A situação nos hospitais públicos do DF permanece crítica, apesar do estado de emergência decretado no início da semana pelo governo. Os exemplos espalham-se. A telefonista Leiliane da Cunha, 36 anos, precisou buscar roupa de cama limpa em casa para o pai, internado há dois meses no Hospital Regional do Gama (HRG) com problemas nos rins e no coração, pois na unidade não tinha. “Ainda faltam os medicamentos. Os mais importantes, a médica pediu para a gente comprar”, relatou o patriarca, Luiz Carlos de Campos, 64 anos, que ontem saiu para fazer exames em outro hospital para confirmar a necessidade de uma cirurgia...

O Correio percorreu, ontem, várias unidades da rede a fim de acompanhar as dificuldades enfrentadas pela população do DF e do Entorno. Com uma ressonância magnética em mãos, Tereza Rodrigues Coimbra, 54 anos, saiu de Água Fria (GO) em um carro da prefeitura para uma consulta no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), numa viagem de 144km. Ela e a irmã, Maria Rodrigues Coimbra, 56 anos, chegaram à unidade às 7h. 

Tereza sofre com um câncer e sentia fortes dores no fígado. Perto da hora marcada para a consulta, às 13h, um auxiliar informou que o médico não aparecereria e, em decorrência da greve dos vigilantes, o ambulatório seria fechado. As duas irmãs ficaram à espera do carro da prefeitura para levá-las de volta, sentadas no chão ao lado da unidade. “Remarcaram o atendimento para a próxima quinta-feira. Mas ela está com o fígado inchado e sentindo muita dor. Ficamos aguardando para nada”, relatou a irmã. “Falaram que se ela passar muito mal, era para voltar direto para a emergência”, completou. 

Até recém-nascidos

Em Ceilândia, o bebê Arthur Ribeiro, de apenas 1 mês, também estava sem atenção médica. “Há uma semana, venho com ele todos os dias, mas não tem pediatra. Ele está com um caroço perto do testículo e estou preocupada, pois não sei o que é. E ele chora de dor”, contou a mãe, Ângela Ribeiro, 20 anos. Essa não é a primeira vez que Ângela enfrenta dificuldades nos hospitais públicos. No início de dezembro, percorreu três unidades de saúde — Hospital Materno Infantil, Hospital Regional de Brazlândia e o próprio Hospital Regional de Ceilândia — em busca de um leito de internação. “Eu tinha contrações e estava com dilatação, mas me mandavam ir embora porque não estava pronta, segundo eles”, lembrou. Na madrugada de 5 de dezembro, ela voltou com muitas dores para o HRC. “Eu fui colocada em cima de uma maca no corredor e fiquei nela por duas horas até que pude ir para o quarto.”

O dia do nascimento do filho de Fabíola Soares, 34, também não foi fácil. Em meio ao caos na saúde, entre uma paralisação e outra, a autônoma teve que sair do centro cirúrgico do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) por duas vezes para que o hospital atendesse casos emergenciais. “Também ocorreu uma explosão na caldeira e faltou água tanto para mim quanto para ele (bebê)”, disse Fabíola.

Providências

A Secretaria de Saúde reconheceu a falta de médicos na rede. Por e-mail, a assessoria de imprensa do órgão disse estudar a reorganização da escala de trabalho de profissionais, além da contratação dos aprovados no concurso realizado em 2014. Sobre a falta de remédios, a secretaria admitiu o desabastecimento, mas as providências estariam sendo tomadas. “A pasta lembra, mais uma vez, que está empenhada em fazer o abastecimento da rede no menor tempo possível e que esta semana já disponibilizou R$ 10 milhões para que alguns contratos sejam pagos e medicamentos e insumos adquiridos”, informou, em nota.

A assessoria confirmou que o Hospital Regional do Gama está trabalhando com estoque de roupas reduzido devido a problemas contratuais com a empresa prestadora do serviço. Com relação ao HBDF, confirmou que os atendimentos ambulatoriais ficaram suspensos, mas garantiu que os pacientes serão reagendados posteriormente, quando a situação se normalizar.

"Ainda faltam os medicamentos. Os mais importantes, a médica pediu para a gente comprar" Luiz Carlos de Campos, internado do Hospital Regional do Gama

Vigilantes fazem paralisação, por BERNARDO BITTAR

Diversos bancos ficaram fechados por causa da greve da categoria

Em busca de aumento de 15% nos salários, vigilantes de Brasília e das regiões administrativas não foram trabalhar na manhã de ontem. Eles deixaram agências bancárias, lojas e um hospital sem segurança. O Sindicato das Empresas de Segurança Privada (Sindesp-DF) garantiu estar aberto a negociações, mas entrou na Justiça para declarar a ilegalidade do movimento. Desde o ano passado, o GDF estaria, segundo eles, devendo subsídios para os patrões — o que acabou na falta de repasse, negado pelo governo.

Segundo a pasta de Relações Institucionais do Executivo, o reajuste solicitado é muito acima da inflação e está fora de cotigação. Na reunião de ontem, no Palácio do Buriti, a exigência caiu para 8%. O Sindesp diz que 177 mil pessoas estão capacitadas para exercer a função de vigilante, mas apenas 22 mil estão empregadas. Dessas, cerca de 8 mil entraram no movimento, que atingiu o Hospital Regional de Ceilândia e a Unidade de Pronto Atendimento da cidade. No primeiro local, 13 dos 17 vigilantes faltaram ao serviço. Mas, de acordo com o presidente do sindicato, Irenaldo Lima, “isso não é desculpa para os hospitais pararem de funcionar. Lá, o que precisa ter é médico”. Cerca de 85% dos bancos da cidade fecharam as portas ontem. Na W3 Norte, apenas a metade funcionou. Na W3 Sul, nenhuma unidade.

Ao entrar em contato com o Sindicato dos Vigilantes do DF (Sindesv-DF), o Correio foi atendido pelo deputado distrital Chico Vigilante, que alegou estar representando a categoria e afirmou que 90% dos trabalhadores estão em greve. “Nós recebemos R$ 1,5 mil e adicional de R$ 472 pelo risco de morte”, discursou.