Título: Maggi, enrolado até para responder "sim"
Autor: Rothenburg, Denise; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 08/07/2011, Política, p. 2/3

Sondado para ocupar o ministério afogado em denúncias de corrupção, o senador do PR é dono de empresas que têm contratos com o Estado. Dilma exige do novo titular a capacidade de imprimir um modelo eficaz de transparência na pasta

Em três dias, o PR passou de titular estável em uma das pastas com o maior orçamento da Esplanada para um partido à beira de um ataque de nervos. Isso porque o único nome da bancada consultado pela presidente Dilma Rousseff para assumir o Ministério dos Transportes ¿ o senador Blairo Maggi (PR-MT) ¿ está disposto a dizer não. Numa reunião ontem pela manhã com líderes do partido no Congresso, o senador Magno Malta (ES) e o deputado Lincoln Portela (MG), Blairo Maggi comentou que é dono de várias empresas que têm contratos com o Poder Público, como a Marinha Mercante, além de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social. "Estou preocupado, preciso avaliar tudo isso. Não sei se constitucionalmente é possível", comentou o senador com os líderes.

O encontro de Blairo com os líderes ocorreu na presença do mais novo integrante da bancada de senadores do PR, Alfredo Nascimento (AM). O ex-ministro tratou de jogar parte da culpa no aumento de preços nas obras rodoviárias no colo do ministro interino, Paulo Sérgio Passos. "Quando cheguei ao ministério, já estava tudo fechado para este ano. Não fui o ordenador de despesas", disse, extremamente abatido. A bancada do PR não deseja Paulo Sérgio Passos no cargo. Um integrante do partido acha que só um ingênuo pode acreditar que tanta corrupção ocorria no ministério e que o secretário executivo e ministro interino em três oportunidade "simplesmente desconhecia as irregularidades".

Outro que participou da reunião foi o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura em Transporte (Dnit) Luiz Antônio Pagot, que está demissionário e de férias. Pagot foi secretário do governo Blairo Maggi em Mato Grosso. Ele ontem permanecia em Brasília e fez um desabafo aos parlamentares: "A maioria dos termos aditivos veio do Paraná, de Santa Catarina e de Porto Alegre", disse aos políticos, na presença do ex-ministro. Referia-se a estados que o PT tentou tirar do PSDB de Beto Richa e do DEM de Raimundo Colombo (hoje no PSD), ambos eleitos na campanha de 2010. No Rio Grande do Sul, Tarso Genro retomou o governo para o PT.

No encontro, eles combinaram que Nascimento, embora seja presidente do PR, não irá participar das conversas sobre o futuro ministro. Ele cuidará de outros temas, como as votações no Congresso. E, quando reassumir o mandato, terá de lidar com um pedido de cassação encaminhado ontem pelo PSol ao Conselho de Ética, sob argumento de quebra do decoro. O PR hoje é visto como um barril de pólvora. Na reunião da bancada, esta semana, os deputados se mostravam dispostos a romper com o governo: "Sempre obedecemos e agora, quando se precisa, é na marra e no peito?", reclamou o deputado Anthony Garotinho (RJ).

O Planalto está dando corda para o PR. Na noite de quarta, Maggi foi ao gabinete do secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, reclamar da demissão de Pagot, seu afilhado. Afirmou que era uma injustiça o afastamento do diretor do Dnit. Gilberto resolveu estender a conversa às possibilidades disponíveis no PR para assumir os cargos vagos desde a última segunda. Foi nesse momento em que Blairo ouviu a sondagem. Mas deparou-se com as exigências que a presidente cobra de quem estiver disposto a assumir o Ministério dos Transportes. Dilma exige que o sucessor imprima um novo modelo de transparência e lisura na pasta após as denúncias de aditivos contratuais e cobrança de propinas de 5% no valor das obras. Desafetos de Maggi acham que o senador teria dificuldades, já que tanto ele quanto Pagot são réus em um processo na Justiça Federal do Distrito Federal (leia mais na página 3).

A permanência de Paulo Sérgio Passos no comando do ministério não está assegurada. Dilma resolveu nomeá-lo interinamente porque ele tem condições de fazer uma transição segura na pasta enquanto um novo nome não é escolhido.

A presidente está disposta a negociar com o PR, provavelmente na próxima semana, a sucessão no ministério. Mas ela não gostou das insinuações de que Hideraldo Caron, servidor de carreira do Dnit, seria "seu espião na autarquia" e poderia até assumir a pasta caso o PR não tenha nomes viáveis.

"Essa acusação foi uma estratégia difundida pelo PR para tentar tornar-se vítima e afirmar aos demais partidos da base que o PT quer tirar o ministério do PR e poderá agir da mesma forma com os demais aliados", completou o interlocutor da presidente.

Conflito de interesse O Código de Ética Pública da Presidência da República impede que ministros de Estado sejam titulares de empresas privadas. A regra é que, ao assumir um cargo no primeiro escalão federal, a autoridade transfira o controle acionário de suas empresas para familiares ou outros sócios para evitar conflito de interesse com a administração pública.

"Quando cheguei ao ministério, já estava tudo fechado para este ano. Não fui o ordenador de despesas"

Alfredo Nascimento, ex-ministro, que atribui parte da culpa do aumento de preços em obras viárias a Paulo Sérgio Passos, ministro interino e antigo secretário executivo da pasta