A presidente Dilma Rousseff vai resgatar a coordenação político de governo, modelo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo dos oito anos de mandato no Palácio do Planalto. Dilma foi convencida a ampliar a interlocução e o debate interno das ações do Executivo e, sobretudo, a criar mecanismo para atenuar eventuais crises políticas em um ano que se desenha, nas palavras de um aliado, “muito difícil”. Segundo apurou o Correio, farão parte desse colegiado os ministros: Pepe Vargas (Secretaria de Relações Institucionais); Aloizio Mercadante (Casa Civil); Jaques Wagner (Defesa); Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

A periodicidade das reuniões do Conselho ainda não foi decidida. Durante o governo Lula, elas aconteciam todas as segundas-feiras, para traçar o cenário político que o Planalto enfrentaria ao longo da semana. Lula foi obrigado, ao longo do mandato, a corrigir uma distorção que se repete na composição do atual grupo: a presença exclusiva de ministros petistas, desprezando a participação de outras legendas aliadas, sobretudo o PMDB.

A formação do grupo atende a vários objetivos. O primeiro deles é não deixar Pepe Vargas — elogiado pela capacidade de diálogo, mas um neófito nas articulações políticas mais amplas — sozinho com a missão de negociar com um Congresso hostil. “Ele vai precisar de ajuda, porque, sozinho, não vai dar conta do recado”, disse um petista graduado do Congresso, apontando o Salão Nobre do Palácio do Planalto. “Quando muito, viemos nós, petistas (para a posse de Vargas). Onde estão os líderes de outros partidos?”, questionou o parlamentar.

Durante o discurso de transmissão de cargo na última sexta-feira, Ricardo Berzoini, que assumiu o Ministério das Comunicações, exaltou o sucessor Pepe. “Ele foi prefeito duas vezes (de Caxias do Sul). Por ter sido prefeito, ele sabe da necessidade das articulações políticas para que uma administração seja exitosa”, elogiou Berzoini. “Eu conheço o trabalho dele no Congresso e no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Pepe é muito hábil”, garantiu o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz.

Caciques peemedebistas, contudo, acreditam que a troca será ruim, já que Berzoini tinha muito mais cancha política — ele foi ministro três vezes e presidente do PT durante o pior momento vivido pelo partido, em 2005, com a eclosão da CPI dos Correios no Congresso. “Ele corre o risco de transformar-se em um novo Luiz Sérgio (primeiro ministro da coordenação política de Dilma, em 2011) e ser um mero anotador de recados”, disse um parlamentar da cúpula do PMDB.

Outro objetivo de se formar uma estrutura colegiada de coordenação é evitar que Pepe fique à mercê do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Considerado homem forte do novo mandato da presidente, ele é visto com desconfiança e ciúmes por outros integrantes do governo, pelo livre trânsito que tem junto com a presidente Dilma. Pior: mesmo sendo um nome histórico do partido, é considerado excessivamente voluntarioso na articulação política.

Segundo aliados do governo, a presidente Dilma já foi alertada que os superpoderes concedidos ao chefe da Casa Civil podem ser perigosos. “Ele pensa exatamente como ela. Não que o chefe da Casa Civil possa ter um comportamento autônomo. Mas eventuais discordâncias são fundamentais para se corrigir rumos do governo”, defendeu um ministro que terá assento no conselho político. Além disso, muitos petistas lembram, de maneira jocosa, o dia em que Mercadante, líder do governo no Senado, tuitou que deixaria o cargo de maneira irrevogável. Mudou de ideia após uma conversa com o então presidente Lula.

Funções
O Conselho Político também é uma forma de a presidente manter próximo o novo ministro da Defesa, Jaques Wagner. “Além de ter gostado de ser nomeado para a pasta, por considerá-la estratégica, ele recebeu a promessa de que integrará o núcleo de decisões palacianas”, disse um aliado do ministro baiano. Wagner chegou a ser cotado para diversas pastas — a Casa Civil, de Aloizio Mercadante; a Secretaria de Relações Institucionais, de Pepe Vargas; e até o Desenvolvimento, Indústria e Comércio, de Armando Monteiro. Ficou na Defesa, mas, ainda assim, terá voz ativa ao longo dos próximos quatro anos.

Miguel Rossetto, que também integrará o Conselho Político, destacou o seu papel durante a transmissão de cargo na última sexta-feira. “Eu me sinto muito honrado por ter sido nomeado ministro e por ter ajudado a compor a coordenação política do governo da presidente Dilma Rousseff.” Além deles, será convidado para os encontros o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que permanecerá no governo por, pelo menos, mais um ano, para evitar a imagem de turbulência nas investigações da Operação Lava-Jato.


Articulação repartida
Quem serão os articuladores políticos da presidente Dilma Rousseff

Pepe Vargas (Secretaria de Relações Institucionais): prefeito por duas vezes de Caxias do Sul (Rio Grande do Sul), Pepe foi ministro do Desenvolvimento Agrário e está no segundo mandato como deputado federal.

Aloizio Mercadante (Casa Civil): ocupa a terceira pasta na gestão de Dilma Rousseff. Começou como ministro da Ciência e Tecnologia e depois assumiu a Educação. Foi líder do governo no Senado durante o governo Lula, líder do PT na Câmara quando o partido ainda estava na oposição e candidato a vice-presidente em 1994.

Jaques Wagner (Defesa): foi ministro do Trabalho e da Secretaria de Relações Institucionais no auge da crise do mensalão, em 2005. Governador duas vezes da Bahia, derrotando o carlismo, fez o sucessor (Rui Costa) e deu à presidente 60% dos votos no primeiro turno e 70% no segundo.

Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência): vice-governador do Rio Grande do Sul na gestão de Olívio Dutra, foi ministro do Desenvolvimento Agrário nos governos de Lula e de Dilma Rousseff. Presidiu a Petrobras Biocombustível e foi o coordenador-geral da campanha de reeleição de Dilma Rousseff.

José Eduardo Cardozo (Justiça): duas vezes deputado federal, foi um dos três coordenadores da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010, ao lado de Antonio Palocci e José Eduardo Dutra. Está no cargo desde 2011