A economia da Venezuela vai desabar neste ano, devendo encolher 7%, na esteira da queda dos preços do petróleo, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em outubro, o Fundo estimava uma retração de 1%, mas reduziu com força a estimativa depois do tombo de quase 50% do produto. Nas contas da instituição, um recuo de US$ 10 nas cotações da commodity piora o saldo comercial do país em 3,5% do PIB.

Em entrevista, o diretor para o Hemisfério Ocidental do FMI, Alejandro Werner, disse que uma contração do PIB dessa magnitude é "uma situação extrema do ponto de vista econômico, com consequências sociais importantes", ainda mais por ocorrer depois de um ano muito negativo - a estimativa do Fundo é que o PIB tenha caído 4% em 2014. "A perda da receita de exportação acentua os problemas fiscais e a recessão", disse Werner, observando que as exportações de petróleo equivalem a mais de 30% do PIB da Venezuela.

"Uma situação em que as exportações caem 10 pontos percentuais do PIB, medidas a um câmbio constante, claramente apresenta um risco muito importante para a economia", afirmou ele. Depois do fechamento desta edição, estava previsto o discurso anual do presidente Nicolás Maduro ao Congresso venezuelano, e a expectativa era de que ele anunciasse medidas econômicas, como uma desvalorização do câmbio.

Segundo Werner, o consumo vai ter uma contração muito significativa e os níveis de escassez ainda devem aumentar. Ele afirmou ainda que os indicadores de alta frequência da economia venezuelana mostram um quadro muito difícil. A capacidade utilizada no setor industrial é inferior a 50% e a produção de automóveis e motocicleta tem quedas de 70% a 90%.

Ao comentar o impacto da crise venezuelana sobre a América Latina, Werner disse que as economias que mais comercializam com a Venezuela já assimilaram ao longo dos últimos anos, devido à forte queda das importações realizadas pelo país. Uma parte importante do ajuste já ocorreu pelo lado real e um impacto adicional deve acontecer, mas não vai ser o maior, disse ele. O efeito financeiro é o que o preocupa um pouco mais, devido ao possível impacto sobre os mecanismos de financiamento associado às vendas de petróleo para os países do acordo Petrocaribe.

"Dadas as crescentes tensões econômicas nesse país, o apoio ao programa começou a se reduzir", escreveu Werner, num post para o blog do FMI. O ponto positivo é que a forte queda nos preços do petróleo pode mitigar esse risco, lembrou, ressaltando que os países da América Central e do Caribe são importadores do produto. Com o tombo nas cotações, haverá uma queda nos gastos com a compra da commodity.

O petróleo barato também afeta as perspectivas para Colômbia, Bolívia e Equador, mas em menor grau. "Nos três países, os resultados fiscais vão sofrer com a queda da receita do produto, mas as posições iniciais são fortes o suficientes para aguentar o impacto." Ao falar do México, Werner afirmou que o país protegeu as suas receitas de petróleo por meio do hedge financeiro. Além disso, o setor tem um papel relativamente modesto na economia mexicana, o que faz o impacto total da queda do produto ser limitado.

O post de Werner afirma também que uma debilidade persistente dos preços do petróleo pode limitar o potencial de desenvolvimento de recursos inexplorados do setor em países como Brasil (caso do pré-sal), Argentina e México.

Ao falar dos países da América do Sul, Werner disse que eles sofrem os ventos contrários do crescimento global fraco e das commodities baratas, notando ainda que o investimento vai mal. Segundo o FMI, as expectativas de crescimento para o Chile e o Peru são mais favoráveis do que no Brasil, mas também estão um pouco mais fracas do que pareciam em 2014.

A Argentina segue em situação complicada, na visão do FMI. Apesar da moderação das pressões sobre o câmbio e de um crescimento mais vigoroso do que o previsto em 2014, o país continua com desequilíbrios macroeconômicos importantes, disse Werner, que prevê uma contração do PIB de 1,3% neste ano.