Racionalização do consumo entra na pauta do governo
Valor Econômico - 20/01/2015
Daniel Rittner, Leandra Peres e
Andrea Jubé De Brasília
A piora no nível dos reservatórios das hidrelétricas na semana passada fez ganhar força novamente no governo a discussão sobre a adoção de medidas para racionalização do uso de energia elétrica.
O assunto já foi levado ao Palácio do Planalto, embora não haja decisão tomada. O governo tenta definir um discurso, a fim de evitar que seja criada a imagem de que realizará um racionamento ou que o país enfrenta apagões. A mensagem é que será buscada uma "economia" no consumo de energia.
"Não podemos esperar até o fim das chuvas para fazer alguma coisa", diz uma autoridade. "Já erramos uma vez [em 2001, quando o governo adiou medidas preventivas]. Não tem sentido errar de novo", completa um membro do Planalto.
Segundo o Valor apurou, o alarme do governo soou ainda no fim de semana e foi o que levou à convocação de uma reunião na manhã de ontem pela presidente Dilma Rousseff. O cenário de sobrecarga do sistema provocado pelas altas temperaturas, o reajuste das tarifas de energia e a crise financeira das empresas atingidas pela Operação Lava-Jato - que afeta o cronograma de entrega de novas usinas, como Belo Monte -, estiveram na pauta. Participaram a equipe econômica, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Não se pensa neste momento na adoção de medidas restritivas ao consumo, como a sobretaxa criada no racionamento de 2001. A palavra que circula no governo é "racionaização" com campanhas para redução do uso de energia.
A expectativa no governo era que qualquer tipo de decisão poderia ser adiada para depois de abril, quando acaba o período chuvoso no país. O calendário ganhou urgência depois dos problemas de fornecimento em diversos Estados ontem. Quem defende antecipar eventuais medidas está sendo ouvido com mais atenção.
No ano passado, técnicos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) chegaram a estudar possíveis medidas para a economia de energia. Nada foi adiante por causa do calendário eleitoral.
O argumento agora é que esperar o fim das chuvas poderá exigir medidas mais severas. Agir agora permite se antecipar aos problemas.
Do outro lado, há quem defenda que haverá uma redução natural do consumo nos próximos meses.
O aumento médio de até 40% nas tarifas, assim como as bandeiras que repassam mensalmente boa parte do custo da energia das termelétricas, exigirá novo comportamento do consumidor. Além disso, o baixo crescimento da economia tende a reduzir também o consumo industrial. Nos dois casos, o cenário seria positivo e não exigiria medidas de curto prazo.
Na semana passada, o ONS reduziu de 22,7% para 18,5% o nível de armazenamento esperado nos reservatórios do Sul e Sudeste. Já no Nordeste, a previsão caiu de 17,9% para 16,6% em comparação às projeções da semana anterior.
Há uma janela de cerca de dez dias que o governo ainda considera confortável para avaliar o ritmo de chuvas. No material divulgado na semana passada pelo ONS, espera- se que uma frente fria que hoje atua no Sul do país chegue ao Sudeste ainda esta semana, mas as chuvas previstas são fracas.
Qualquer medida de racionalização de energia tem que passar pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) formado pelos principais órgãos de coordenação do setor. O CMSE faz uma avaliação mensal do risco de apagão, que no início deste mês, era de 4,9% na região Sudeste/Centro- Oeste. O percentual é considerado preocupante, já que o teto estabelecido como aceitável é de 5%. O último relatório do CMSE já previa a necessidade de ações conjunturais específicas, "mesmo com o sistema em equilíbrio estrutural".
Nesta semana, a Aneel divulgaria o primeiro diagnóstico do setor depois que a presidente Dilma Rousseff decidiu suspender os repasses do Tesouro para socorrer as distribuidoras de energia. A discussão, que estava prevista para hoje na reunião de diretoria Aneel, foi retirada pauta. O diretor da Aneel Tiago Correia, que retirou a proposta de orçamento da pauta de votação, disse que isso ocorreu apenas para que sejam feitos ajustes finais e confirmou a expectativa de déficit de R$ 23 bilhões.
Indústria reclama de impacto nas linhas de produção
Valor Econômico - 20/01/2015
Natalia Viri, Olivia Alonso,
Victória Mantoan e
Fábio Pupo De São Paulo
A indústria eletrointensiva mostra preocupação com o cenário de abastecimento de energia no país.
Interrupções pontuais no fornecimento, como as ocorridas ontem, têm grande impacto sobre as linhas de produção, disse Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace). "O transtorno de interromper um processo produtivo é que traz consequências desastrosas. A retomada do processo demora muito tempo. Tem desligamentos do sistema em que a energia volta segundos depois, mas a produção industrial demora horas para ser retomada", ressaltou o executivo.
