A Operação Lava-Jato identificou operações financeiras envolvendo títulos em nome da Bombardier em uma das contas na Suíça da Santa Tereza Services, offshore constituída na Nova Zelândia que a Polícia Federal (PF) afirma ter sido usada pelo doleiro Alberto Youssef para pagamentos de propinas no exterior. A Bombardier é uma empresa canadense investigada por integrar suposto cartel de trens e Metrô em São Paulo. Agora estará em outra investigação do Ministério Público de São Paulo, que apura improbidade administrativa envolvendo a Linha 15 Prata do Monotrilho e a remoção de dutos da Petrobras no terreno onde foi construída a Arena Corinthians.
O rastreamento ocorreu na trilha dos passos de João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, procurador de offshores operadas pelo doleiro Alberto Youssef, segundo a força-tarefa da Lava-Jato. Ele é concunhado de João Ricardo Auler, vice-presidente da Camargo Corrêa, preso em novembro do ano passado pela PF. Réu por supostos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção, Auler é acusado de integrar cartel de empreiteiras que se revezariam em contratos com a Petrobras, acusa o Ministério Público Federal (MPF). Segundo o MPF o nome da Bombardier aparece em extrato de uma de quatro subcontas da Santa Tereza, nominada “Sanko Sider”. Na avaliação dos procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, são “depósitos que também aparentam ser relacionados à corrupção de funcionários públicos brasileiros”, destacam em relatório de análise.
A offshore Santa Tereza mantinha conta no PKB Private Bank da Suíça que chegou a dispor de US$ 3,2 milhões, segundo a PF.
Um dos extratos mostra a Bombardier Inc. relacionada ao valor de US$ 202 mil, em uma lista de posições de títulos futuros (bonds). A documentação faz parte do material apreendido em julho do ano passado durante ação de busca na casa de João Procópio, em São Paulo, e no escritório da empresa Queluz Participações e Negócios Ltda.
Procurada, a Bombardier informou que “reitera que jamais manteve contato com a empresa Santa Tereza ou qualquer outra companhia pertencente ao senhor Alberto Youssef. Em 2013 a Bombardier Inc. realizou uma emissão de títulos para captação de recursos na forma de bonds, em uma operação absolutamente transparente e de acordo com a legislação financeira. Como a venda dos referidos títulos é intermediada por corretoras e instituições financeiras (como atestam os extratos do banco PKB), a empresa emissora não mantém contato direto com o comprador/beneficiário final. A Bombardier reforça seu compromisso com os mais altos padrões de ética corporativa em todos os países onde está presente”.
Candidato à presidência da Câmara, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), afirmou ontem ter recebido a informação de que alguém da cúpula da Polícia Federal (PF) teria forjado um áudio para jogar suspeitas sobre sua candidatura e pediu a abertura de um inquérito para apurar a suposta gravação telefônica.
O pemedebista, que chamou o caso de uma “alopragem” contra sua candidatura, convocou uma coletiva para distribuir o áudio e evitar que a gravação chegasse à imprensa na véspera da eleição, dia 1º de fevereiro. Ele concorre contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG).
O líder do PMDB disse que recebeu o áudio no sábado por meio de um suposto policial que entrou em contato com seu gabinete no Rio de Janeiro: “O policial me entregou a gravação e disse que estavam fazendo uma montagem para inserir em um inquérito como uma suposta gravação telefônica e que ele não concordava com isso.”
Segundo Cunha, o policial não indicou qual inquérito receberia o áudio. “Ele disse que quem estaria orquestrando isso fazia parte da cúpula da PF. Me deu o nome e informei ao ministro [da Justiça, José Eduardo] Cardozo, mas não vou tornar público porque não tenho provas e pode até se tratar de algum desafeto de quem me entregou a gravação”, disse.
Em nota, a PF prometeu celeridade e uma perícia no áudio, mas informou que o deputado não acusou ninguém da corporação ao pedir a abertura de inquérito: “A denúncia encaminhada não atribui a autoria da gravação a qualquer integrante da Polícia Federal.”
No áudio, dois homens conversam por 3min30s em uma ligação telefônica. Um seria um policial que estaria se sentindo “abandonado” pelo pemedebista e outro seria um suposto conhecido do líder do PMDB, que tenta tranquilizar o policial garantindo que ele receberá o dinheiro combinado. “Se eu ficar abandonado vou jogar merda no ventilador. Tá todo mundo enchendo a burra de dinheiro e eu estou abandonado e duro”, afirma o suposto policial. “Não precisa você citar nomes. Você tenha a tranquilidade que você vai ser remunerado”, responde o outro.
Galvão processa a Petrobras
A Galvão Engenharia, empresa investigada na Operação Lava-Jato, ingressou com ação na Justiça estadual do Rio de Janeiro solicitando que a Petrobras restabeleça contrato da ordem de R$ 3,1 bilhão com o consórcio UFN3 para a construção da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados em Três Lagoas (MS). A ação foi distribuída para a 45ª vara cível da cidade do Rio de Janeiro e corre sob segredo de Justiça, por envolver cláusula de confidencialidade.
A estatal comunicou a rescisão contratual ao consórcio em 8 de dezembro, alegando que Sinopec - fornecedora de derivados de petróleo com atuação na exploração de óleo cru e gás natural - e Galvão Engenharia deixaram de pagar fornecedores e trabalhadores.
A Galvão Engenharia confirma que "já existe ação em juízo proposta pelo Consórcio para ter reconhecidos os seus direitos de manutenção do contrato" e informa que 83% da obra já foi concluída.
Na ação, o consórcio alega que a Petrobras realizou a licitação para o projeto básico do empreendimento, promovendo alterações com a obra em andamento e que a Petrobras acumulou atrasos em pagamentos devidos.
No pedido à Justiça, o consórcio alega ainda que, além dos valores resultantes das alterações na planta da indústria de fertilizantes, que ultrapassaria R$ 1 bilhão, há outras pendências como dívidas com fornecedores locais. Cerca de 7 mil empregos, diretos e indiretos, teriam sido gerados na obra.
Uma delegação da Sinopec esteve no Brasil no fim de 2014 para discutir com a Petrobras uma saída para a unidade de fertilizantes. Uma das sugestões apresentadas foi a busca de linha de financiamento com bancos chineses para garantir a conclusão da obra.
A Petrobras não respondeu à solicitação da reportagem. Ontem foi feriado no Rio, sede da empresa e foro da ação.