Dois meses depois de deflagrada a sétima fase da Operação Lava-Jato, a Polícia Federal (PF) prendeu ontem o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró. A ação estava planejada desde o fim de dezembro por haver "fortes indícios" de que ele "continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens (valores e imóveis) para familiares", informou o Ministério Público Federal (MPF).

No pedido de prisão aceito pelo plantão judicial federal de Curitiba, o MPF afirmou que "não há indicativos de que o esquema criminoso foi estancado. Pelo contrário, há notícias de pagamentos de 'propinas' efetuados por empresas para diretores da Petrobras mesmo em 2014."

Para os procuradores, Cerveró integra "a mais relevante organização criminosa incrustada no Estado brasileiro que a história já revelou".

O ex-diretor da Petrobras viajou a Londres com a esposa no dia 14 de dezembro, domingo. Na segunda-feira, seu advogado, Edson Ribeiro, avisou à PF e ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, mas não comunicou as instituições no Paraná, base da Lava-Jato.

Em novembro a PF prendeu executivos de algumas das maiores empreiteiras do país. Cerveró não foi preso nem obrigado a entregar o passaporte ou proibido de deixar o país.

A PF soube da viagem do executivo ao exterior pela imprensa, apurou o Valor. Os agentes levantaram a data da volta de Cerveró ao Brasil e monitoraram seu retorno.

Quando Cerveró embarcou em Londres, a PF deflagrou quatro operações de busca e apreensão em sua casa e de seus familiares. Cerca de 20 agentes participaram das ações.

Outros três policiais federais do Paraná foram ao Rio para prender o ex-diretor, que chegou ao Brasil no início da madrugada de quarta. Pegaram o primeiro voo de carreira para Curitiba na manhã de ontem e levaram Cerveró sob custódia.

O advogado Edson Ribeiro nega que o ex-executivo tenha planejado fugir. "Cerveró tem cidadania espanhola. Ele estava na Inglaterra, a um pulo da Espanha", disse.

Nestor Cerveró, Fernando Soares - o "Baiano", empresário indiciado pela PF como lobista e operador financeiro do PMDB na diretoria internacional da estatal -, o doleiro Alberto Youssef e o empresário Julio Camargo são réus em processo penal que envolve pagamento de propina de US$ 30 milhões em contratos para aquisição de navios-sonda para a perfuração em águas profundas.

O pedido de prisão do ex-diretor foi feito com base em fatos novos, segundo a investigação: ele tentou transferir para sua filha Raquel R$ 500 mil, mesmo considerando perda de mais de 20% da aplicação financeira; e transferiu recentemente três apartamentos supostamente adquiridos "com recursos de origem duvidosa, em valores subfaturados". "Há evidências de que os imóveis possuem valor de mais de R$ 7 milhões, sendo que a operação foi declarada por apenas R$ 560 mil", diz o MPF.

Para a PF, a tentativa de resgate do plano de previdência visava evitar eventual bloqueio judicial. "O cliente ligou para a gerente da sua conta no dia 16 de dezembro de 2014, solicitando o resgate total do plano de previdência privada que possui conosco no valor de R$ 463.763,00", informa relatório de inteligência da PF.

"Disse também que assim que o recurso ingressar na sua conta corrente irá aplicar o montante numa previdência privada em nome de sua filha, Raquel Cuñat Cerveró. (...) O cliente disse que independente do valor a ser descontado com a tributação [R$ 100 mil], quer fazer o resgate".

Ribeiro, advogado de Cerveró, diz que a transferência financeira para a filha seria para custeio de eventuais gastos com tratamento de saúde. Sobre os imóveis, "as transações foram feitas dentro da legalidade e se tratam de doação familiar", disse. Mas ele não esclareceu se Cerveró mantém contas no exterior.

Como diretor da área internacional da Petrobras, Cerveró participou de decisões sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Cerveró está na carceragem da PF com 11 executivos presos na Lava-Jato. Ele prestará depoimento às 9h de hoje. Fernando Soares e o doleiro Youssef estão em celas individuais.

Cerveró é o terceiro ex-diretor da Petrobras preso na Lava-Jato. Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços) também passaram pela carceragem. Costa tornou-se delator e cumpre prisão domiciliar. Duque foi solto.

O advogado de Cerveró criticou o fato de a presidente da Petrobras, Graça Foster, "ter feito movimentações mobiliárias e sequer ser investigada. São dois pesos e duas medidas? Meu cliente é bode expiatório?", questionou.

Em nota a Petrobras disse que "refuta veementemente a informação de que a presidente Graça Foster tenha feito qualquer movimentação patrimonial indevida" e que a empresa já prestou "todas as informações ao Tribunal de Contas da União sobre as movimentações patrimoniais de Graça Foster". (Colaborou Rafael Rosas, do Rio)