A presidente Dilma Rousseff atribuiu à "falta de conhecimento " a decisão da agência de classificação de risco Moody" s de rebaixar a nota de crédito corporativo da Petrobras. A estatal foi rebaixada em em dois graus, de "Baa3" para "Ba2" na terça-feira. — Foi uma falta de conhecimento direito do que está acontecendo na Petrobras. Não tenho dúvida de que a Petrobras vai ser uma empresa com grande capacidade de se recuperar disso — declarou a presidente em Feira de Santana, na Bahia, onde esteve para entregar um condomínio do Programa Minha Casa Minha Vida. — O governo sempre vai tentar eliminar o rebaixamento. Só lamentamos que não tenha tido correspondência por parte da agência. Mas acho que isso está superado. Durante todo o dia, políticos e especialistas tentaram explicar o significado da reclassificação. Para o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, o rebaixamento da nota de crédito da Petrobras cria uma "dificuldade adicional" para os investimentos previstos na exploração do pré-sal.

E serve ainda de alerta sobre a necessidade do ajuste fiscal para não contaminar a nota do Brasil: — O rebaixamento no rating da Petrobras aconteceu diante do cenário que todos conhecemos com relação às apurações da Operação Lava-Jato. É um alerta para todos, inclusive governo e Congresso Nacional, de que a questão fiscal é não só importante, prioritária, mas estrategicamente necessária. A preocupação ecoou no Congresso. Para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o rebaixamento da nota da Petrobras é uma fonte de preocupação. —Acho que preocupa porque não ajuda na confiança, que é um dado fundamental para sairmos dessa crise econômica. Acho que tudo, absolutamente tudo , que não ajuda a restaurar a confiança no investimento , na geração de empregos, na retomada do crescimento da economia preocupa — disse.

"DESASTRE PROVOCADO"

Já o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), lembrou que se trata de um episódio grave. — Não só os problemas das denúncias de corrupção levaram a Petrobras a ter o rebaixamento. Numa empresa que já passa por muitos problemas, que não consegue sequer ter balanço, além da corrupção, não consegue quantificar o que aconteceu e ao mesmo tempo tem necessidade de investimento elevada, é hora de repensar o papel dela e o que ela tem que fazer — afirmou. Em nota, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), classificou o rebaixamento como "um desastre provocado pela incompetência do governo " e "uma péssima sinalização". Para o tucano, "uma empresa com corpo técnico competente, que ainda é a empresa que mais investe em inovação, não merecia uma condução tão desastrosa, o que é exclusiva responsabilidade dos governos do PT". Apesar de uma enxurrada de críticas, o ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, tentou afastar os temores de um rebaixamento do rating do Brasil. —Não temos receio de que haja uma queda na avaliação de risco do Brasil, porque nós entendemos que é perfeitamente viável cumprir a meta do primário, que já foi anunciada, de 1,2% do PIB — avaliou o ministro.

 

 

Sem balanço, estatal deve ter que emitir ações

Analistas consideram medida inevitável para Petrobras pagar credores

RENNAN SETTI

A Petrobras deve se ver forçada a emitir ações para levantar recursos — em condições extremamente desfavoráveis de preço — caso não divulgue balanço financeiro auditado até o fim de abril, dizem analistas financeiros . Esse é o prazo da Securities and Exchange Commission (SEC) para a publicação do documento. Mesmo que grande parte dos credores aceite a publicação até 60 dias após esse limite , acredita-se que o desprezo pela norma da SEC possa levar à exigência de antecipação de vencimento dos títulos da empresa. O montante total supera US$ 50 bilhões. —É óbvio que emitir ações não é a uma opção excelente, uma vez que a adesão seria pequena e a empresa teria de dar um grande desconto no seu preço para ser atraente — disse Karina Freitas, da Concórdia. — É fácil falar que a situação poderia ser resolvida com um aporte do BNDES, mas isso leva em conta uma situação que não existe mais para o banco de fomento nesse cenário de austeridade . Em relatório , Paula Kovarsky, do Itaú BBA, considerou inevitável a emissão de ações se a Petrobras não publicar o balanço até abril e se for rebaixada pela Fitch. E para Omar Zeolla, da Oppenheimer, o atual baixo preço da ação da estatal significa que os acionistas já antecipam uma diluição dos papéis com essa possível oferta.