Uma ex-funcionária da área financeira da Arxo Industrial do Brasil – novo alvo da Lava Jato no esquema de corrupção na Petrobrás – afirmou ao Ministério Público Federal que constatou saques em espécie de até R$ 7 milhões para pagamentos suspeitos em favor da BR Distribuidora, mesmo depois de revelada a existência de cartel de empreiteiras e pagamentos de propinas a políticos na estatal petrolífera. A BR Distribuidora é subsidiária da Petrobrás, responsável pela rede de postos de vendas de derivados.

A ex-gerente financeira trabalhou na empresa de janeiro de 2012 a novembro de 2014. Nesse período, a testemunha afirma ter presenciado pagamentos de propina de 5% a 10% e registrou boa parte das movimentações suspeitas.

“Em data de 24 de setembro de 2014, o senhor Sérgio (Maçaneiro, diretor Financeiro da Arxo) fez a retirada do caixa da empresa um total de R$ 7.088.304,57, para a realização de pagamentos suspeitos”, afirmou ela ao apontar quatro movimentações suspeitas, registradas por ela. Sua identidade é preservada pela Polícia Federal.

A Arxo, com sede em Santa Catarina, fornece tanques aéreos e subterrâneos e caminhões-tanques para a BR Distribuidora. “Para obter os contratos, a Arxo receberia informações privilegiadas da Petrobrás e efetuaria o pagamento de vantagem indevida de 5 a 10% do total do contrato a empregados da referida empresa (BR Distribuidora)”, informou a ex-funcionária.

Procurado.A figura central dessa nova frente de investigação procurou a força-tarefa do Ministério Público Federal em 15 de janeiro. Ela apontou e reconheceu o operador da propina no caso dos contratos da Petrobrás, Mário Goes. Ele é único a ter pedido de prisão preventiva decretada na nona fase da Operação Lava Jato, sendo agora o principal procurado da Polícia Federal e Ministério Público Federal. Goes é considerado um dos principais operadores de propinas na Diretoria de Serviços durante a gestão do ex-diretor Renato Duque, por onde teriam sido escoados entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões para os cofres do PT entre 2003 e 2013, segundo aponta o ex-gerente de Engenharia da estatal Pedro Barusco.

“Mário Goes seria o intermediador das propinas, conforme reconhecimento fotográfico efetuado pela testemunha e identificação de seu nome na contabilidade informal da empresa (“GOIS”)”, registrou o MPF ao pedir a prisão preventiva do acusado.

A ex-funcionária afirmou ainda que “nos dias anteriores à vinda dele (Mário Goes) procediam-se todas as movimentações na empresa para gerar dinheiro em espécie”.

‘Prostíbulos’. Segundo a depoente, o avião da Arxo foi utilizado para buscar funcionários da BR Distribuidora no Rio de Janeiro “para passear”. Ela conta em seu depoimento à Polícia Federal que tais funcionários foram levados a “boates e prostíbulos”, locais nos quais, segundo ela, são tratados “os grandes negócios da Arxo”. Os sócios-dirigentes da Arxo Gilson João Pereira e Sérgio Ambrósio Maçaneiro estão presos preventivamente na sede da Polícia Federal em Curitiba. “Eventualmente, o dinheiro seria levado pelo diretor financeiro Sérgio Ambrósio Maçaneiro até Mário Goes no Rio de Janeiro”, contou a ex-funcionária.

Um terceiro dirigente da empresa, João Gualberto Pereira, estava nos Estados Unidos quando a Justiça decretou sua prisão preventiva para prestar depoimento sobre as denúncias. Na noite de ontem, ele se entregou à Polícia Federal, em Curitiba, ao voltar dos EUA.