Para Sérgio Goldenstein, economista da Arsa Investimentos, com a correção dos desequilíbrios fiscais haverá espaço para redução da Selic no fim de 2015.
Em uma rara ocorrência, porém previsível, economistas do mercado financeiro são quase unânimes na descrição dos três próximos movimentos do Comitê de Política Monetária (Copom). Na primeira reunião de 2014, nesta semana, o colegiado do Banco Central (BC) deve aumentar a taxa Selic em 0,50 ponto, para 12,25% ao ano. No encontro de março, o Copom deve promover mais um leve ajuste do juro básico e encerrar o ciclo de alta, estreando longo período de manutenção da taxa, com sinais, contudo, de uma queda inevitável em 2016.

Dos 31 economistas ouvidos pelo Valor, 30 esperam que o Copom anuncie na quarta-feira à noite elevação da taxa básica de 11,75% para 12,25% ao ano. E, a despeito da fraqueza da economia e da crescente confiança em um ajuste fiscal restritivo, a perspectiva da maioria dos analistas (30) é de que BC siga apertando o torniquete monetário. Isso por conta das pressões inflacionárias no curto prazo, como o reajuste das tarifas de energia e de transporte público urbano, e do próprio discurso do BC, garantindo que fará o que for necessário para pôr a inflação rumo à meta (4,5%) em 2016.

Para Paulo Vieira da Cunha, ex-diretor do BC e atual chefe de pesquisa macroeconômica do ICE Canyon, depois da alta de 0,50 ponto nesta semana, o Banco Central encerra o aperto monetário em março, com uma alta final de 0,25 ponto. "Dado que a inflação hoje tem um grande componente de inércia, a batalha será manter a taxa por um longo tempo. As planilhas estão indicando inflação em janeiro acima de 1%. Isso posto, é essencial ao Copom reagir e prevenir os efeitos secundários do reajuste de preços relativos", afirma. Para ele, em caso do ajuste fiscal ser bem sucedido, a Selic pode estar abaixo de 10% em 2016.

O chefe de pesquisa do ICE Canyon é um dos 25 analistas (80,6% da amostra) que preveem um processo de afrouxamento monetário ao longo de 2016. Quatro economistas trabalham com Selic estável ao longo do ano que vem e dois ainda não têm projeção. Os economistas do BES Investimentos e da Arsa Investimentos são os que veem a Selic em baixa mais expressiva no ano que vem. O BES projeta 9,50% para dezembro de 2016 e a Arsa espera taxa de 9,75%.

Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da Arsa, vai além e acredita que 2015 não terminará sem que o Copom dê início ao relaxamento monetário que será intensificado em 2016. "A taxa Selic encerraria 2015 a 12%, com o processo de relaxamento monetário retomado no último trimestre de 2015. Para o fim de 2016, estimamos Selic a 9,75%."

O gestor da Arsa, que já chefiou o Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central (Demab), conta que a nomeação de uma equipe econômica mais ortodoxa e comprometida com a correção dos desequilíbrios fiscais reforçou a projeção da Arsa de que haverá espaço para redução da Selic no fim de 2015. O economista entende que o ajuste fiscal já sinalizado mitigará o risco de o país perder o grau de investimento, beneficiará as contas externas e complementará o esforço da política monetária, ao contrair a demanda agregada e contribuir para ancorar as expectativas de inflação.





Embora não tenha feito nenhuma alteração nas projeções para a Selic a partir da posse da nova equipe econômica, o economista sênior do BES, Flávio Serrano, afirma que, sendo confirmada uma política fiscal mais restritiva, o cenário econômico do ano que vem já estará um pouco melhor.

Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, com o "mantra do realismo tarifário", ou seja, o fim do represamento dos preços administrados, abriu-se a possibilidade de o país entrar em 2016 com a inflação convergindo mais rapidamente para a meta (4,5%) "Não teremos mais tanto choque dos preços administrados e a economia continuará com o freio de mão puxado", diz Leal, que prevê Selic 10,50% no fim do ano que vem.

