Alvo de críticas por conta de problemas no fornecimento de energia na Grande São Paulo, a Eletropaulo não pretende ampliar os investimentos em 2015. Em entrevista exclusiva, o presidente da companhia, Britaldo Soares, afirmou que a distribuidora vai investir entre R$ 550 milhões e R$ 570 milhões neste ano, mesmo patamar verificado em 2014, considerando os aportes com recursos próprios. Segundo ele, a taxa de remuneração apertada para as distribuidoras e os custos elevados com compra de energia se traduziram menor geração de caixa, o que não permite uma expansão mais expressiva nos investimentos. Conforme mostrou reportagem do Valor na semana passada, a companhia, responsável pelo abastecimento da capital paulista e mais 23 municípios do Estado, tem reduzido os valores investidos nos últimos dois anos. De acordo com Soares, no entanto, apesar da redução nos valores absolutos, os aportes tem se mantido como proporção na geração de caixa, na faixa de 60% a 70%. O presidente da concessionária argumenta que o terceiro ciclo de revisão tarifária, que passou a valer a partir de 2012 diminuiu a geração de caixa das distribuidoras em cerca de 25%. "Isso, associado à disparada nos custos com compra de energia para revenda diminuiu a capacidade de investimentos", afirma. No último ciclo de revisão, que dá os parâmetros para tarifas num horizonte de quatro anos, a taxa de remuneração mínima das distribuidoras, dada pelo custo médio ponderado de capital (WACC, em inglês) foi de 7,5%, muito abaixo dos 9,9% do processo anterior. No caso da Eletropaulo, o resultado foi uma redução das tarifas foi da ordem de 10%. Ao fim do terceiro trimestre de 2014, a Eletropaulo tinha R$ 641,5 milhões em caixa, 32,3% a menos do que no fim de 2011, e a dívida líquida saltou 58%, para R$ 3,68 bilhões. Soares afirma que os reajustes expressivos de energia para os consumidores, verificados desde o ano passado, têm sido ocasionados principalmente pela disparada dos custos da energia e não são capturados pela distribuidora. "Você tem um aumento de mais de 20% na tarifa e aí falta luz na sua casa. De quem você acha que é a culpa? Da distribuidora, que cobra a conta", explica. Nos cálculos da companhia, da tarifa média praticada, de R$ 316 por megawatt-hora (MWh), 18% correspondem à sua fatia, valor que tem que acomodar os gastos com manutenção, operação e os investimentos. A expectativa da empresa é que o quarto ciclo de revisão tarifária, que começa a vigorar em julho, traga condições melhores. A proposta inicial da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é de uma taxa de remuneração mínima de 7,16%, mas Soares acredita que esse número possa chegar a até 10%. "Temos um aumento contínuo da taxa de juros, mais risco cambial e um nível de risco que foi imposto ao setor de distribuição que não existia antes. Tudo isso tem que ser colocado na conta e a Aneel está com uma boa oportunidade nas mãos para recobrar a capacidade de investimento do setor", diz o executivo. Desde dezembro, a Eletropaulo vem enfrentando problemas por conta de interrupções no fornecimento de energia após fortes chuvas que atingiram a Grande São Paulo. Alguns bairros chegaram a ficar mais de dois dias sem luz. Segundo Soares, os investimentos em manutenção da rede são mantidos e a situação do período foi atípica, com a queda e mais de duas mil árvores na área de concessão. "Tivemos uma sequência de eventos quemachucaram bastante a rede", ressalta. A companhia apresentou segunda-feira um plano de contingência à Secretaria de Energia de São Paulo, com orçamento da ordem de R$ 30 milhões, disse o executivo. No programa, incluiu mais 250 mil árvores a seu plano de podas para 2015, contra as 140 mil previstas anteriormente. Além disso, vai reforçar 3,3 mil quilômetros de cabos de alta tensão, com instalação de equipamentos dão mais proteção contra impactos. O plano, contudo, não agradou o governo. Em coletiva de imprensa realizada ontem, o secretário de energia, João Carlos Meirelles, afirmou que os pontos foram "insuficientemente informados" e exigiu esclarecimentos adicionais. Entre as críticas, destacou que a distribuidora precisou recorrer a equipes de manutenção de outras empresas, o que indicaria um quadro de funcionários defasado.