Aconteceu o que se temia. A maior empresa brasileira perdeu o grau de investimento no conceito da agência de classificação de risco Moody"s, uma das principais nesse ramo. É uma ameaça que paira também sobre a economia brasileira como um todo, daí o esforço da nova equipe econômica do governo para mostrar rapidamente resultados na condução da política fiscal, com a acumulação de superávits primários capazes de reverter a deterioração dos indicadores de solvência.

Semelhante correção de rumos deveria ter ocorrido há tempos na Petrobras. A revelação de escândalos escabrosos pela operação Lava- Jato apenas agravou uma situação financeira difícil já vivida pela estatal, devido à realização de investimentos que tiveram mais motivação política do que econômica ou técnica, e pelo demagógico represamento dos preços dos combustíveis. A antiga diretoria tentou administrar esse quadro, embora o mercado tenha dado vários sinais de alerta, espelhados na desvalorização dos papéis da Petrobras na bolsa. Medidas mais drásticas só foram anunciadas este ano, quando já se evidenciara que a Petrobras não teria mesmo acesso a novos créditos, devido a seu elevado endividamento.

O rebaixamento do conceito de risco da Petrobras poderia ter sido evitado se o próprio governo poupasse a companhia de obrigações absurdas que lhe foram impostas na adoção do modelo de partilha de produção em novos campos na camada do pré-sal. Independentemente de qualquer decisão empresarial, por esse modelo a estatal é a operadora única de todos os novos campos que vierem a ser explorados. E com uma participação compulsória de pelo menos 30% no consórcio vencedor da licitação.

Ou seja, a Petrobras foi atrelada a um modelo que ignora suas condições econômicas e financeiras. Virou uma empresa sem autonomia para escolher projetos que lhe tragam mais rentabilidade e retorno nos prazos compatíveis com sua realidade de caixa.

Em uma conjuntura de cotações internacionais do petróleo retraídas, a Petrobras não pode ficar esperando por milagres para melhorar os índices de solvência e recuperar o grau de investimento. O governo precisa demonstrar claramente que ingerências político-partidárias desastrosas na empresa de fato cessaram.

A indústria do petróleo é muito importante para a economia brasileira, pelo volume de encomendas à industria, contratação de serviços, recolhimento de impostos e royalties e bons empregos que gera. A Petrobras é líder incontestável dessa indústria no Brasil, e por isso é fundamental recuperá-la financeiramente, para que assim consiga viabilizar investimentos que a fortalecerão. Em vez de reagir emocionalmente, o governo deveria considerar a recuperação do grau de investimento pela Petrobras como um desafio a ser atingido. E em prazo curto, sem discursos panfletários.