Zhou Xiaochuan, presidente do Banco do Povo da China: posição menos propensa a juros baixos do que a de bancos centrais de outras grandes economias O banco central da China realizou operações no mercado aberto para injetar dinheiro no sistema financeiro do país pela primeira vez em um ano e ampliou a concessão de crédito diante da falta sazonal de recursos e dos sinais de fluxos de saída de capital da segunda maior economia do mundo. O Banco do Povo da China valeu-se de acordos de recompra reversa - em que compra papéis para revendê-los posteriormente - para injetar 50 bilhões de yuans (US$ 8,05 bilhões), segundo comunicado divulgado ontem. O banco central já havia anunciado na quarta-feira à noite ter rolado empréstimos de três meses no valor de 269,5 bilhões de yuans concedidos a bancos em outubro e usado uma linha de crédito de médio prazo para injetar outros 50 bilhões de yuan, com a ideia de fortalecer a oferta antes do feriado do Ano Novo Lunar chinês. Ontem, também injetou dinheiro com um leilão de papéis de seis meses do Tesouro chinês, no valor de 50 bilhões de yuans. "As medidas paralelas de rolar empréstimos e usar recompras podem sinalizar que não haverá um afrouxamento [monetário] generalizado, [por exemplo] com um corte na exigência de reservas no primeiro trimestre", disse Liu Li-Gang, diretor encarregado em economia da Grande China no banco Australia & New Zealand Banking Group Ltd., em Hong Kong. A posição do Banco do Povo da China é menos propensa a juros baixos do que a de outras grandes economias, segundo Liu. O banco central do Canadá reduziu inesperadamente as taxas de juros na quarta-feira e a Índia surpreendeu os mercados na semana passada ao também reduzir o custo dos empréstimos, em decisão tomada fora das reuniões regulares. O Banco Central Europeu (BCE) anunciou ontem que vai comprar bônus governamentais pela primeira vez. O Banco do Povo da China cortou as taxas referenciais de juros em novembro pela primeira vez em dois anos para ajudar a reanimar o ritmo de expansão da economia, o menor em mais de 20 anos. A taxa da recompra de sete dias, termômetro da disponibilidade de financiamento interbancário, subiu 14 pontos-base, para o maior patamar em duas semanas, de 4,11%, no início da tarde em Xangai, segundo uma média ponderada do National Interbank Funding Center. A taxa subiu 21 pontos-base na quarta, maior alta desde dezembro. O feriado de uma semana do Ano Novo Lunar começa em 18 de fevereiro. A recompra reversa de sete dias leiloada ontem foi precificada com rendimento de 3,85%, segundo o banco central chinês. O rendimento dos papéis de seis meses do Tesouro foi de 4,68%, acima dos 4,32% verificados em julho, quando o mesmo volume foi leiloado aos bancos comerciais. Há um ano, o Banco do Povo da China promoveu recompras reversas de 7 e 14 dias, antes do feriado do Ano Novo Lunar de então, que começou em 31 de janeiro de 2014. "Pode haver certos fluxos de entrada e saída [de capital] irregulares pelo mundo", disse o presidente do Banco do Povo da China, Zhou Xiaochuan, na quarta-feira, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. "Também pode haver uma fonte de volatilidade." O Banco do Povo da China precisa reduzir as exigências de reservas dos bancos para poder compensar a saída de capital e voltar a baixar a taxa de recompra de sete dias para a faixa entre 3% e 3,5%, segundo o economista sênior Dariusz Kowalczyk, do Crédit Agricole CIB. O ponto de vista é compartilhado por Yan Yan, analista do China Guangfa Bank Co., em Xangai, para quem a retomada da recompra reversa vai ajudar a aliviar os receios de que a política monetária estaria sendo apertada. O Goldman Sachs Group Inc. calcula que as omissões de dados e erros oficiais da China - números usados pelos países para equilibrar os fluxos internacionais quando os registros não batem - apontaram para um fluxo recorde de saída de capital de US$ 63 bilhões no terceiro trimestre de 2014. As reservas internacionais da China caíram para US$ 3,84 trilhões em dezembro, depois de atingir o recorde de US$ 3,99 trilhões, em junho. Os bancos chineses venderam o equivalente a US$ 63,5 bilhões a mais do que compraram nos últimos cinco meses, reduzindo as compras líquidas em 2014 para US$ 125,8 bilhões, segundo divulgado ontem pelo órgão regulador cambial. "Na verdade, ninguém está vendendo dólares americanos para os bancos", disse Andy Ji, estrategista em Cingapura do Commonwealth Bank of Australia. "A partir dessa perspectiva, em termos líquidos, é negativo para a liquidez." "Estamos em um ciclo de afrouxamento contínuo, então precisamos injetar mais liquidez", disse Becky Liu, estrategista de juros do Standard Chartered Plc, em Hong Kong. "Ao mesmo tempo, não creio que eles queiram fazer um corte geral nas exigências de reservas neste momento. Injetar liquidez via recompras reversas é uma forma melhor de suavizar a liquidez interbancária." (Colaboraram Yuanting Yin e Xize Kang)