O forte tombo nos preços do petróleo deve levar os EUA a ter inflação na casa de zero na média deste ano. Com o recuo de cerca de 50% do produto desde julho passado, as cotações dos combustíveis têm caído com força, levando a reduções significativas nas estimativas para o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) em 2015.

Para alguns analistas, é possível que esse comportamento dos preços faça o Federal Reserve (Fed, o BC americano) aumentar os juros apenas em setembro, embora uma alta a partir de junho seja vista como mais provável por boa parte de bancos e consultorias. Se a criação de empregos seguir forte e os salários passarem a crescer a um ritmo mais firme, a tendência é que o Fed eleve as taxas no meio do ano.

A queda nos preços do petróleo e das cotações futuras da gasolina levaram a economista Laura Rosner, do BNP Paribas, a projetar variação zero para o CPI na média de 2015. É um número bem abaixo da alta de 1,6% esperada para 2014 - o resultado de dezembro será divulgado na sexta-feira. Segundo Laura, o CPI em 12 meses deve ficar em terreno negativo entre fevereiro e julho deste ano, voltando a subir a partir de agosto. Nos 12 meses até dezembro, o indicador deverá atingir 1,5%, estima ela.

A economista considera que os efeitos do choque dos preços de energia serão transitórios, com um repasse limitado para as cotações de outros bens e serviços, embora vá reavaliar essa premissa ao longo do tempo. Para o núcleo do CPI, que exclui a variação de energia e alimentos, Laura projeta uma elevação média de 1,9% neste ano.

O mergulho dos preços do petróleo fez o HSBC cortar de 0,5% para zero a média esperada para o CPI neste ano. "Os preços da gasolina caíram em linha com o petróleo, e mais recuos podem ocorrer nas próximas semanas", diz o banco, em relatório. Nos 12 meses até novembro, a gasolina caiu 10,5%. A projeção de variação zero se baseia na estimativa de que o barril do produto ficará entre US$ 50 e US$ 60 na maior parte do ano, segundo o HSBC.

Para o banco, parte da queda dos preços de energia será repassada para as cotações de outros bens e serviços. "Nós esperamos que o núcleo do CPI fique em apenas 1,6% na média deste ano", aponta o relatório. É um número inferior à projeção do BNP Paribas, de 1,9%, e abaixo do 1,8% projetado para a variação de 2014.

A economista Blerina Uruçi, do Barclays, vê o CPI em queda de 0,1% na média de 2015, um número inferior ao 0,2% projetado anteriormente. Segundo ela, a revisão na estimativa se deve inteiramente ao comportamento dos preços futuros do petróleo e da gasolina. Como Laura, ela acredita num repasse limitado do recuo dessas cotações para outros bens e serviços. Se os preços de energia provocam uma baixa de 1 ponto percentual do CPI "cheio", o núcleo do indicador tende a ficar 0,1 a 0,2 ponto menor, estima Blerina.

Na visão do HSBC, uma inflação tão baixa como essa tende a convencer o Fed a não mexer nos juros até setembro, enquanto Blerina e Laura ainda apostam numa alta das taxas a partir de junho. A elevação dos juros a partir de meados do ano leva em conta que o mercado de trabalho mais apertado e a queda do desemprego resultarão num crescimento mais forte dos salários, o que ainda não ocorreu.

Na sexta-feira, saíram os números do relatório de emprego de dezembro. Foram criados 252 mil postos de trabalho e o desemprego caiu de 5,8% para 5,6%, mas o rendimento médio por hora recuou 0,2% em relação ao novembro, registrando alta de apenas 1,7% em 12 meses, um ritmo ainda fraco. O crescimento modesto dos salários é mais um fator a não pressionar sobre os preços, indicando um cenário tranquilo para a inflação.

O HSBC observa que o índice de despesas de consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) deve subir apenas 0,4% na média de 2015, bem abaixo do 1,3% projetado para 2014. Trata-se do indicador que serve de referência para a meta de longo prazo do Fed para a inflação, de 2%. O banco diz que, se as suas projeções estiverem corretas, 2015 será o quarto ano seguido em que o PCE ficará abaixo do objetivo do banco central americano.