A economista-chefe do J.P. Morgan, Cassiana Fernandez, destoa e descarta a possibilidade de queda dos juros em 2016. Mas não por falta de confiança nos efeitos do ajuste fiscal. Pelo contrário. Antes da confirmação do time econômico do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, a perspectiva era de que o BC, além de elevar a Selic neste ano, teria que promover um novo ciclo de aperto monetário já na primeira metade de 2016. "Após a confirmação da equipe econômica ganhamos convicção que o ajuste fiscal permitirá que Banco Central mantenha os juros em 12,50% ate o fim de 2016", afirma Cassiana, que prevê elevação da Selic em 0,50 ponto nesta semana e em uma alta derradeira de 0,25 ponto em março.

Segundo Cassiana, como parte do ajuste fiscal passa pela necessidade de aumento das tarifas públicas, como no caso do aumento dos preços de energia para compensar a redução de subsídios ao setor, a inflação tende a permanecer pressionada no curto prazo, o que dificulta a tarefa do BC. Mas no médio prazo, principalmente a partir da segunda metade de 2016, diz a economista, "o impacto do ajuste fiscal sobre a confiança e a expectativa dos agentes" vai mais do que compensar o custo inflacionário no curto prazo"

Segundo analistas, é justamente a previsão de um IPCA elevado neste primeiro trimestre que faz com que o BC, a despeito da expectativa de política monetária frouxa nos países desenvolvidos, tenha que continuar a subir a Selic. Os investidores tiraram do radar nas últimas semanas, contudo, tanto a possibilidade de uma alta da Selic em 0,75 ponto nesta semana quanto de taxa básica acima de 13% em dezembro. Com a iminência da adoção de um programa de compra de bônus soberanos pelo Banco Central Europeu (BCE) e a perspectiva de que o aumento de juros nos EUA venha mais tarde, a liquidez global deve seguir farta, o que diminui as pressões de alta do dólar e, por tabela, sobre a inflação.

 

 

Para analistas, Copom abandona parcimônia

19/01/2015 - Fonte:  Valor Online 

 

 
Da postura "especialmente vigilante", passando pela "parcimônia" nos ajustes adicionais da taxa Selic, até a promessa de fazer o que "for necessário" para enquadrar a inflação ao longo de 2016, a comunicação recente do Banco Central (BC) tem intrigado e sido criticada de forma dura por economistas. E isso aumenta as expectativas em relação ao comunicado da decisão desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom). A maioria dos 31 economistas ouvidos pelo Valor espera que o colegiado do BC abandone o uso da palavra "parcimônia" - que marcou o comunicado de dezembro - e adote um tom mais duro. É o caso do diretor do grupo de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Ele espera que o Copom repita no comunicado a linguagem usada no mais recente Relatório Trimestral de Inflação, quando afirmou que "irá fazer o necessário para que no próximo ano a inflação entre em longo período de declínio, que a levará à meta de 4,5% em 2016". O economista sênior do BES, Flávio Serrano, acredita que o colegiado poderá retirar o termo "parcimônia", mas deverá seguir a linha de um comunicado bastante lacônico. "Não esperamos a introdução de outras expressões como especialmente vigilante ou fazer o que for necessário. Outros comentários ficarão restritos à ata da reunião", afirma. Segundo Mauricio Nakahodo, economista do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil, o BC vai reforçar que está "especialmente vigilante" e dar ênfase ao compromisso de pôr a inflação rumo à meta ao longo do ano que vem. Mas isso não significa que a palavra "parcimônia" não possa estar presente no comunicado. Para Nakahodo, a postura vigilante não "indica necessariamente aumentos maiores ou menores dos juros", mas apenas que o BC vai atuar para atingir seus objetivos. "Essa postura não é incompatível com o termo parcimônia, que se refere aos efeitos cumulativos e defasados da política monetária, e, por isso, o BC pode manter essa expressão", diz. Camila Abdelmalack, economista da CM Capital Markets, ressalta que a palavra "parcimônia" foi usada em dezembro para "controlar" as apostas em uma alta da Selic em 0,75 ponto neste mês. "Nesse sentido, não identificamos a necessidade de retirada do termo", afirma Camila, que espera uma menção à contribuição do ajuste fiscal para o esforço de controle da inflação.