Título: Acesso desigual a transplantes
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 09/07/2011, Brasil, p. 12

O acesso igualitário aos transplantes ainda não foi atingido no Brasil, onde a maioria dos receptores são homens brancos. A conclusão está presente no documento Desigualdade de transplantes de órgãos no Brasil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o estudo, uma parte significativa da mortalidade pode ser evitada pelo transplante de órgãos. A análise ganha evidência a partir do perfil demográfico da população brasileira. "Tanto as mulheres quanto os negros e os pardos apresentam necessidades bem semelhantes às dos homens brancos, além de representarem uma parcela proporcionalmente equivalente na própria população a esse grupo populacional", afirma o texto, de autoria dos especialistas Alexandre Marinho, Simone de Souza Cardoso e Vivian Vicente de Almeida.

De acordo com o estudo, de quatro receptores de coração, três são homens; e 56% dos transplantados têm a cor de pele branca. No transplante de fígado, 63% dos receptores são homens e 37% mulheres. De cada 10 transplantes de fígado, oito são para pessoas brancas. A análise ainda aponta que homens e mulheres são igualmente atendidos nos transplantes de pâncreas, mas 93% dos atendidos são brancos. A maioria absoluta de receptores de pulmão também são homens (65%) e pessoas brancas (77%). O mesmo fenômeno ocorre com o transplante de rim: 61% dos receptores são homens; 69% das pessoas atendidas têm pele clara.

Os autores destacam que "preconceitos, medos, desinformação, biologia humana, subfinanciamento da saúde, racismo e vieses desfavoráveis às mulheres e às minorias e diversos tipos de disparidades contribuem para as desigualdades nos transplantes de órgãos". O relatório analisou dados de 1995 a 2004, fornecidos pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. (LL)