Título: Apostas contra dólar chegam a US$ 14,7 bi
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2011, Economia, p. 16

Instituições aproveitam entradas superiores a 1.000% no semestre

Os bancos vêm apostando forte contra o dólar. De acordo com a posição de câmbio das instituições financeiras, divulgada ontem pelo Banco Central, as medidas anunciadas até agora pelo governo para afugentar investidores em busca de ganhos fáceis não adiantaram muita coisa. As instituições financeiras continuam acreditando que a cotação da moeda americana vai cair e que o real vai ficar cada vez mais valorizado. Em junho, as operações no mercado futuro de câmbio somaram US$ 14,7 bilhões ¿ o maior nível do ano.

Nem mesmo o recolhimento do compulsório sobre os dólares em poder dos bancos, decisão anunciada recentemente pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, surtiu efeito. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que novas medidas estão a caminho. Mas, diante dos sinais do mercado, elas terão que ter muita força para reverter a avalanche de capital de curto prazo direcionada ao país.

As operações dos bancos vêm sendo suportadas pelo forte fluxo cambial. O ingresso de dólares atingiu US$ 39,83 bilhões no primeiro semestre. Em comparação com o mesmo período do ano passado, quando a entrada de moeda estrangeira somou US$ 3,36 bilhões, o crescimento foi de 1.084%. Resultado superior só foi verificado em 2007, quando entraram US$ 51 bilhões. O ingresso nos primeiros seis meses deste ano já representam mais que 60% do fluxo cambial de todo o ano passado, quando o saldo fechou positivo em US$ 24,35 bilhões.

Reservas A entrada de tanto dinheiro vem obrigando o BC a adquirir a moeda estrangeira. Em junho, as compras realizadas pela instituição impactaram as reservas internacionais do país em US$ 2,29 bilhões. No último dia do mês, a conta atingiu US$ 335,77 bilhões. Mesmo com as compras contínuas, a cotação do dólar não se sustenta. Há dias, gira em torno de R$ 1,55. E não há expectativa, a curto prazo, de uma inversão de rumo.

A conta financeira, por meio da por meio da qual transitam recursos para aplicações, além das remessas de lucros, dividendos e empréstimos tomados no exterior, é a responsável por tanto dólar no país nos primeiros seis meses. Outros US$ 16,19 bilhões ingressaram pela conta comercial, que concentra os contratos de câmbio para exportações e importações. Apesar desse movimento intenso, os dados do BC mostram que o fluxo ficou negativo em US$ 2,556 bilhões em junho ¿ o primeiro recuo em 2011. A reversão coincide com a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre aplicações de estrangeiros, mas sofre, principalmente, os efeitos dos reveses mundiais enfrentados pela moeda americana.