Com o primeiro desentendimento envolvendo a nova equipe econômica, a presidente Dilma Rousseff (PT) deixou claro não querer alterações na fórmula de reajuste do salário mínimo. Mantida, a regra dará aumentos menores aos trabalhadores em 2016 e 2017, já que o ganho real permanecerá vinculado ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de anos anteriores. Em 2014, a economia brasileira deve crescer apenas 0,2% e a projeção do mercado para 2015 é de uma expansão de, no máximo, 0,5%.
Na opinião do economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, apesar de ameaçar a autonomia do ministro Nelson Barbosa logo no início do governo, a decisão da presidente tem um saldo positivo para o ajuste das contas públicas. "Com o envio de uma nova proposta, a tendência seria dar ganho real maior ao salário mínimo. Mantendo a regra como está, os reajustes de 2016 e 2017 serão menores, uma vez que o crescimento da economia será pífio em 2014 e em 2015", reforça. Pelos cálculos do economista, o PIB do Brasil crescerá 0,2% em 2014 e 0,3% em 2015.

A nota divulgada por Barbosa para mudar o discurso sobre a política de reajustes no salário mínimo evidencia uma falha de comunicação entre o ministro e a presidente Dilma, na opinião do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. "O ministro tem que ter credibilidade. O que ele fala precisa ter valor. Antes de fazer qualquer anúncio, ele precisa conversar antes com a presidente. Salário mínimo é assunto de governo, não de uma única pasta", ressalta.

Na avaliação do ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas, a presidente desmoralizou o ministro ao determinar que ele divulgasse nota alterando o discurso sobre mudanças na revisão do mínimo. Para ele, Dilma sinalizou que não dará autonomia aos novos ministros para conduzirem a economia do país. "Barbosa deveria arrumar as malas e voltar para o Rio de Janeiro. É preciso prestigiar o comandado. Se ela não gostou do anúncio, deveria conversar com o subordinado a portas fechadas", avalia.

Água fria

A primeira bronca de Dilma em Barbosa, no entender do economista-chefe do serviço de informações financeiras CMA, Carlos Lima, tem um poder ainda mais devastador: o de inibir as mudanças necessárias na área econômica. "De novo, a economia aparece servindo à política, e não o contrário. Essa constatação é muito ruim para o país neste momento de tantas incertezas", comenta. O gesto da presidente deixa claro, opina ele, que os ajustes necessários demorarão a serem realizados. "Fica bastante evidente que o ritmo das mudanças não será da maneira que o mercado espera e, mais do que isso, que o país precisa", emenda.

Mesmo que o novo ministro do Planejamento tenha feito declarações destoantes do pensamento da presidente, ao agir intempestivamente, Dilma mina qualquer otimismo dos que acreditavam em mudança logo no início do segundo mandato. "A substituição da equipe econômica se deu em um clima de autonomia, que agora não se confirma", diz Lima. "É um balde de água fria. Ela começa agindo de uma forma já conhecida", acrescenta.