Segundo ele, há preocupação do setor eletrointensivo quanto a um eventual racionamento de energia. "É só olhar para o céu e ver que não está chovendo o quanto precisava. É claro que o risco de racionamento existe e nos preocup a". Contudo, mostra mais preocupação com o custo da energia e diz que a política tarifária do governo já impôs um "racionamento branc o" para as grandes indústrias. "Pa - ra nós, energia muito cara é energia que não existe. Para nós, energia disponível é a que cabe no custo de produção. E os sinais são cada vez piores nesse sentido", afirma.
Pedrosa diz que a nova política de "realismo tarifário" do governo, com repasses de custos que inicialmente seriam assumidos pelo Tesouro, ao preço da energia, é uma grande preocupação no curto prazo. Segundo ele, o repasse dos recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), voltada a financiar subsídios, trará um impacto de R$ 60 por megawatt-hora nas tarifas, o que já tornará a produção para algumas empresas inviável.
A Termomecanica , uma das maiores metalúrgicas de cobre do país e grande consumidora de energia, ontem teve de recorrer a um gerador próprio durante a interrupção de energia que afetou uma das fábricas do complexo industrial que fica em São Bernardo do Campo (SP).
"O corte atingiu a fábrica 3, mas o gerador conseguiu segurar a operação", informou em nota. Segundo a companhia, ela já vem trabalhando nos últimos meses de forma preventiva para evitar problema de fornecimento no caso de uma crise energética este ano.
A empresa garante que consegue manter a operação mesmo com um racionamento de 30% graças às medidas tomadas para aumentar sua eficiência energética.
Os investimentos com essa finalidade somaram R$ 5 milhões nos últimos anos - aquisição de um grupo de geradores abastecidos com gás natural e óleo diesel.
O diretor de operações industriais da companhia, Luiz Henrique Caveagna, em nota, disse que, "diante da maior seca da história" a empresa se antecipou para evitar a redução da produção, o cancelamento de pedidos ou o adiamento de prazos de entrega.
Mesmo garantindo que não sofreu impacto da interrupção de energia ontem, a ação da Braskem sofreu o maior revés do dia na Bovespa - fechou com baixa de 7,73%. "A Braskem não teve sua produção afetada pela variação de carga do sistema elétrico brasileiro, ocorrida na tarde de segunda - feira", informou em nota.
Segundo analistas da Coinvalores, a possibilidade de um racionamento representa um ponto de atenção para a Braskem, "dada a dificuldade no remanejamento de sua produção". Outro fator de pressão no curto prazo é o vencimento, em junho, do contrato especial de suprimento de energia com a Chesf, em negociação.
Ante à expectativa de racionamento, fabricantes de geradores veem a procura por esse tipo de equipamento subir. A SDMO-Ma - quigeral registrou nas últimas duas semanas um aumento de 30% nas consultas de compras.
Segundo a empresa, surpreendeu o interesse de pequenos estabelecimentos, como restaurantes e comércio, algo não muito comum.
O diretor de marketing, Francisco Gil, disse esperar também uma demanda de indústrias para ampliar a frota de geradores existente. Devido a esse cenário, decidiu antecipar o início da operação da nova fábrica em Embu das (SP), de junho para março.
Nível segue em queda nos reservatórios de SP
Valor Econômico - 20/01/2015
Folhapress, de São Paulo
Com altas temperaturas e sem muita chuva, o nível dos principais reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo voltou a baixar ontem. De acordo com o balanço divulgado pela Sabesp, o sistema Cantareira opera com 5,8% de sua capacidade, depois de cair 0,1 ponto percentual em relação ao dia anterior.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), citou pela primeira vez a possibilidade de utilizar a terceira cota do volume morto do Cantareira. A declaração reforça a possibilidade que já havia sido considerada pelo novo presidente da Sabesp, Jerson Kelman, nesta semana.
O sistema Cantareira registra ainda menos chuva nesse início de 2015. A primeira metade de janeiro trouxe um cenário mais pessimista do que era projetado por especialistas e governo: a quantidade de chuva nas represas e a vazão dos rios que poderiam socorrê-lo ficaram muito abaixo da média histórica, enquanto as temperaturas estão elevadas, um incentivo para maior consumo.
O nível do sistema Alto Tietê cai desde o dia 13 de janeiro e atingiu ontem 10,4% de sua capacidade.
O sistema abastece 4,5 milhões de pessoas na região leste da capital paulista e Grande São Paulo. Com a adição do volume morto no dia 14 de dezembro, o sistema ganhou volume adicional de 39,5 milhões demetros cúbicos de água.
A represa de Guarapiranga registrava ontem 38,9% da capacidade após baixar 0,4 ponto percentual em relação ao dia anterior.
Outro sistema que também registrou queda de 0,4 ponto percentual em relação ao dia anterior foi o Alto de Cotia. O nível dos sistemas Rio Claro e Rio Grande caiu em relação ao dia anterior: 0,7 e 0,3 ponto percentual, respectivamente.
Rio Claro operava com 23,2% da capacidade. Rio Grande tinha 69,1% da capacidade total.