Um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer, deve reunir esta noite a cúpula do PMDB e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na pauta, a tramitação das medidas de ajuste fiscal no Congresso, que é comandado pelos pemedebistas.

Para o vice-presidente da República e presidente nacional do PMDB, Michel Temer, falta uma defesa mais clara das medidas por parte do PT e do governo. Mesmo dividido, o partido está disposto a ouvir os argumentos de Levy "sabendo da situação do país e da importância das medidas a médio prazo para a recuperação econômica".

Com a decisão, o PMDB quer se recolocar no "centro das discussões estratégicas sobre o país", segundo os líderes, do qual o partido se julga excluído pelo governo da presidente Dilma Rousseff, em seu segundo mandato. A relação de Dilma com Temer piorou com a eleição do deputado Eduardo Cunha, que no Planalto é visto como um "defensor do impeachment" para a presidência da Câmara. Para o governo a reunião é importante porque o PMDB, além de ter as maiores bancadas, os presidentes da Câmara e do Senado é quem dão o ritmo à tramitação das medidas no Congresso.

O jantar de Levy com a cúpula do PMDB atende o interesse de ambos: acuado até por aliados, o governo tenta retomar a ofensiva política para viabilizar a aprovação do pacote fiscal. Amanhã, terça-feira, os ministros envolvidos na negociação das medidas provisórias que vão alterar as regras do seguro desemprego, pensão por morte e abono salarial terão um café da manhã no Palácio do Planalto com os líderes da base aliada no Senado e um almoço com as lideranças da Câmara no mesmo dia. Devem participar do encontro Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, Pepe Vargas, de Relações Institucionais, Manoel Dias, do Trabalho, Carlos Gabas, da Previdência, e Nelson Barbosa do Planejamento.

Uma avaliação preliminar feita pelo governo com base nas emendas apresentadas às MPs mostra que os parlamentares concordam com a tese de ajustes nos programas sociais. As mais de 600 emendas tratam principalmente de discussões sobre o alcance das mudanças. Os negociadores do governo enxergam essa enxurrada de mudanças como um espaço para negociação, cenário muito melhor do que se o Congresso resistisse a qualquer tipo de mudança. "O Congresso parece concordar que são necessários ajustes. A discussão será o alcance do pacote", diz um integrante da equipe.

À casa de Michel Temer devem comparecer, além do vice-presidente, os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, e os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia), Helder Barbalho (Pesca), Katia Abreu (Agricultura), Edinho Araujo (Portos), Vinicius Lage (Turismo) e os líderes nas duas Casas do Congresso. A reunião pode ser o primeiro passo para a recomposição do PMDB com o Palácio do Planalto, aliança abalada pela eleição para a presidência da Câmara dos Deputados.

O governo federal, como se sabe, apostou todas as suas fichas na eleição de um candidato do PT contra o candidato do PMDB, deputado Eduardo Cunham (RJ). O pemedebista venceu por larga margem e desde a posse impôs uma pauta intensa à Câmara, algumas vezes à revelia dos interesses do governo. O PMDB quer um deputado mais ligado à bancada no ministério Dilma e mais influência nas decisões sobre investimentos do governo. A bancada de deputados está dividida entre os governistas e os que prefeririam pressionar um pouco mais o governo, para conseguir mais dividendos nas negociações.

No momento em que boa parte do PT hostiliza o pacote do ministro da Fazenda, o PMDB quer mostrar ao governo que é imprescindível para a estabilidade e merece o tratamento de aliado preferencial. Os ministros do PMDB já se engajaram na ofensiva palaciana.

O encontro da cúpula do PMDB com o ministro Joaquim Levy foi precedido de reuniões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, o prefeito Eduardo Paes e o ex-governador Sérgio Cabral, todos grandes eleitores de Eduardo Cunha à presidência da Câmara. Lula esteve no Rio para reabrir o diálogo com os pemedebistas. O ex-presidente aconselhou Dilma a ter uma conversa com Eduardo Cunha, o que a presidente tem evitado, até agora.

O PMDB deve aprovar as medidas provisórias do ajuste fiscal do governo, que restringem o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários. Mas começa a adotar também uma linha que o distinga do governo e do PT, partido da presidente que guarda distância do pacote fiscal. Na quinta-feira vai ao ar o programa do partido com o slogan "O Brasil é a nossa escolha". Uma expressão ambígua, que na leitura de deputados da sigla quer dizer que o PMDB não é Dilma nem PT. É o que o povo quiser.