Com 11 dias na presidência da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não só impôs derrotas ao Palácio do Planalto, como conseguiu emplacar aliados no comando da bancada do PMDB e na comissão da reforma política, postos chave da Casa.

Agora, Cunha prepara indicações de parlamentares de sua confiança para conduzir a nova CPI da Petrobras e a Comissão de Constituição e Justiça, que avalia a maioria dos projetos de lei antes de sua chegada ao plenário.

A última conquista de Cunha foi a eleição do deputado Leonardo Picciani (RJ) como líder da bancada do PMDB, principal aliado do Planalto no Congresso. Considerado da ala rebelde da sigla, Picciani trabalhou contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff no ano passado, fazendo campanha para Aécio Neves (PSDB-MG).

O novo líder já defendeu maior independência da bancada em relação ao Planalto, mas, depois de eleito, disse que a medida exata do apoio ao governo ainda será definida pelos deputados.

A vitória de Picciani por um voto de diferença --teve apoio de 34 deputados, contra 33 para Lúcio Vieira Lima (BA)-- expôs um racha. Alguns parlamentares, nos bastidores, acusaram Cunha de atuar a favor do deputado fluminense.

O presidente da Câmara negou. "Eu quero que você me diga que deputado está reclamando. Nem votei."

Para minimizar o desgaste interno, Cunha trabalha para indicar Vieira Lima para a presidência ou a relatoria da CPI da Petrobras. Os cargos têm poder para influenciar o ritmo dos trabalhos, que devem começar depois do Carnaval.

Aliados também afirmam que, nos acordos para sua eleição, Cunha prometeu entregar a Comissão de Constituição e Justiça para Arthur Lira (PP-AL). O PP é o partido que teria o maior número de parlamentares citados no escândalo de corrupção na Petrobras e que podem, eventualmente, responder a pedido de cassação no Conselho de Ética. A comissão tem poder para revisar decisões do órgão disciplinar.

Para a corregedoria, que também atua na análise de representações relacionadas a processos de perda de mandato, o deputado Carlos Manato (SD-ES) foi o escolhido. O convite atende ao deputado Paulinho da Força (SD-SP), um dos principais aliados de Cunha na campanha.

Outro peemedebista próximo a Cunha, Marcelo Castro (PI) foi escolhido para ser o relator da comissão especial que vai discutir a reforma política, um dos principais assuntos encampados pelo novo presidente da Câmara.

A estratégia é ter alguém de confiança cuidando do debate intenso que o tema promete suscitar na Casa. Cunha é a favor da manutenção do financiamento privado de campanha, enquanto o PT quer o financiamento público.

A derrota do governo e do PT com a eleição de Cunha para a presidência da Câmara foi só o início de uma série de revezes que incluem a instalação da CPI da Petrobras, a entrega do comando da comissão de reforma política para a oposição e a aprovação da emenda que obriga o governo a liberar verbas para parte das emendas que os congressistas fazem ao Orçamento.

Nesta quarta, o presidente da Câmara impôs nova derrota ao Planalto. O plenário da Casa aprovou a tramitação em regime de urgência de um projeto de lei que dificulta a fusão de partidos políticos.

O objetivo é inviabilizar a articulação do ministro Gilberto Kassab (Cidades) para a recriação do PL e, posteriormente, a sua fusão ao seu PSD. Com o aval do Planalto, o ministro comanda essa operação com o intuito de esvaziar os partidos de oposição e o PMDB, que perderiam deputados para a nova legenda.

Por isso, siglas como DEM, PSDB, PSB e Pros são contra a aprovação do partido do Kassab, além do PMDB.

Ainda sem ideia clara dos rumos a tomar após a derrota para Cunha, os governistas ensaiam uma reação. Foram escalados ministros para cobrar fidelidade de suas bancadas ao Planalto.

Cunha voltou a afirmar nesta quarta-feira que não "há espaço" para discutir um eventual pedido de impeachment da presidente Dilma.

 

Renan emplaca peemedebista no Conselho de Ética

GABRIELA GUERREIRODE BRASÍLIA

Aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador João Alberto Souza (PMDB-MA) vai assumir o comando do Conselho de Ética da Casa, responsável por julgar a conduta dos congressistas.

O peemedebista vai ocupar o cargo pela quinta vez. Coube a ele arquivar processo contra Jader Barbalho (PMDB-PA), que em 2001 renunciou ao mandato para escapar da cassação.

Oficialmente, o PMDB diz que João Alberto vai assumir o conselho depois do Carnaval por ter sido o único membro do partido disposto a ocupar o cargo. Nos bastidores, parte da bancada admite que a escolha visa blindar Renan.

O presidente do Senado estaria na lista dos políticos citados na Operação Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.

Os nomes devem ser revelados ainda neste mês, quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, oferecer denúncia contra o núcleo político da Lava Jato.

Se Renan tiver que responder a eventuais processos por quebra de decoro, aliados afirmam que ele terá no comando do conselho alguém de sua confiança.

O líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), nega a manobra. "A presidência do conselho cabe ao PMDB por ser a maior bancada."

CARNAVAL

O Senado não votou nada desde a posse da nova legislatura, em 1º de fevereiro.

Nesta quarta (11), Renan transferiu a sessão do plenário da tarde para a manhã, o que permitiu que os senadores antecipassem a saída de Brasília para emendar o feriadão de Carnaval.

Os senadores retornam em 24 de fevereiro, quando prometem eleger os presidentes das comissões permanentes da Casa e dar início às votações. Nenhuma delas começou a funcionar porque os partidos disputam os principais cargos de comando.

"A discussão agora é Galo da Madrugada", ironizou Romero Jucá (PMDB-RR).