Título: Governador Valadares cresce sem os EUA
Autor: Hessel, Rosana ; Fonseca, Roberta
Fonte: Correio Braziliense, 04/07/2011, Economia, p. 7

Governador Valadares ¿ Refém por mais de três décadas das volumosas remessas mensais de dólares enviadas pelos emigrantes seduzidos pelo sonho de uma vida melhor nos Estados Unidos, a economia de Governador Valadares, a cidade brasileira que mais exportou mão de obra para a terra do Tio Sam, começa a caminhar com as próprias pernas. A engrenagem da nova realidade do município mais populoso do Vale do Rio Doce, com cerca de 290 mil moradores e a 310 quilômetros de Belo Horizonte, deixou de ser movida pelos repasses mensais, os chamados "valadólares", para ser impulsionada pela economia das pessoas que foram "fazer a América" e acabaram obrigadas a retornar, a partir de 2008, devido à crise financeira deflagrada naquele país e que avançou pelo restante do planeta.

A recessão norte-americana ¿ a bolha explodiu quando um grande número de mutuários não conseguiu mais honrar as prestações de financiamentos de imóveis ¿ trouxe cerca de 5 mil valadarenses de volta à cidade, segundo estimativa da prefeitura. De um lado, a crise minguou as remessas em dólares para Valadares. De outro, obrigou os emigrantes que retornaram a transformar a grana juntada lá em empreendimentos para movimentar o comércio e a indústria do município.

Para se ter ideia, o emprego formal na cidade cresceu 5,77% no acumulado entre junho de 2010 e maio, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O percentual, apesar de baixo, interrompeu dois resultados negativos apurados pelo Caged: recuo de 1,40% entre junho de 2008 e maio de 2009 e queda de 0,02% de junho de 2009 a maio de 2010.

Enquanto o emprego na cidade está em alta, as remessas de valadólares estão seguindo trajetória contrária. Não há uma estatística oficial da redução dos repasses dos moradores do município que foram desbravar a América, mas um dado do Banco Central, acerca das transferências legalizadas e enviadas de todos os países estrangeiros ao Brasil, sinaliza que o recuo foi alarmante.

Nos primeiros cinco meses de 2008, quando a crise americana ainda não havia estourado, os brasileiros que moram no exterior enviaram US$ 1,152 bilhão ao país. No mesmo período de 2009, houve queda para US$ 951 milhões. Outro recuo em igual intervalo de 2010, para US$ 870 milhões. O mesmo ocorreu em 2011, quando entraram apenas US$ 837,7 milhões no país, no período. A redução, frente ao registrado em 2008, foi de cerca de 27%.

Um exemplo que mostra claramente as razões para essa queda é o relatado por Edimar Bispo de Souza, de 44 anos, que morou em Somerville, no estado americano de Massachusetts, de 2005 a 2008. "Recebia US$ 2 mil entregando gelo nos Estados Unidos. Enviava para cá, mensalmente, US$ 1 mil. A crise freou o ritmo de trabalho e passei a enviar US$ 300." Hoje, ele é recepcionista de um hotel que fica em frente à Prefeitura de Governador Valadares.