Pedaços de plástico que poluem os oceanos são uma das maiores ameaças hoje para animais marinhos. O estudo mais abrangente sobre o problema acaba de ser publicado e indica que humanos despejam 8 milhões de toneladas por ano nos mares.

"Isso equivale a dezoito sacolas de supermercado cheias de plástico para cada metro das linhas costeiras do planeta", disse Jenna Jambeck, da Universidade da Georgia, ao apresentar o estudo nesta quinta (12) no encontro da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em San Jose, na Califórnia.

Usando dados do Banco Mundial sobre concentração de população litorânea e atividade econômica, os cientistas estimaram a quantidade de plástico despejado em áreas costeiras e que fatia desse lixo não tem manejo adequado.

Jambeck descreve seu método, aplicado especificamente ao ano de 2010, em estudo na revista "Science".

A cientista também produziu um ranking global mostrando quais países mais têm contribuído para o problema.

Destaca-se a China, com grande população, mas também países emergentes de renda média. "Esses países já estão produzindo grande quantidade de lixo, mas ainda não têm infraestrutura para lidar com ele", diz Jambeck.

O cenário que ela projeta para 2025 é que a quantidade de lixo despejada no mar se multiplique por dez.

No contexto global, além da China, países do Sudeste Asiático são um grande problema. O Brasil, que não deu destino adequado a 470 mil toneladas de plástico em 2010, não é dos piores entre as nações emergentes, mas não está bem na fita (veja acima). Os EUA, que têm um padrão razoável de manejo de detritos, são o único país rico entre os maiores contribuintes do problema, por consumirem muitos produtos e gerarem lixo demais.

O Pacífico tem inclusive uma região conhecida como Grande Mancha de Lixo. A 1.600 km do Havaí e longe de qualquer fronteira nacional, a área tem mais de um milhão de quilômetros quadrados --o Estado de São Paulo tem 250 mil. O lixo é levado até lá pelas correntezas e fica girando em um imenso redemoinho.

INGESTÃO E EMBARAÇO

Como pedaços de plástico se fragmentam no mar ao longo dos anos, eles são capazes de afetar praticamente todo o tipo de animal nos oceanos. Sofrem desde vermes microscópicos e cracas (pouco queridos do público, mas importantes para o ecossistema), até grandes peixes, mamíferos marinhos e aves aquáticas.

Os dois maiores vilões são o embaraçamento de animais em linhas e sacos de plástico e a ingestão de pedaços do material. Richard Thompson, biólogo da Universidade de Plymouth, compilou 280 estudos sobre o tema e identificou 46 mil animais ""de 663 espécies-- mortos pelo plástico.

Seu trabalho ganhou fama após a divulgação de fotos de carcaças de filhotes de Albatroz em Midway, no Pacífico, mortos após terem sido alimentados com pedaços de plástico por seus pais.

Kara Law, coautora do estudo na "Science", afirma que o plástico absorve outros poluentes e vai parar no estômago de peixes voltados para consumo humano. Os 8 milhões de toneladas de plástico jogados ao mar ao ano, lembra ela, pesam mais que a produção mundial de atum, de 6 milhões de toneladas.

A solução para o problema, diz, é investir em uma menor geração de lixo e no manejo. "Uma vez que esse lixo vai parar no mar, é praticamente impossível recolhê-lo."