O Brasil é o único país no mundo que está aumentando o preço dos combustíveis. Enquanto a tendência lá fora é baixar o preço, seguindo a queda das cotações internacionais do petróleo, aqui ocorre o inverso. Atualmente, a gasolina no mercado interno está 62% mais cara que no exterior. Se o país estivesse no mesmo ritmo das demais nações, o litro do produto custaria menos de R$ 2 em Brasília. Hoje, sai por R$ 3,17, em média.

“Isso acontece porque os outros países fizeram o dever de casa, e o Brasil, não”, disse o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas. Ele explica que, enquanto o resto do mundo seguia a cotação do barril de petróleo — se aumentasse, consequentemente, a gasolina também subia —, o Brasil segurou o preço dos combustíveis nos últimos quatro anos. “Isso gerou um buraco muito grande nas contas da Petrobras, que precisa ser recuperado agora. Acabou sendo plantada uma inflação no momento errado. Ela deveria ter acontecido aos poucos ao longo dos últimos anos”, explicou o economista. 

Ele acredita que uma das consequências desse controle é a dificuldade em prever reajustes, como o que acontecerá a partir de fevereiro. Gasolina e óleo diesel terão o preço elevado nas bombas porque aumentará a alíquota do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) aplicada aos combustíveis. A alta vai ser repassada ao consumidor. 

A medida faz parte do ajuste fiscal conduzido pelo governo para ampliar a arrecadação e equilibrar as contas em 2015. Além disso, a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que teve a alíquota zerada em 2012, vai voltar a partir de maio. Nas refinarias, o acréscimo será de R$ 0,22 na gasolina e R$ 0,15 no óleo diesel. Para o consumidor final, o valor ainda é incerto — a estimativa é que o aumento na bomba fique entre 5% e 7%. 

Revolta
Anunciada no início da semana, a alta pegou muita gente de surpresa. Nos postos de gasolina, clientes aborrecidos já reclamam e buscam alternativas. “Acho abusivo”, sentenciou a analista ambiental Érica Coutinho, de 32 anos. Acostumada a andar de bicicleta, foi só no ano passado que ela resolveu comprar um automóvel. Agora, pensa em abandoná-lo. “Esse aumento foi um ótimo incentivo para eu voltar a pedalar”, brincou.

Outros fazem questão de manter o carro rodando, como a analista de licitações Marilene Paz, de 32 anos. Descontente com a notícia, ela lamentou os gastos que vai precisar cortar, a começar pelo lazer. “Os impostos aumentam o tempo todo, sem nenhuma justificativa”, reclamou. 

Segundo André Braz, cerca de 3% da renda familiar dos brasileiros vai para gastos com combustíveis. Isso significa que uma família que ganha R$ 5 mil por mês gasta, aproximadamente, R$ 150 para abastecer os carros. Com o aumento previsto, esse número pode chegar a R$ 160,50 mensais. 

O acréscimo foi tão inesperado que até o gerente de posto de gasolina Marcos Rangel, de 33 anos, só ficou sabendo ao ler o jornal. Até agora, ele não tem ideia de quanto será o repasse ao consumidor. “Não tenho nenhuma informação a respeito. Vamos ter que esperar para ver”, disse. 

Uma das clientes do posto, Marlúcia Melo, de 33 anos, se preocupa com as consequências indiretas do aumento. “Vai afetar não só a mim, que trabalho com moto, mas ao meu patrão também. Ele vai ter que cortar gastos”, preocupou-se a motofrentista. Ela tem medo de que, entre esses cortes, acabe sendo demitida por necessidade de reduzir o quadro de funcionários.

•Mais etanol na mistura
O aumento na mistura de etanol à gasolina deverá ser anunciado pelo governo federal na primeira semana de fevereiro e entrará em vigor 90 dias depois, informou a ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Ela afirmou, porém, que o novo percentual ainda não foi decidido. A mistura de etanol anidro à gasolina está atualmente fixada em 25%. Em setembro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff sancionou lei que prevê elevação até o limite de 27,5%.