em vigor nova cotação livre pela qual um dólar já pode ser trocado por 174 bolívares, ante os 6,30 bolívares pela taxa mais usada até então.

Na prática, o salário mínimo caiu para o equivalente a US$ 1 por dia.

Ainda na quinta, o governo decretou aumento de 40% na tarifa das passagens no transporte suburbano até agosto, em meio a esforços para reduzir subsídios.