A ocorrência de explosões e incêndios como os verificados no acidente do navio-plataforma Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, nesta quarta (11), vem crescendo exponencialmente. Segundo relatórios da ANP, de apenas 2, em 2008, o número cresceu 32,5 vezes, para 65 em 2013, dado mais recente.

O total de incidentes comunicados à agência aumentou 526% no período, de 150 para 939. A quantidade de acidentes se expandiu em ritmo muito maior que a exploração. Nesse mesmo intervalo de tempo, o número de poços perfurados em terra registrou queda de 39%, e, no mar, expandiu-se em 37%.

O número de poços em produção tanto em terra quanto em mar cresceu 6,5%.

A Petrobras responde por 90% da produção no país.

NAVIOS INCOMPLETOS

Para Norton de Almeida, diretor de Segurança do Sindicato dos Petroleiros no norte fluminense, o aumento nos incidentes é resultado "do elevado nível de degradação das plataformas no mar, sem correspondente manutenção", e também do fato de que há navios que partem para as áreas de produção sem sua construção concluída.

A Petrobras será o o alvo da investigação do acidente desta quarta, para a ANP, porque é a concessionária dos dois campos --um deles em sociedade de 35% da Ouro Preto Energia (leia texto abaixo).

Punições e multas, caso haja ao fim do processo, serão aplicadas só à estatal.

A Petrobras não comentou a investigação da ANP.

A justificativa da Petrobras para ter dado até agora poucas explicações sobre o caso é que o navio pertence à norueguesa BW, de quem contrata o serviço.

Nesses casos, de toda a equipe embarcada, apenas um ou dois são funcionários da Petrobras. A plataforma tinha 74 pessoas a bordo na hora do acidente.

A Petrobras reconhece o risco de ter de arcar com indenizações por acidentes em seus relatórios financeiros.

Em um deles, o 20F, relata possuir dois seguros para "responsabilidade operacional de terceiros", no valor total de indenização de US$ 750 milhões, em caso de acidente no mar. Cobrem danos causados pela empresa ou por terceirizados "em caso de dano material, lesão pessoal ou morte". A empresa diz no documento, porém, ter direito de buscar, posteriormente, ressarcimento do fornecedor.

Relatório do Ministério Público do Trabalho revelado pela Folha no ano passado listava irregularidades em seis plataformas vistoriadas.

Descontrole sobre emissões de gases, rotas de fugas mal delineadas, despejo de dejetos sem tratamento no mar, botes salva-vidas incapazes de salvar, ferrugem acentuada, controle de manutenção deficiente e jornadas excessivas de profissionais de saúde foram os problemas que chamaram a atenção do MPT na ocasião.

 

Número de mortos sobe para cinco

Mais de 24 horas depois da explosão no navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, as equipes de resgate retiraram na tarde desta quinta (12) os corpos de cinco pessoas mortas pelo acidente.

Outras quatro continuam desaparecidas.

Na quarta (11), dia do acidente, a BW Offshore, proprietária da embarcação que trabalhava para a Petrobras, havia confirmado três mortos, seis desaparecidos e dez feridos. Ontem, porém, a empresa disse que são 25 feridos --sendo três em estado grave.

Três dos quatro ainda desaparecidos trabalhavam na casa de bombas, onde houve a explosão e de onde foram retirados três corpos.

O quarto desaparecido estava na casa de máquinas, que também foi danificada. Os outros dois corpos foram encontrados nesse local.

A BW não divulgou os nomes dos mortos, desaparecidos e feridos e disse que só irá informar a identidade ao término dos trabalhos de resgate e após comunicação aos familiares. Entre os feridos, há uma mulher e alguns estrangeiros.

Ainda segundo a empresa, não há uma previsão de quando será concluído o trabalho de varredura na embarcação.

Os corpos foram retirados após perícia da polícia no local e levados de helicóptero ao aeroporto da capital capixaba, onde foram encaminhados para o IML.

Registrado próximo a Aracruz na quarta-feira, o incidente é o pior em número de vítimas em plataformas contratadas ou operadas pela Petrobras desde 2001, quando 11 pessoas morreram.

 

Mãe soube do acidente pela TV e se desesperou

 

Sem saber se familiares e amigos estavam no navio-plataforma que explodiu no Espírito Santo, parentes de trabalhadores ficaram apreensivos com a falta de informações por parte da empresa BW, que presta serviços para a Petrobras.

Alguns deles só foram avisados por terceiros ou tiveram que aguardar o contato do próprio familiar para ter certeza de que ele não estava entre as vítimas.

Na noite de quarta (11), os trabalhadores que desembarcaram do navio e não estavam feridos foram levados para um hotel em Vitória e recebidos por assistentes sociais e psicólogos.

"Descobri que a plataforma em que ele estava explodiu pela TV. Me desesperei, pensei que ele tinha morrido. A empresa não dava informação e tinha hora que nem atendia. Só consegui falar com ele depois", afirmou Maria Helena Donateli, 55, mãe do técnico Diego Donateli, 29, que estava na plataforma. "Ele disse que só ouviu a explosão, não viu fogo. Logo depois, começou a ver os funcionários sangrando", completou.

Ao lado de mais quatro familiares, Maria Helena aguardava a chegada do filho na frente do hotel. Os trabalhadores, no entanto, foram orientados a entrar pelos fundos, para evitar o contato com a imprensa.

A mulher de um petroleiro, que não quis se identificar, disse que não recebeu nenhum aviso da empresa. Ela só soube que o marido estava a bordo do navio por meio de amigas também casadas com trabalhadores.

O clima era de solidariedade entre os familiares, que se abraçavam e choravam ao se encontrar.

Familiares e vítimas optaram pela discrição nesta quinta (12). No hospital, passaram a maior parte do tempo nos quartos e não falaram com a imprensa. Uma mulher que estava com o dedo quebrado saiu com uma camisa cobrindo a cabeça e não deu entrevista.

 

Petrobras deve responder pela ocorrência, segundo a ANP

DA REUTERSDO RIO

A Petrobras, como operadora dos campos Camarupim e Camarupim Norte, no Espírito Santo, onde morreram cinco pessoas na explosão de uma plataforma nesta quarta-feira (11), responde pelas ocorrências na área, disse a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Segundo a agência, que abriu um processo administrativo de investigação para verificar as causas da explosão, é a operadora da área petrolífera, e não a operadora da plataforma --a norueguesa BW Offshore--, que responde por acidentes.

A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, emitiu nota nesta quinta (12) afirmando que a assistência aos trabalhadores é de responsabilidade da empresa estrangeira.

"A Petrobras irá cuidar para que a BW preste toda a assistência às famílias envolvidas", disse Dilma em nota.

A Petrobras informou que criou uma comissão de investigação do acidente, pois é "operadora responsável pelas concessões de Camarupim e Camarupim Norte perante a ANP".

Afirmou ainda que está "apoiando a BW Offshore em todas as ações de assistência às vítimas e familiares do acidente". Segundo a empresa, há uma equipe de 583 profissionais da estatal trabalhando "nas operações de contingência".