A Grécia precisa de um perdão da dívida? Alexis Tsipras, líder do Partido Syriza, de esquerda, que pode ser o próximo primeiro-ministro grego, diz que sim. "Não há nenhuma pessoa sensata em toda a Europa que pense seriamente que a dívida da Grécia é sustentável e deve ser paga totalmente", disse ele em um discurso esta semana. Ainda assim, muitos legisladores de toda a zona do euro, que presumivelmente se consideram sensatos, discordam. Esqueça, argumentam eles, que a dívida do governo grego é equivalente a extraordinários 174% do Produto Interno Bruto (PIB). Em vez disso, olhe para o volume relativamente administrável que a Grécia deve pagar anualmente em juros. "Não se pode olhar apenas para o nível da dívida ou para a proporção da dívida, que é uma análise inadequada", disse Klaus Regling, chefe do Mecanismo Europeu de Estabilidade, em setembro de 2013. Ele argumenta que o importante é que a conta de serviço da dívida da Grécia caiu significativamente porque agora outros países da zona do euro possuem 60% da dívida do governo grego, de ? 322 bilhões (US$ 380 bilhões). Eles aceitaram reduzir fortemente o pagamento de juros da Grécia e estender os pagamentos até 2054. Essas concessões são, diz Regling, "economicamente equivalentes a um corte de cabelo " - uma redução do valor nominal da dívida. O que não convenceu a todos. "Claro que eles iam dizer isso", diz Philippe Legrain, ex-conselheiro econômico da Comissão Europeia. Legrain avalia que a Grécia deveria ter recebido o perdão da dívida em 2010, em vez de ser forçada a pagá-la integralmente - em grande parte para benefício dos bancos da Alemanha, França e outros países do Norte da Europa - e em vez de ser submetida a um duro programa de austeridade. Agora, sentados sobre o triste legado político e econômico daquela decisão, os governos da zona do euro estão apenas "chutando a lata pela rua infinitamente ou pelo menos até que a atual safra de legisladores se aposente", diz Legrain. Ele duvida que a dívida da Grécia cairá em relação ao PIB nos próximos anos e certamente não chegará nem perto da projeção oficial da zona do euro, abaixo de 124% do PIB até 2020. Isso em parte porque ele acha que as previsões oficiais para crescimento são muito otimistas. Essas previsões veem o crescimento nominal do PIB - crescimento real mais inflação - em quase 5% entre 2016 e 2020. E também porque ele é cético quanto à suposição de que a Grécia terá superávit primário no orçamento - o saldo do orçamento antes do pagamento dos juros da dívida - equivalentes a 4% ou mais do PIB por tempo indeterminado. Ele considera isso politicamente irrealista. "Nenhum outro país fez o que está sendo pedido para a Grécia fazer." É verdade que o pagamento de juros da Grécia para os credores da zona do euro está baixo em termos nominais. Para os ? 142 bilhões em empréstimos do fundo de resgate europeu, Atenas paga apenas 0,5% acima dos juros de mercado de curto prazo, que hoje estão perto de zero. Mas o fardo real é mais pesado, porque a inflação na Grécia é negativa. Os preços caíram 2,6% em 2014, o significa que os juros reais da Grécia ultrapassam polpudos 3% no ano passado. A zona do euro também permitiu que a Grécia adiasse o pagamento de juros até 2022. Este ano, os pagamentos à vista de juros previstos devem somar apenas 3% do PIB. Mesmo com esse cronograma, algumas dúvidas permanecem. A primeira é com relação a este ano, quando vencem ? 16 bilhões em títulos e empréstimos. Uma grande parte desse total se refere a ? 6,7 bilhões em títulos em poder de bancos centrais da zona do euro que devem ser pagos em julho e agosto. Para esse pagamento, a Grécia irá provavelmente necessitar de parte dos ? 7,2 bilhões remanescentes dos empréstimos do socorro financeiro. E para resgatar esse montante, ela precisa da aprovação por parte dos credores oficiais, até agora não obtida, de que o país cumpriu os termos do programa de socorro financeiro. Outro desafio é esperado para 2019, quando as dívidas a vencer somarão ? 13,6 bilhões. E então em 2022, quando a cobrança de todo o juro que a zona do euro postergou virá de uma vez. A soma atingirá cerca de ? 17 bilhões e presumivelmente precisará ser renegociada com mais um empréstimo de longo prazo. Há outro grande risco. O pagamento de juros da Grécia está baixo no momento, mas poderá aumentar de forma significativa nos próximos anos à medida que subirem as taxas de juros na zona do euro. Alguns especialistas argumentam que esse risco pode ser resolvido hoje de uma forma relativamente barata, já que as taxas estão baixas, trocando as obrigações com juros variáveis por taxas fixas por meio dos mercados financeiros. O problema é que a classificação de crédito da Grécia é muito ruim para tornar isso possível, então outros governos da zona do euro teriam que concordar com a medida. Com certeza, a Grécia não é hoje a mesma devedora que era em 2010. A sua dívida é menor e os seus principais credores são os governos parceiros da zona do euro, não investidores financeiros. Esses governos declararam em novembro de 2012 que estão dispostos a fazer mais concessões se a Grécia registrasse superávit primário - o que ela conseguiu pela primeira vez em 2014 - e implementasse todas as condições do programa de socorro. Mas lidar com os riscos em curso, como um aumento súbito das taxas de juros, provavelmente exigirá mais paciência dos demais países que adotam a moeda única europeia.