Grupo da Lava-Jato devia R$ 35 bi em 2013

 

Fernando Torres e Thais Carrança

 

Um grupo de oito empresas citados na Operação Lava-Jato e que estão proibidas de participar de licitações da Petrobras possuía uma dívida bruta somada de R$ 35,3 bilhões ao fim de 2013, conforme levantamento do Valor.

Desse total, R$ 9,55 bilhões eram em operações bancárias, incluindo repasses do BNDES, R$ 6,27 bilhões em notas promissórias e debêntures e R$ 19,56 bilhões em bônus e financiamentos de longo prazo no exterior.

Entraram no levantamento, feito com base em dados da ferramenta Valor Empresas, do Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, as dívidas de OAS, UTC Participações, Galvão Participações, Engevix, Mendes Júnior Trading e Engenharia e Iesa, além de Camargo Corrêa e Odebrecht, que tiveram tratamento específico. No caso da Camargo, que não divulga balanço consolidado do grupo, entraram na conta as dívidas da holding principal (CCSA) e da Camargo Corrêa Construção e Comércio. Na Odebrecht, foram consideradas as dívidas apenas da construtora (CNO) e da divisão de óleo e gás, que aluga embarcações para a Petrobras. Não foram encontrados dados de dívida da Queiroz Galvão, seja dos segmentos de engenharia e óleo e gás.

Na sexta-feira, a Fitch alertou que é elevado o risco de que outras construtoras brasileiras, além da OAS, deem calote nas suas dívidas nos próximos meses - ainda que para preservar liquidez - e que diversos rebaixamentos de notas de crédito devem ocorrer.

Para essas empresas, acessar linhas de crédito, receber pagamento por projetos concluídos e ter reconhecidos recebíveis relacionados a emendas contratuais têm se tornado cada vez mais difícil, avalia a agência, que colocou todas as empresas do setor no Brasil em revisão para possível rebaixamento em novembro.

No levantamento do Valor, a maior dívida é da Odebrecht, de R$ 20,41 bilhões, sendo R$ 9,73 bilhões da construtora e R$ 10,69 bilhões da unidade de óleo e gás. A maior parte da dívida da construtora se refere a uma emissão de R$ 7,36 bilhões em bônus no exterior, cujo próximo pagamento relevante se dará em 2025. O Valor apurou que a CNO, por ser geradora de caixa, entrou como garantidora de uma captação que teve os recursos destinados a outros negócios do grupo.

No caso da divisão de óleo e gás da Odebrecht, a maior dívida é um bônus no exterior, com valor de R$ 6,71 bilhões em dezembro de 2013. Outra fatia relevante, de R$ 2,3 bilhões, é identificada como financiamentos de longo prazo em moeda estrangeira. Conforme o Valor apurou, as embarcações são dadas em garantia para os financiamentos.

A OAS, que deixou de pagar parte de seus compromissos, tem a segunda maior dívida entre as empresas do levantamento, no valor de R$ 7,86 bilhões, sendo R$ 3,19 bilhões em títulos no exterior, R$ 2,65 bilhões em debêntures e R$ 2,02 bilhões em bancos locais.

Somadas as duas empresas da Camargo incluídas no levantamento, ela aparece na terceira posição, com dívida de R$ 2,09 bilhões em dezembro de 2013, sendo R$ 1,71 bilhão em debêntures.

Em seguida vem a Galvão Participações, que tinha dívida de R$ 1,92 bilhão, sendo R$ 1,31 bilhão em debêntures e promissórias. Outra que também tem debêntures é a UTC, no valor de R$ 613 milhões, que integram uma dívida total de R$ 1,21 bilhão.

A Engevix, a Iesa e a Mendes Júnior tinham apenas dívida bancária, de R$ 1,28 bilhão, R$ 359 milhões e R$ 246 milhões, respectivamente.

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Recuperação judicial é alternativa estudada para a OAS

Valor Econômico - 12/01/2015

Fábio Pupo

Em dificuldades financeiras decorrentes da Operação Lava-Jato, o grupo OAS começa a analisar diferentes medidas a serem tomadas em seu plano de reestruturação financeira. Nos bastidores, já está sendo estudada a possibilidade de a companhia ter de fazer um pedido de recuperação judicial.

Segundo pessoas ligadas à companhia, vários caminhos começam a ser analisados e a recuperação judicial é apenas um deles, embora não agrade aos administradores. Por enquanto, está sendo feito um diagnóstico da situação, para depois se pensar nas medidas reais a serem tomadas - como recuperação judicial, recuperação extrajudicial, venda de ativos e negociação de novas propostas com credores. Uma decisão sobre o que será posto em prática deve levar de 30 a 60 dias.

Diferentes ativos continuam sendo avaliados para possível venda, mas ainda não há nenhuma negociação concreta em curso. Está em análise para venda principalmente a fatia de 25% na Invepar (de concessões). Segundo pessoas ligadas à OAS, é "impossível" a companhia manter a participação. Os 25% valem R$ 2,7 bilhões (conforme avaliação presente no balanço da Petros, que tem a mesma participação). Neste momento, no entanto, a fatia está sendo avaliada informalmente por valores que vão de R$ 1,5 bilhão a R$ 3,5 bilhões.

Também estão sendo analisadas para venda as participações em arenas esportivas (estádios do Grêmio, Fonte Nova e Arena das Dunas), na OAS Soluções Ambientais (de saneamento) e em negócios de óleo e gás.

A OAS comunicou oficialmente, na semana passada, que, "em função das dificuldades de acesso ao mercado de crédito, está em discussões com seus credores de forma a possibilitar uma reestruturação financeira". A companhia também informou que "adotou a venda de determinados ativos para reforçar sua liquidez" e que contratou como assessor financeiro a G5 Evercore e como assessores legais o Mattos Filho e o White & Case LLP.

As informações sobre a venda de ativos da OAS foram antecipadas pelo Valor em 16 de dezembro. Além de enfrentar escassez de capital (com sua dívida superando em dez vezes o caixa), a empresa tem dificuldade para contratar mais crédito no mercado - temeroso com os efeitos da Operação Lava-Jato para a OAS.

Outros investigados pela operação também enfrentam dificuldades para obter crédito, como é o caso da Engevix. A empresa negocia sua fatia de 40,65% na Desenvix (de energia) com o grupo norueguês Statkraft por R$ 500 milhões. A expectativa dos envolvidos é que o negócio seja fechado nas próximas semanas.